Guerras, por quê?

Márcio Costa
30/07/2014
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No dia 12 de junho de 2014 três jovens israelenses foram sequestrados nas proximidades das colônias de Gush Etzion, localizadas entre as cidades palestinas de Belém e Hebron. Dezoito dias depois, os corpos foram encontrados com marcas de tiros, e com a suspeita de que os disparos teriam sido realizados ainda no dia em que os adolescentes desapareceram. Este recente episódio serviu de pavio para que se escrevesse mais uma página da secular guerra existente entre judeus e árabes, ou ainda, entre israelenses e palestinos.

 Voltando dois mil anos atrás, a história nos mostra o Império Romano forçando um êxodo de judeus da então Terra de Israel, a qual os romanos passaram a chamar de palestina. Esta saída imposta foi denominada pelos historiadores como diáspora. No século VII, os árabes invadem a palestina e passam a ser a maioria na região. Doze séculos depois, os judeus emigram da Europa retornando para os territórios palestinos, formando diversas comunidades judaicas. Devido à denominação anterior “Terra de Israel”, os mesmos passam a se denominar israelenses. Desta forma, começam as tensões entre os dois povos e os conflitos, iniciados no século XIX, percorrendo todo o século XX e adentrando o século XXI sem nenhuma solução pacífica definitiva até então.

Um dos pontos cruciais do atual conflito ocorreu no dia 24 de julho de 2014, quando uma escola da ONU, localizada em Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza, foi atingida por armamentos do exército israelense, matando 15 refugiados e ferindo muitos outros. As cenas que percorreram o mundo nas diversas mídias foram chocantes, contando com crianças enfermas sendo retiradas de ambulâncias em situação crítica.

O confronto ainda continua, com a intensificação das ações de Israel sobre a faixa de Gaza no dia 29 de julho. Segundo dados das agências de notícias, mais de mil pessoas morreram nos confrontos até agora.

Embora as câmeras voltem-se neste mês para os conflitos israelenses, dezenas de conflitos armados ocorrem ao redor do globo. Como por exemplo, na África temos a Guerra Civil da Somália, com um saldo de quase mil mortos só em 2014. Na América do Norte, o México luta na Guerra contra o narcotráfico. Na Ásia, ainda não se acalmaram totalmente as tensões entre as Coréias do Sul e do Norte. Enfim, não temos uma Guerra envolvendo todo o mundo, todavia, ainda temos um mundo envolvido em Guerras.

Mas, por que as guerras ainda persistem no século XXI onde a sociedade moderna já se encontra mais intelectualizada e tecnologicamente bem mais desenvolvida? Talvez não fosse o momento de extinguirmos de nosso planeta uma das chagas mais dolorosas da humanidade: a guerra?

Nesta abordagem não vamos considerar as questões político-sociais que envolvem os conflitos. Muito menos iremos analisar justificativas elaboradas por estrategistas renomados na história, tais como Sun Tzu ou Carl von Clausewitz. Apenas vamos nos ater à visão da Doutrina Espírita no que tange à guerra.

As guerras ainda ocorrem em nosso planeta devido às condições em que nos encontramos em nossa linha de evolução. Como espíritos encarnados em um mundo de expiações e provas, a prevalência da “natureza animal e o transbordamento das paixões” ainda impele o homem de lutar contra o mais fraco a fim de impor a sua força em seu próprio benefício.

A Providência Divina permite que tais conflitos ocorram porque eles contribuem para a liberdade e o progresso dos povos. Mesmo em situações em que uma nação é subjulgada, a guerra, na falta de um termo melhor, assume um caráter benéfico para o povo que por meio da expiação possa progredir mais depressa. Por outro lado, aquele que suscita a guerra acumula incontáveis débitos os quais levarão diversas existências para serem dirimidos, em face dos homicídios com os quais contribuiu.

Tais questões são abordadas por Allan Kardec nas perguntas de número 742 a 745 do capítulo que aborda a Lei de Destruição no Livro dos Espíritos.

Nações que se envolvem com estes conflitos acumulam débitos coletivos terríveis, conforme nos mostra o Espírito de André Luiz, na obra Nosso Lar, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. “Os países agressores convertem-se, naturalmente, em núcleos poderosos de centralização das forças do mal”. Com isso, os espíritos ali encarnados estabelecem um hífem de conexão com as camadas mais sombrias, envolvendo a todos em uma psicosfera de “perversidade e de horror”. Somente os espíritos mais elevados, encarnados nessas nações dominadoras para exercerem tarefas nobres, conseguem não se envolver na embriaguez da guerra.

No livro “A Caminho da Luz” Emmanuel nos cita o exemplo da cidade de Esparta, no auge da Grécia antiga. Seu povo ficou conhecido na história por serem soldados que espalhavam na antiguidade a destruição e os flagelos da guerra. Para a humanidade, nenhuma contribuição construtiva eles deixaram. Para eles mesmos, indubitavelmente acumularam uma grande soma de débitos para serem expiados em várias encarnações.

Vejamos agora o caso individual de um soldado que é compelido à guerra para defender seu país. Conforme respondem os espíritos em diversas passagens do Livro dos Espíritos, “a intenção é tudo, que o fato nada vale”. Logo, um homicídio não deixa de ser um “grande crime”, no entanto, muito mais será cobrado daquele que o fizer em uma situação de conflito com dolo do que aquele que o fizer em legítima defesa. Cada caso é um caso, mas o que sempre será observado será a intenção (perguntas de nº 746 a 748).

Por fim, ainda de acordo com o Livro dos Espíritos, a marcha do progresso é constituída pelo Progresso Intelectual e o Progresso Moral. Geralmente o Progresso Intelectual caminha à frente do Moral, permitindo ao homem entender o bem e o mal e fazer as suas escolhas (pergunta nº 780). Com este livre-arbítrio, o homem aumenta a responsabilidade de seus atos e passa a avançar ou não em seu Progresso Moral.

É notório que já não estamos mais no alvorecer de nossas encarnações. Em Obras Póstumas, no item “Aristocracias”, Allan Kardec nos mostra que a primeira aristocracia era a aristocracia patriarcal, aonde na Terra ainda Primitiva, os chefes das tribos selvagens conduziam as suas famílias. Mais tarde, divergências entre as povoações vizinhas deram lugar ao emprego da força bruta, às primeiras guerras. Isto foi a segunda aristocracia. Com os bens e a autoridade adquiridos em combates, o poder passou a ser passado de pai para filho, consolidando a autoridade do nascimento.

Neste ponto já estamos na Terra de Expiações e Provas, e com o surgimento de classes superiores e inferiores, o trabalho da segunda na busca de melhores condições de vida dá lugar à uma nova potência: o dinheiro. Para gerenciá-lo surge a nova aristocracia baseada na inteligência.

Chegamos ao final da idade média e no alvorecer do mundo moderno/contemporâneo intelectualizado. Mas como vimos anteriormente, o Progresso Intelectual não implica em Progresso Moral. Logo, ainda resta ao homem desenvolver-se pelos caminhos da justiça e da caridade. Este desenvolvimento abrirá as portas para a última aristocracia que será a Aristocracia Intelecto-Moral. Com ela teremos efetivamente o advento de uma nova era sem guerras e nem destruição.

Assim, guerras, por quê?  Pela nossa condição de seres humanos que ainda carregam no âmago o orgulho e o egoísmo (pergunta nº 785) e se tornam um obstáculo ao nosso Progresso Moral. Além disso, por meio delas somos impelidos a progredirmos (pergunta nº 744). A partir do momento que nos livrarmos destas chagas, estaremos prontos para nos dar as nossas mãos ao próximo.

Unidos pela paz, poderemos chegar a um Mundo de Regeneração.

Márcio Martins da Silva Costa

 

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