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O boneco

março 26, 2015

richard-simonetti-menorOsório, sua esposa Selma e o filho Tiago almoçam, tranquilos, quando ouvem gritos. É Car­mem, a filha mais nova, nos fundos da casa. Aco­dem rápido!

– Vejam que horrível! – mostra a jovem, as­sustada.

Num canto do quintal, perto da piscina, o objeto de tamanho alarido: um boneco de pano, muito estranho, com várias costuras no ventre e na boca, manchas de sangue no tecido surrado, espe­tado por várias agulhas…

– Não toquem! Cuidado! É um despacho! – adverte Felismina, a serviçal doméstica.

– Não fazemos mal a ninguém! – reclama a dona da casa.

E dirigindo-se ao marido:

– Certamente é arte daquela sirigaita que trabalha em sua repartição! Ela não esconde que o considera um ótimo partido. Seria um viúvo dispu­tado! Valha-me, Jesus amado! Sinto falta de ar!… É para mim essa encomenda das trevas!…

– Ora, querida – responde o esposo, conci­liador –, não julgue assim a pobre Anita. Conheço-a bem. Seria incapaz de semelhante maldade! Sus­peito antes do Costinha e sua mulher. São invejo­sos!… Provavelmente estão pretendendo amarrar nossa prosperidade! É preciso fazer algo rápido pa­ra neutralizar essa nefasta influência, porquanto também fui atingido… Ah! Minha enxaqueca!… Pa­rece que martelam meus miolos!…

– Coisa boa não é! – acrescenta, perturbado, Tiago – As agulhas parecem enterradas em meu próprio corpo. Dói tudo!  O despacho é para mim! Quando me apaixonei pela Margarida e rompi o noivado com Júlia, ela jurou que eu pagaria pela desfeita. A família dela mexe com saravá!

– Você, que entende dessas coisas, o que nos diz, Felismina?

A serviçal responde, enfática:

– Não sei quem fez, mas é para prejudicar a família toda. Com a confusão que mora nesta casa, não tenho dúvida de que há males encomenda­dos!…

O grupo assusta-se mais! O medo cresce fermentado pela dúvida! O desajuste encontra portas abertas! Todos tensos e angustiados! Selma está na iminência de um colapso nervoso!…

Batem à porta. É o vizinho que, levado ao quintal, vai dizendo:

– Bom dia! Desculpem importuná-los. Queria pedir licença para levar o boneco de meu filho. O irmão o jogou neste quintal. O garoto está em pran­tos. Seu sonho é ser médico-cirurgião. O fantoche é seu paciente. Já o operou muitas vezes. Não tem mais onde costurar… Até sangue inventou, usando molho de tomate. E pratica acupuntura, es­petando-o com agulhas…

O despacho é devolvido. O visitante retira-se. Olham-se todos, atônitos! Descontraem-se. O riso solto saúda abençoado alívio. Osório comenta, bem humorado:

– Felizmente o vizinho chegou a tempo! Se demorasse um pouco, poderíamos morrer de sus­to!…

* * *

Ignorância, crendice e superstição são gri­lhões terríveis que semeiam perturbação.

Tudo será diferente quando compreender­mos que nenhum mal tem acesso ao nosso univer­so íntimo sem transitar pelas vias da aceitação.

Por isso, a melhor defesa exprime-se no empenho por compreendermos melhor a existência humana com os valores do estudo e da meditação, aprendendo sempre.

Era isso que Jesus ensinava ao proclamar: Conhecereis a Verdade e a Verdade vos fará li­vres.

Richard Simonetti

 

 

Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em <http://casamento.culturamix.com/vida-a-dois/relacionamento/os-maiores-medos-dos-homens>. Acesso em: 26MAR2015.

 

 

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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