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De papo para o ar

setembro 25, 2014

richard-simonettiO turista visita uma colônia de pescadores.
Encontra vários deles a tomar sol, tranquilos, nas areias escaldantes.
– O que vocês fazem durante o dia?
– Nois descansemo.
– E vocês não cansam de descansar?
– Cansemo…
– E o que fazem quando cansam de descansar?
– Descansemo, ué!

A história exprime a velha tendência para a indolência, que costuma “infectar” pessoas não habituadas ao batente.
Esse “de papo para o ar” está arraigado no espírito humano.
O estudante vibra com as férias escolares.
O operário aguarda o fim de semana, o feriado, o descanso anual…
Realização suprema: a aposentadoria! A inatividade remunerada é considerada por muitos a ante-sala do paraíso. Garantido o sustento diário, sentem-se plenamente isentos de compromissos com horários e serviços.
Por paradoxal pareça, há pessoas que se empenham em múltiplas atividades, buscando alcançar, no menor prazo possível, uma situação financeira que lhes permita a felicidade de não fazer nada.
A própria teologia ortodoxa nos apresenta o Céu como região de contemplação. Nessas etéreas plagas, almas eleitas se desvanecem no mais absoluto repouso.
Num Universo dinâmico, onde tudo vibra em movimento de trabalho e progresso, desde o verme, que nas profundezas do solo o fertiliza, aos mundos que se equilibram no espaço, eis o Homem, o ser mais evoluído do planeta, a confundir a felicidade com o não fazer nada, a paz com a ausência de responsabilidade.
Daí a sua dificuldade em ser feliz.
Está fora dos ritmos do Universo.
Na questão 683, de O Livro dos Espíritos, indaga Allan Kardec:
Qual o limite do trabalho?
A resposta é surpreendente:
O das forças.
Antes que o leitor se disponha a denunciar os Espíritos ao Ministério do Trabalho, por induzirem à exploração do trabalhador, é bom lembrar que a resposta não significa que labutemos na atividade profissional até a exaustão.
Sugerem os mentores espirituais que devemos estar sempre ativos, evitando ceder espaço em nossa mente a influências deletérias e ideias infelizes, que se instalam quando nos entregamos à inércia, campo propício aos miasmas da perturbação.
Diz o velho ditado:
Mente vazia é forja do demônio.
Devemos trabalhar até o limite das forças, não no sentido material, envolvendo o ganha-pão diário. Essa atividade tende a reduzir-se na medida em que avançam os recursos tecnológicos.
No início da revolução industrial, no século XIX era comum a jornada de trabalho de doze a quatorze horas, sete dias por semana. Hoje, em países desenvolvidos, pode ser de seis horas, com descanso semanal de dois dias.
Além das horas despendidas com a atividade profissional, das necessárias ao repouso noturno, aos cuidados de higiene, à alimentação, ao atendimento da família, não podemos perder de vista, se desejamos um legítimo aproveitamento das oportunidades de edificação da jornada humana, aquelas que devemos usar, diariamente, em dois tipos de trabalho que devem completar a labuta diária:
Eternidade. Somos imortais. Vivíamos, antes do berço. Viveremos, depois do túmulo. Imperioso que privilegiemos a atividades que nos permitam adquirir aqueles valores perenes que as traças não roem nem os ladrões roubam, como ensina Jesus, representados pela virtude, o conhecimento, a cultura, com o desenvolvimento de nossas potencialidades criadoras.
Universalidade. Oportuno identificar e combater o mal maior, no estágio de evolução em que nos encontramos – o egoísmo. É por estamos muito preocupados com nosso próprio bem estar que nos complicamos nos caminhos da vida. O trabalho em favor do próximo nos ajuda a vencer o egoísmo, dando-nos a estabilidade necessária para que possamos viver em paz.
Dizia Jesus (João, 5:17):
Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
Portanto, leitor amigo, considere:
O descansemo pode ser muito atraente, mas não é compatível com os padrões divinos.
Melhor mesmo é o trabalhemo.

Richard Simonetti

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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