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Considerações sobre o suicídio

março 2, 2015

sylvinha-gonçalvesComo Espíritas, sabemos que a vida continua, pois o Espírito é imortal:
 “O Além-túmulo acha-se longe de ser a abstração que na Terra se supõe (…) Ele é, antes, simplesmente a Vida Real (…) Vida intensa a se desdobrar em modalidades infinitas de expressão, sabiamente dividida em continentes e falanges como a Terra o é em nações e raças; dispondo de organizações sociais e educativas modelares, a servirem de padrão para o progresso da Humanidade (…)” (p. 18)¹

“(…) A morte nada mais é do que a verdadeira forma de existir!…” (p. 19)¹

Ao despertarmos na Pátria Espiritual, nosso lar de origem, continuaremos com a nossa individualidade, exatamente como somos:

“(…) atos incorretos praticados durante a encarnação, nossos erros, nossas quedas pecaminosas, nossos crimes mesmo, corporificavam-se à frente de nossas consciências como outras visões acusadoras (…) as vítimas do nosso egoísmo reapareciam agora.” (p. 26)¹

Logo, aos que creem que tudo estará perdido com a morte física, surpresas os esperam – boas ou más, de acordo com o que fizeram na existência pretérita.

“- Eu julgava, sinceramente, que o túmulo absorveria minha personalidade, transmudando-a na essência que se perderá nos abismos da Natureza – seria o Nada!” (p. 69)

“(…)vejo-me, a mim próprio! Como à frente de um espelho, morto, estirado num ataúde, em franco estado de decomposição, no fundo de uma sepultura, justamente aquela sobre a qual acabava de tropeçar!” (p. 37)¹

“Sentia-me, pois, ainda cego; e, para cúmulo do meu estado de desorientação, encontrava-me ferido. Tão-somente ferido e não morto! Porque a vida continuava em mim como antes do suicídio!” (p. 33)¹

No mundo dos Espíritos, adquiriremos novos conhecimentos e nos prepararemos para uma próxima encarnação:

“Um Espírito volta várias vezes a tomar novo corpo carnal sobre a Terra, nasce várias vezes a fim de tornar a conviver nas sociedades terrenas, como Homem, exatamente como este é levado a trocar de roupa muitas vezes.” (p. 132, 4)¹

Aquele que sucumbiu, por ignorância de seu papel enquanto encarnado e acometido por extremo desespero, acordará do outro lado e verá que o seu sofrimento está apenas por começar. Ao aniquilar o corpo físico, acreditou que seria liberto de todas as suas aflições, mas sentirá o peso de seu ato tresloucado, experimentando dores intensas, ainda maiores das quais o levaram ao suicídio.

Deus não pune ninguém – apenas colhemos e colheremos os frutos das nossas ações. Aquele que abrevia a vida, vai, pois, contra a Lei Divina, já que somente Deus pode abreviar ou tirar a nossa existência. Então, este Espírito precisará se arrepender, lutar contra as suas paixões inferiores, até que um raio de luz penetre o seu coração e possa, assim, ser resgatado, do Vale dos Suicidas, pela Legião dos Servos de Maria¹ (p. 28) e tratado em algum hospital, para somente depois reencarnar, o que, geralmente, não leva muito tempo:

“Na Espiritualidade raramente o suicida permanecerá durante muito tempo. Descerá à reencarnação prestamente, tal seja o acervo das danosas consequências acarretadas; ou adiará o compromisso daquela inalienável necessidade caso as circunstâncias atenuantes forneçam capacidade para o ingresso em cursos de aprendizado edificante, que facilitarão as pelejas futuras a prol de sua mesma reabilitação.” (p. 133, 8)¹

“O suicida é como que um clandestino da Espiritualidade. As leis que regulam a harmonia do mundo invisível são contrariadas com sua presença em seus paramos antes da época determinada e legal; e tolerados são e amparados e convenientemente encaminhados porque a excelência das mesmas, derramada no seio amoroso do Pai Altíssimo, estabeleceu que a todos os pecadores sejam incessantemente renovadas as oportunidades de corrigenda e reabilitação!” (p. 133, 9)¹

A reencarnação dos suicidas é igualmente dolorosa. Precisarão expiar as suas faltas e este resgate se dará em condições muito penosas, até que este Espírito cumpra os anos que ele mesmo pôs fim:

“O Espírito de um suicida voltará a novo corpo terreno em condições muito penosas de sofrimento, agravadas pelas resultantes do grande desequilíbrio que o desesperado gesto provocou no seu corpo astral, isto é, no perispírito.” (p. 132, 5)¹

“Renascendo em novo corpo carnal, remontará o suicida à programação de trabalhos e prélios diversos aos quais imaginou erradamente poder escapar pelos atalhos do suicídio; experimentará novamente tarefas, provações semelhantes ou absolutamente idênticas às que pretendera arredar (…)” (p. 133, 10)¹

Não nos deteremos no ponto acima, mas nos focaremos em algumas situações destes irmãos antes do reencarne.

Na obra “Memórias de um Suicida”, da autoria de Yvonne A. Pereira, são narradas circunstâncias quase inimagináveis. Podemos acompanhar também, narrativas dos próprios Espíritos, em “O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.

Vejamos alguns trechos marcantes do “Memórias de um Suicida”:

 “(…) nosso corpo enfim, que se sumia para sempre no banquete asqueroso de milhões de vermes vorazes, nossos corpo, que era carcomido lentamente, sob nossas vistas estupefatas!… que morria, era bem verdade, enquanto nós, seus donos, nosso Ego sensível, pensante, inteligente, desapontado e pávido, desafiando a possibilidade de também morrer!” (cap. 24)¹

“Vivíamos na plenitude da região das sombras!… E Espíritos de ínfima classe do Invisível – obsessores que pululam por todas as camadas inferiores, tanto da Terra, como do Além; os mesmos que haviam alimentado em nossas mentes as sugestões para o suicídio, divertindo-se com nossas angústias, prevaleciam-se da situação anormal para a qual resvaláramos, a fim de convencer-nos de que eram juízes que nos deveriam julgar e castigar (…) Submetiam-nos a vexames indescritíveis! Obrigavam-nos a torpezas e deboches, violentando-nos a compactuar de suas infames obscenidades!(…)” (p. 25)¹

“(…) Tais entidades não passavam de Espíritos que também foram homens, mas que viveram no crime – sensuais, alcoólatras, devassos, intrigantes, hipócritas, perjuros, traidores, sedutores, assassinos perversos, caluniadores, sátiros (…)” (p. 25)¹

“(…) Uma falange de réprobos do suicídio aprisionada no meio ambiente cabível ao seu crítico e melindroso estado (…) ostentando, cada um, o ferrete infame do gênero de morte escolhido no intento de ludibriar a Lei Divina (p. 25)¹

(…) Eu via, por aqui, por ali, estes traduzindo, de quando em quando, em cacoetes nervosos, as ânsias do enforcamento (…) Aqueles, indo e vindo como loucos, em correrias espantosas, bradando por socorro em gritos estentóricos, julgando-se, de momento a momento, envolvidos em chamas (…) (p. 25)¹

Eis que apareciam outros ainda: o peito ou o ouvido, ou a garganta banhados em sangue (…) Tais infelizes, além das múltiplas modalidades de penúrias por que se viam atacados, deixavam-se estar preocupados sempre, a tentarem estancar aquele sangue jorrante, ora com as mãos, ora com as vestes ou outra qualquer coisa que supunham ao alcance, sem no entanto jamais o conseguirem, pois tratava-se de um deplorável estado mental, que os incomodava e impressionava até o desespero!” (p. 45)¹

“(…)E ainda estouros sufocando-se na bárbara asfixia do afogamento.” (p. 45)¹

“(…) Meia dúzia de desgraçados que haviam procurado o “olvido eterno”, atirando-se sob as rodas de um trem de ferro. Trazendo os perispíritos desfigurados, dir-se-iam a armadura de monstruosa aberração, as vestes em farrapos esvoaçantes, cobertos de cicatrizes sanguinolentas, retalhadas, confusas, num emaranhado de golpes e sobre golpes (…) esses desgraçados uivavam em lamentações tão dramáticas e impressionantes, que imediatamente contagiavam com suas influenciações dolorosas.” (p. 46)¹

“(…) Homens e mulheres transitavam desesperados: uns ensanguentados, outros estorcendo-se no suplício das dores pelo envenenamento, e, o que era pior, deixando à mostra o reflexo das entranhas carnais corroídas pelo tóxico ingerido, enquanto outros mais, incendiados, a gritarem por socorro em correrias insensatas, traziam pânico ainda maior entre os companheiros de desgraça, os quais receavam queimar-se ao seu contato, todos possuídos de loucura coletiva! E coroando a profundeza e intensidade desses inimagináveis martírios – as penas morais… e as penas físico-materiais.” (p. 48)¹

Como pudemos observar, o gênero de morte é reproduzido no além-túmulo. No caso dos trechos supracitados, “o que leva o suicida a sentir-se um “morto-vivo”” (p. 49)¹

Sigamos o conselho de Jesus, meus irmãos, que nos diz: vigiai e orai, para não cairdes em tentação². Oremos por nós e uns pelos outros, colocando em prática a caridade moral. Oremos, principalmente, aos doentes do corpo e aos enfermos do plano espiritual, pois as nossas preces são fundamentais para que encontrem alívio e luz na caminhada.

No final de O Evangelho Segundo o Espiritismo, na coletânea de preces, há a prece por um suicida.³ A façamos, com fervor e carinho, por todos os que não suportaram com resignação e coragem as adversidades da vida.

Segundo um amigo espiritual:

“Quanto mais lágrimas enxugarmos, mais as vossas serão enxugadas.”

Sylvinha Gonçalves

REFERÊNCIAS:
1) Pereira, Yvonne A. Memórias de um Suicida. 25. ed. – Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira.
(2) Mateus, 26:41 (2)
(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo por Claudio Damasceno Ferreira Junior. – Porto Alegre: Besouro Box, 5. ed. 2012, capítulo 28, itens 71-72. (3)

NOTA DO EDITOR:
Imagem em destaque disponível em <http://olharalemdajanela.blogspot.com.br/2010/11/o-umbral.html>. Acesso em: 01MAR2015.

Sylvinha Gonçalves
Sylvinha Gonçalves

Bacharel em Antropologia pela PUC-Goiás, Professora de Educação Especial e Inclusiva e Psicopedagoga pelo Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP). Escritora, estudiosa e pesquisadora Espírita. Trabalhadora do GEAL - Grupo Espírita André Luiz de São José do Rio Preto - SP.

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