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Jamais bandidos

setembro 10, 2015

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Em Velho Tema, Vicente de Carvalho (1866-1924) exprime  essa arraigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.


Só a leve esperança, em toda a vida,

Disfarça a pena de viver, mais nada;

Nem é mais a existência, resumida,

Que uma grande esperança malograda.

 

O eterno sonho da alma desterrada,

Sonho que a traz ansiosa e embevecida,

É uma hora feliz, sempre adiada

E que não chega nunca em toda a vida.

 

Essa felicidade que supomos,

Árvore milagrosa que sonhamos,

Toda arreada de dourados pomos,

 

Existe, sim; mas nós não a alcançamos

Porque está sempre apenas onde a pomos

E nunca a pomos onde nós estamos.

Onde estivermos, na Terra ou no Além, sustentaremos o céu ou o inferno, construído na intimidade de nosso ser com as ferramentas do cérebro e do coração, tendo por material o que pensamos e sentimos.

Para ingressar na recôndita região de nosso universo interior, onde está o Reino de Deus, é preciso uma senha.

Ser como as crianças – revela Jesus (Lucas,18:15-17). Há algo inerente à natureza infantil que devemos imitar para abrir as portas do paraíso interior. A senha se compõe de duas virtudes.

Pureza. A criança não é maliciosa, não vê o mal no comportamento alheio, não se compraz com a maledicência, não guarda mágoas, desconhece a hipocrisia. É capaz de relacionar-se com qualquer pessoa, independente da cor, raça, nacionalidade, religião, posição social…

Simplicidade. A criança não se sente infeliz por morar em singela cabana.  Diverte-se tanto com um pau de vassoura feito cavalo, quanto o faria o menino rico num palácio, movendo-se em patinete motorizada.

Para entrar no Reino de Deus, na intimidade de nós mesmos, é preciso resgatar a criança que fomos, aprisionada na teia das ambições, dos vícios e das mazelas.

Evidentemente, não é fácil. Como diz André Luiz, contra a pálida réstia de luz do presente, simbolizada pelo desejo de melhorar, há montanhas de trevas do passado.

Proclama o apóstolo Paulo (Romanos, 7:19):

 O bem que eu quero, não faço.

 O mal que não desejo, esse eu faço.

Temos visto esse filme, no desdobrar de múltiplas existências.

Mudam os cenários, mas o enredo é sempre o mesmo:

Começamos a vida como mocinhos, dispostos a mudar o mundo. Terminamos como bandidos, comprometidos por vícios e mazelas.

É preciso produzir um filme diferente, nos estúdios da Vida. Perseverar nos bons propósitos; lutar contra nossas tendências inferiores; conservar fidelidade ao Bem, cultivar ideais que nos permitam sustentar a simplicidade e a pureza dos verdes anos.

Mocinhos, jamais bandidos.

Bem-aventurados, jamais mal amados.

No Céu, ainda que enfrentando as agruras da Terra.

Richard Simonetti

Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em <http://www.whattoexpect.com/tools/photolist/dress-up-clothes-your-little-one-will-never-take-off.aspx>. Acesso em: 10SET2015.

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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