
O susto
O marido dormia, tranquilo, no quarto. Na sala, Zélia, insone, divagava… No coração, uma saudade imensa; no cérebro, uma lembrança indelével: a irmã, que falecera há exatamente um ano.
Duquinha fora uma personalidade marcante, inesquecível. Bonachona, sorridente, conservava sinal aberto no trânsito da comunicação. Adorava conversar, cultivar amizades. A seu lado não havia espaço para mágoas.
– Tristeza – dizia – é lâmpada desligada no coração. A gente fica sem luz e calor. Tudo escuro e frio!…
Enfrentava problemas, como toda gente, mas, virtude rara, sabia rir das próprias mágoas, cerrando a porta aos sentimentos negativos e perturbadores.
Se fofocavam, sugerindo que o esposo parecia não levar a sério a fidelidade conjugal, explicava:
– Pois é, comadre – assim chamava Zélia desde que fora madrinha de casamento de seu filho –, o Olinto tem tanto amor por mim que transborda, derramando-se em outras “searas”…
Se surgiam dificuldades financeiras:
– Comadre, descobri um regime infalível. Desta vez, afino a cintura: jejuo três vezes por semana!
Se os filhos perturbavam:
– Comadre, as crianças me santificam. Treino paciência o dia inteiro!
Nem mesmo quando acometida de progressiva insuficiência cardíaca, que provocou seu falecimento, deu-se por vencida:
– Comadre, estou em tratamento de beleza espiritual. O corpo está um trapo, mas a alma ficará “joia”!
– Ah! Duquinha! – suspirou Zélia. – Adoraria vê-la agora. Deve estar uma “miss”, merecidamente. Pouca gente valorizou tanto a existência e enfrentou tão estoicamente o sofrimento.
Despertando de suas divagações, percebeu, em sobressalto, um vulto que se aproximava, vindo da cozinha.
– Meu Deus, um ladrão!
Pensou em chamar o marido. Conteve-se. Certamente o intruso estava armado. Poderia reagir com violência…
Esforçando-se inutilmente por conservar a calma, fitou-o, aguardando o tradicional “é um assalto”, mas o que viu fez gelar o sangue em suas veias: ele parecia deslizar acima do chão!
Os cabelos eriçaram-se. Seu coração queria pular do peito! Não se tratava de um ladrão! Muito pior: era… um FANTASMA!…
– Não se assuste, comadre. Sou eu, a Duquinha, em carne e osso, ou melhor, em fluido. Vivinha! E olhe como estou linda!
Zélia não estava para conversa. Apavorada, desejava gritar por socorro, a plenos pulmões, fugir em desabalada carreira… No entanto, sentia-se petrificada, a suplicar por dentro:
– Valei-me Jesus! Meu anjo de guarda, protegei-me! Socorrei-me, Virgem Maria!…
– Não seja boba, comadre! Não gosta mais de mim, só porque estou vestida de fumaça?!
Prestes a desmaiar, afogando-se no próprio medo, Zélia implorou em pensamento:
– Eu a amo muito, Duquinha. Adoro você! Mas, pelo amor de Deus, comadre, vá embora. Só apareça em sonho! Morro de pavor!
Diante de seus olhos esbugalhados, a aparição diluiu-se na penumbra, sorrindo sempre. Em breves momentos, extenuada e trêmula, Zélia viu-se novamente sozinha na sala.
* * *
O Amor é a ponte sublime que liga a Terra e o Céu.
Nossos amados nos visitam frequentemente, velam por nós, preocupam-se com nosso bem estar.
No entanto, há muitas barreiras dificultando um contato mais estreito. Uma delas é a ignorância, que nos induz a associar a presença dos Espíritos a supostos horrores sobrenaturais.
A Doutrina Espírita desenvolve abençoado trabalho de esclarecimento nesse sentido, habilitando-nos a contatos mais proveitosos com a Espiritualidade, sem a barreira do medo.
Richard Simonetti
Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em <http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-113806/>. Acesso em: 20AGO2015.
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