Uma carta do além

Márcio Costa
04/09/2015
2643 visualizações

marcio_costa_150x150Filomena contava pouco mais de quarenta anos, mas a sua situação de saúde já não era das melhores. Acometida pelo Mal de Parkinson, doença que gradativamente acomete os movimentos, quase não conseguia mais caminhar e se expressar com a alegria que lhe era conhecida na juventude.

Seu dedicado esposo Florêncio fazia de tudo o que podia para que ela pudesse estar bem. Preocupava-se com o seu asseio pessoal, preparava-lhe as refeições, passeava com ela na praça no final de tarde, dentre tantos outros cuidados. De nada reclamava, mas não conseguia aceitar a situação em que ela se encontrava. Algumas vezes achava que estava tudo perdido, porém no seu íntimo jazia uma pequena esperança de que um dia a amada esposa viria a se recuperar.

Os anos passaram vagarosos diante da pressa da doença. Em pouco tempo Filomena já se locomovia com muita dificuldade e quase não conseguia falar ou esboçar o doce sorriso que sempre tivera nos lábios. Florêncio não se continha e, por vezes, trocava as lágrimas por pequenas doses de “trago” na inútil tentativa de amenizar a situação.

Outro dia, voltando do mercado, Florêncio encontrou-se casualmente com o Sr. Danilo, um vizinho amigo que frequentava um Centro Espírita em uma das ruas próximas à sua casa. Sensibilizado com o evidente cansaço do amigo, o Sr. Danilo trocou breves palavras para saber como estava Filomena. Por sua vez, Florêncio respondeu com frases curtas e desanimadoras: – “Não tem jeito…”

Tomado de compaixão e no intuito de aliviar a dor do vizinho, Danilo finalizou:

– Florêncio, sei que esta situação é muito difícil… Mas não perca a esperança, amigo. Se puder, vá ao Centro Espírita que eu frequento. Um de nossos médiuns vem transmitindo mensagens psicografadas. Quem sabe você não recebe alguma comunicação que acolha a família.

Um pouco desacreditado, Florêncio voltou para casa e ficou pensando no assunto. Desiludido com algumas experiências anteriores no espiritualismo, mantinha a fé em Deus, contudo não achava que algo de novo pudesse surgir naquele estágio da doença. Mesmo assim, resolveu ir à Casa Espírita.

Passou a frequentar algumas reuniões públicas acompanhado dos lentos movimentos da esposa. E, quando menos esperava, soube que uma carta havia chegado para a família. Não acreditava… Precisava ler para crer.

Sentado ao sofá com Filomena, segurou firme as folhas de papel e leu a mensagem com toda a atenção. As palavras eram simples, mas traziam uma confiável descrição do cenário no qual a família estava envolvida. Citava as dificuldades, as lutas e as alegrias vividas pelo casal até então. E no final do texto teceu comentários sobre a doença.

As últimas palavras, lidas com dificuldade, explicavam que aquele sofrimento era necessário e fazia parte de um planejamento necessário ao progresso espiritual de ambos. Por fim, ressaltava que a luz chegaria em breve. As aflições da família iriam ser finalizadas em um tempo próximo e o conforto aliviaria Filomena.

Florêncio não teve dúvidas: – “Você vai ficar boa! Você vai ficar boa!!!” E assim espalhou a todos a boa notícia. Lia a carta diversas vezes e carregava a certeza de que aquelas linhas falavam da cura de sua esposa.

Todavia, poucos meses depois Filomena desencarna, sob a dor e a tristeza do marido.

                                                                                         * * *

Não é fácil, em nossa condição de evolução intelecto-moral compreender os desígnios Divinos. Muitas vezes acreditamos que as verdades celestes irão atender única e exclusivamente os nossos sonhos e anseios restritos à nossa percepção material dos fatos.

Quando em espírito, livres do envoltório carnal que limita os nossos sentidos, percebemos novos valores, novas dimensões e agimos conforme realmente somos. Para exemplificar esta realidade, basta lembrarmo-nos dos sonhos que temos à noite. Visitamos pessoas a quem nem sempre damos importância, cruzamos a fronteira do passado e do futuro, vamos a locais distantes, participamos de reuniões, tudo seguindo o livre arbítrio de nossa alma. Retornando ao corpo no despertar, algumas coisas passam a não fazer sentido, pois as limitações físicas nos impedem de perceber os nossos reais interesses [1], [2].

Logo, devemos estar atentos, pois nem sempre as informações e dimensões fornecidas pelos espíritos em comunicações psicografadas ou pelos recursos da psicofonia (comunicação dos espíritos pela voz de um médium falante [3]) correspondem aos nossos desejos terrenos. Esperamos ler e ouvir alguma coisa que nos convém, quando o verdadeiro sentido está além de nossa compreensão.  Isto nem sempre significa que a mensagem transmitida possa estar errada, mas sim, que devemos observá-la sob os olhos atentos da razão, à luz dos ensinamentos deixados pelo Divino Mestre.

A suposta alegria entendida por Florêncio como sendo a cura, em realidade era para o Espírito de Filomena uma libertação dos sofrimentos aos quais estava sujeita naquela encarnação. O curto período em que chegaria esta cura poderia ser de dias, meses ou anos. Nem sempre as mensagens conseguem precisar o tempo real que está sendo informado, pois enquanto a nossa dimensão de tempo se limita ao calendário, a dos espíritos encontra-se no infinito [1], [4].

Não foi o caso da história, mas a comunicação também poderia ser resultado da ação de espíritos inferiores que se comprazem em iludir e direcionar o nosso livre arbítrio [1]. Logo, toda a atenção é devida para que não sejamos envolvidos em falsas colocações e argumentos que nos desviam de nossos verdadeiros propósitos.

Por fim, lembremo-nos da orientação do Espírito de Verdade contida em O Evangelho Segundo o Espiritismo: – “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo” [2]. Só assim entenderemos melhor as comunicações que nos forem concedidas.

Márcio Martins da Silva Costa

 

Referências:
[1]      A. Kardec, “O Livro dos Espíritos,” pp. 1–604, 1857.
[2]      A. Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, vol. 25. 1995.
[3]      A. Kardec, O Livro dos Médiuns. 1861.
[4]      A. Kardec, “A Gênese,” pp. 1–536.

Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em <https://espiritismoestudoduvidas.wordpress.com/page/3/>. Acesso em: 04SET2015.

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