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Acendendo velas

maio 22, 2015

marcio_costa_150x150Já contavam três anos que o seu Arlindo havia desencarnado. O tempo passava rápido, mas não para a viúva, dona Armênia, que não se conformava com a saudade que apertava cada vez mais. Devota praticante de valores religiosos herdados dos pais, procurava amenizar sua dor acendendo com frequência uma vela em favor do falecido. Para ela, aquela fonte de luz e calor bem próxima de suas mãos era como um bálsamo que lhe acolhia em todos os momentos de angústia. Acendia vela para o falecido, para o filho quando viajava para longe, para a neta nos dias de provas, enfim, preocupação era sinônimo de uma vela acesa na cozinha.

Mas não havia vela que a confortasse da ausência do esposo. Logo começou a sentir um aperto no coração e uma sensação angustiante. Ficou preocupada, procurou seus médicos, fez exames e não tinha nada. Estava tudo bem fisicamente. Pouco tempo depois passou a acordar no meio da noite sentindo a presença do marido. Por vezes acreditava vê-lo na cozinha enquanto preparava o almoço. A solução foi acender mais velas, mas o incômodo só aumentava.

Não aguentando mais guardar para si, resolveu dividir sua angústia com sua amiga, dona Felícia, que sempre vinha fazer tricô com ela no final da tarde. Confidenciando o misto de saudade e medo, contou tudo para ela, pois sabia que a amiga acreditava em “espíritos”. Depois de ouvir a história, atentamente, dona Felícia não hesitou e sugeriu que Armênia fosse visitar a Casa Espírita a qual costuma frequentar todo sábado.

Dito e feito, no sábado seguinte dona Armênia estava recebendo o atendimento fraterno no Centro. A mesma foi orientada a se acalmar e a fazer uso da prece sincera a Deus. Voltou para casa mais confiante, porém um pouco decepcionada. No seu íntimo ela achava que de alguma forma receberia notícias do marido naquela visita.

Na semana seguinte, suas preces se aliaram às luzes das velas. Orava com todas as suas forças: – “Arlindo, Arlindo, que saudade…! Meu Deus, meu Deus, não aguento ficar sem o Arlindo. Que saudade dele! Dai–me forças, meu Deus! Ajude-me a passar por isso! Arlindo, a casa está vazia… Arlindo!” – E depois da prece dormia no tormento dos pesados sonhos.

Um mês depois foi chamada no Centro pela sua amiga Felícia. Uma inesperada comunicação supostamente atribuída ao seu marido havia sido recebida por um médium da Casa. Na carta, Arlindo contava detalhes de sua vida pessoal com a dona Armênia, coisas que só eles sabiam. Era mesmo o Arlindo! Chegando ao Centro, o médium terminou de ler as frases finais da carta:

– “Armênia, eu amo você e nossa família, mas deixa eu ir…Minha missão já foi cumprida e eu preciso continuar. Com muita saudade. Mas deixa eu ir, deixa eu ir…”

Dona Armênia começou a chorar e não se conformava com as palavras do marido. Não queria prendê-lo, somente proteger e estar com ele. Orientada pelo médium, percebeu que suas preces, ao invés de motivá-lo, estavam envolvendo-o cada vez mais em laços fluídicos que não o deixava perceber os planos para os quais deveria enveredar-se. Em vez de sentir o amor e o carinho da família, Arlindo inquietava-se continuamente com o sofrimento da esposa. E sem saber o que fazer, a todo instante desejava voltar ao lar.

Continuou o médium:

– “Dona Armênia, é necessário que suas palavras em prece possam envolver o seu marido no amor verdadeiro que existe entre vocês aliado ao sentimento de motivação e continuidade. Não há como mudar os desígnios de Deus, mas podemos aliviar a nossa dor acreditando que a Providência Divina sempre estará confortando a ambos. Recorra à espiritualidade sublime de luz para que lhes esclareça, console e envolva vocês na esperança de que no amanhã poderão estar juntos novamente.”.

– “E as velas que eu acendia? Não valeram de nada? Posso continuar acendendo elas?” – retrucou dona Armênia.

– “Toda boa intenção é considerada. Mas o que vale é o pensamento e a vontade. Não há problemas em acender as suas velas, desde que não se esqueça da prece ardente e sincera em benefício de vocês dois. Se assim for, bons Espíritos estarão ao lado de vocês sugerindo bons pensamentos e dando-lhes as forças que necessitam.”.

– “Muito obrigada!” – exclamou enxugando as lágrimas.

– “Dona Armênia, apenas uma sugestão, se me permitir, procure acalmar as suas angústias sempre com a prece. Isto é importante para todos nós. Não temos relatos de que se vendam velas nas colônias espirituais!”.

Márcio Martins da Silva Costa

Referência:
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Cap. II, perguntas de 658 à 666. FEB, 2013.

Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em
<http://centroespiritasaojoaobatistaiguaba.blogspot.com.br/2013/03/o-que-acende-vela.html#.VV1ToLlViko>. Acesso em: 21MAI2015.

Márcio Costa
Márcio Costa

Membro do Conselho Editorial da Agenda Espírita Brasil, atua na divulgação da Doutrina Espírita escrevendo textos e realizando palestras.

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