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Liberdade ainda que tardia

abril 12, 2015

jane-maiolo-300x318 “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança, desde que me tornei homem, eliminei as coisas de crianças” [1]

A Páscoa é uma tradição religiosa cujas raízes têm suas origens no Judaísmo, sendo, posteriormente, absorvida pelo Cristianismo, sofrendo ao longo das eras, profundas adulterações, mormente nos tempos modernos.

Onde existia um clima de reverência ao sagrado e ao espiritual fora introduzida a imagem de um coelhinho branquinho que nos distraia com seus ovinhos coloridos, trazendo-nos a doçura do chocolate e afastando-nos, em definitivo, do verdadeiro sentido da celebração primordial.

A Páscoa é uma comemoração do povo judeu, lembrando a libertação do cativeiro a que foram submetidos por 400 anos pelos egípcios, ou seja, é uma celebração de reconhecimento e gratidão a Deus pela libertação do cativeiro.

Sem dúvida a celebração da Páscoa faz parte de todo um universo religioso, principalmente, se considerarmos sua origem, seus significados e a experiência vivenciada numa determinada época pelo povo judeu. A religiosidade que marcou aquele período da história ficou indelevelmente registrada no psiquismo de toda cultura judaica, rica de símbolos e metáforas a fim de se conservar a essência espiritual do acontecimento.

Páscoa mais que celebração pela libertação significa Vida, ou seja, chance de recomeçar a viver livremente sem prender-se a estreiteza dos sentimentos, daí toda a recomendação de se adotar por uma semana como componente da casa, um cordeiro, e se afeiçoar a ele, pois esse cordeiro seria sacrificado para “salvar” o grupo doméstico, e essa experiência teria que ser uma experiência de dor, de perda e de desilusão que seriam caminhos de libertação dos sentimentos. [2]

Com a vinda do próprio Mestre ao planeta, Ele aceita o título de Cordeiro de Deus, como propagou o Batista: E, vendo passar Jesus, disse: “Eis aqui o Cordeiro de Deus”. [3] E convive não apenas uma semana, porém por três anos, afeiçoando-se aos discípulos, tendo compaixão da multidão sofrida, alterando o rumo das existências dos cegos que passaram a enxergar, dos mancos que passaram a caminhar, dos leprosos que se tornaram limpos, dos surdos que passaram a ouvir, dos mortos que venceram os túmulos, e dos pobres que foram enriquecidos pelas luzes da Boa Nova.

Transcorridos os três anos de ministério junto do povo padecente, o Cordeiro anuncia a despedida, pois a Páscoa se aproximava e Ele seria imolado a benefício de todos. Ele retornaria para as culminâncias divinas e os discípulos experimentariam uma dor superlativa, pois se afeiçoaram de tal forma a Ele que, a notícia da ausência física do Mestre, provocar-lhes-ia dores inenarráveis.

Os laços afetivos se tornaram tão intensos que Jesus já não mais o chamavam de servos, mais sim, amigos. Jesus os amou de tal forma que não importavam seus defeitos, suas defecções, suas fragilidades ou suas pusilanimidades. Era o Amor amando sem exigir, porém, era o Amor ensinando aos amados a passarem por períodos de testemunhos cruciais. Era o Cordeiro ensinando que a Páscoa era o símbolo da libertação da escravidão da matéria. Era preciso transcender e compreender a dimensão espiritual dessa data. Era preciso ser “adulto” e agir como “adulto” e não mais como “crianças” espirituais.

O Espiritismo, na condição de Cristianismo redivivo, tendo por princípio a libertação do jugo da matéria e a reforma íntima pela conscientização que o Evangelho proporciona, não possui compromisso com as tradições da Páscoa mundana ou qualquer outra tradição. O compromisso do Espiritismo é reviver os princípios amorosos e restauradores que Jesus nos ensinou e despertar em nós o sentimento de gratidão à liberdade e à vida.

Infelizmente, temos nos afastado das verdades imortais e dos exemplos de liberdade e de renovação, escravizando-nos na ilusão da matéria, trocando o real pelo doce, prazeroso e ilusório. A Páscoa é momento de reflexão.

Ouçamos nos recessos da consciência o recado de Paulo quando narra: “Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados.” [4] É sempre tempo de refletir e mudar os rumos da nossa existência.

Jane Maiolo

Referências Bibliográficas:
[1] Cor 13:11;
[2] Êxodo 12:1;
[3] João 1:36;
[4] Cor 4:1.

Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em <http://santuariodefatima.org.br/celebracao-do-triduo-pascal.html>. Acesso em: 12ABR2015.

Jane Maiolo
Jane Maiolo

Professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Espírita Brasil. Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita.

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