
A palavra de Deus
Não penseis que Eu vim destruir a Lei ou os profetas; não os vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade Eu vos digo que, enquanto o Céu e a Terra não passarem, nem um só jota, nem um só til da Lei passarão, sem que tudo se cumpra. (Mateus, 5:17 e 18.)
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, os cinco primeiros livros sagrados do Judaísmo, atribuídos a Moisés, compõem a Lei. O termo “profetas” designa os demais. Juntos dão origem ao Velho Testamento, atual primeira parte da Bíblia.
Quando Jesus afirma que não veio destruí-los, está sendo coerente, pois seria um contrassenso Ele, que viera ao mundo com uma revelação divina, parcela da Verdade desdobrada aos homens, revogar o que fora anteriormente revelado. A Verdade é imutável — partes dela mostradas aos homens completam-se, sem jamais se contraporem.
Todavia, poder-se-ia dizer que há uma contradição em suas afirmativas, porquanto, no próprio Sermão da Montanha, Ele alteraria substancialmente muitos conceitos antigos.
É que estes, somente em essência, exprimem orientação divina. Tudo o mais é apenas o relato das experiências e tradições do povo judeu, altamente belicoso e materialista, contido por severas disciplinas que atendiam aos interesses da época, mas estavam longe de exprimir a vontade do Criador.
Há passagens incríveis em suas páginas, a começar pela fantasiosa criação do mundo, no livro Gênesis, que nos fala de um homem feito de barro, uma mulher tirada de sua costela, uma serpente que fala e um pecado original, que é muito mais um original pecado — servir-se do fruto da árvore da ciência do Bem e do Mal, o que fora proibido por Jeová — porquanto, como pode alguém incorrer em desobediência sem ter noção do que é certo ou errado?
Nós, que não temos nada a ver com as peraltices de Adão e Eva, sofremos ainda hoje as consequências de seu ato. Segundo o relato bíblico, vivenciamos doenças, sofrimentos, limitações e a própria morte, apenas porque eles não se mantiveram ignorantes.
A legislação mosaica tem orientações não menos aberrantes, como a determinação de que o cunhado se case com a viúva de seu irmão; a pena de morte para quem desrespeita os pais ou não observa o descanso do sábado, e a amputação do braço como castigo para o crime do furto.
Quanto aos profetas, situados como indivíduos divinamente inspirados, comportavam-se, não raro, de forma nada exemplar…
Eliseu, a caminho de Betel, encontra um bando de crianças que, em infantil folia, o chamam de careca. Tomado de irritação ele evoca sobre elas a cólera divina. Logo após, duas ursas saem de um bosque próximo e dilaceram 42 crianças…
Salomão, proclamado sábio dos sábios, iniciou seu reinado mandando eliminar seu irmão Adonias. Consta que castigava impiedosamente seus adversários e que tinha setecentas mulheres e trezentas concubinas.
Ezequiel, supostamente inspirado por Deus, fez-se amarrar, comeu um pergaminho e deitou-se 390 dias sobre o lado direito, mais quarenta sobre o esquerdo; depois se banqueteou comendo bolos assados sobre excrementos humanos…
Aterradoras são as determinações de Jeová em relação a outros povos. Josué conquistou várias cidades e, seguindo literalmente a recomendação divina, não deixou com vida nada que tivesse fôlego, fossem homens, mulheres, crianças, pássaros, aves ou animais. Sob “inspiração divina” os judeus passaram pela História de espada na mão…
E há quem afirme ser a Bíblia a palavra de Deus!
Por isso, quando Jesus proclama que não veio destruir a Lei e os profetas, refere-se ao que, no Velho Testamento, pode ser considerado de inspiração divina, e que se reduz a algumas orientações obtidas por seus homens santos nos momentos de comunhão autêntica com a Espiritualidade maior.
Em essência, temos na tábua dos Dez Mandamentos, recebida por Moisés no monte Sinai, a revelação autenticamente divina, definindo o que o homem não deve fazer. Nela estão os fundamentos da justiça humana, estabelecendo que nossos direitos terminam quando começam os direitos alheios, e que só nos é lícito fazer o que não implique prejuízo para nosso semelhante.
Richard Simonetti
Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em <http://marcosnogueira-2.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html>. Acesso em: 14MAI2015.
Veja também
Ver mais
O que é o mal?
