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Encontros e Desencontros

dezembro 3, 2015

richard-simonetti-menorSimone chegou com alguns minutos de antecedência. Sentada em rústico banco, à sombra de frondosa árvore, recordou que ali tecera com Armando idílico sonho. O marido representara o seu encontro com a felicidade. A seu lado vivera quinze anos de ternura, enriquecidos por quatro filhos adoráveis. No entanto, há dois anos o sonho convertera-se em pesadelo. Armando apaixonou-se por inconsequente jovem, iniciando perturbadora relação extraconjugal. Após meses de tensão, alegando incapacidade para superar a atração irresistível, decidiu unir-se à sua amada.

Indignada, vivera dias tormentosos. Não fora o conhecimento espírita e o teria odiado com todas as suas forças! Abençoada Doutrina, que a ajudara a compreender que o marido não agira com maldade. Apenas fora fraco, cedendo a impulsos desajustados.

A compreensão preservara-lhe a estabilidade emocional e a capacidade de amar. Sim, continuava amando o marido, um afeto diferente, um pouco maternal, de mãe preocupada com o filho rebelde que deixou o lar. E tudo o que fazia era orar por ele.

Agora ele queria conversar. O fato de ter escolhido o mesmo banco, na velha praça dos encontros primaveris evidenciava que ele estava cogitando de uma reconciliação. Conhecia-o, entendia-lhe as mínimas iniciativas, com a precisão nascida de longa convivência, com a secreta intuição dos que amam de verdade.

Despertando de suas reminiscências, avistou Armando. O coração a bater acelerado no peito, dizia-lhe que o marido continuava a ser o homem de sua vida. O tempo não lhe fora generoso. Estava abatido, magro, envelhecido como se houvessem passado dez anos e não apenas dois. Ele sorriu timidamente:

– Oi, Simone, como está?
– Tudo bem, graças a Deus. E você?
– Não posso dizer o mesmo. Estou mal, mal mesmo! Arrependido até os fios de meus cabelos, afogando-me em remorsos. Será que você me perdoará um dia?
– Você sabe que não sou de guardar rancores. Não se preocupe.

Tomando-lhe as mãos Armando começou a chorar. Em princípio lágrimas furtivas, depois borbulhantes, como imensa dor represada que explodisse em torrente de mágoas.

– Que loucura! Destruí nosso lar por uma aventura!…

Simone acariciou suas mãos.
– Calma, Armando. Não se entregue ao desalento. Ninguém é perfeito. Todos somos passíveis de erro… Conte-me. Como vai sua vida ao lado da nova companheira?
– Não há mais nada. Foi um equívoco, um desencontro infeliz… Separamo-nos há uma semana e tudo o que quero é regressar ao nosso lar, ainda que tenha de passar o resto de meus dias pedindo-lhe perdão. Você me aceitaria de volta?
Simone fitou-o enternecida. Não havia nenhuma dúvida quanto a isso. Desde que se despira de ressentimentos, sentia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, na Terra ou no Além.
– Claro, meu querido. É o que mais desejo.
– Há apenas um problema… Mais exatamente… outro filho… Da união infeliz resultou uma criança de dez meses. A mãe não o quer. Sei que é pedir demais, mas você me permitiria retornar com ele?
Um filho com a outra, sob seus cuidados, no mesmo lar, em contato com seus próprios filhos?! A proposta soava absurda. Como reter a lembrança perene da defecção do marido? Era pedir demais!… Imaginou, em turbilhão de ideias, uma forma de contornar o problema. Um orfanato, talvez… Um casal disposto à adoção… Sabia, entretanto, que uma solução dessa natureza seria desumana, uma flagrante injustiça contra o pequeno inocente.

Sem que conseguisse exprimir com exatidão o que estava acontecendo, sentiu imensa compaixão daquele ser que chegava ao Mundo em circunstâncias tão tristes, rejeitado pela mãe, um entrave na vida do pai… Pobre criança! Então, o instinto materno, a sensibilidade de um coração generoso, a vocação para o Evangelho, triunfaram sobre a mulher traída que, tomada por uma onda de ternura, levantou-se, resoluta, arrastando o marido perplexo, ao mesmo tempo em que dizia eufórica:
– Onde está nosso filho? Vamos buscá-lo imediatamente! Sinto que ele precisa muito de mim!
E partiram os dois, retomando a existência em comum, enriquecida pela presença de mais um filho.

Richard Simonetti

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://www.getastrologysolution.com/blog/2014-05-30-03-05-50-husband-wife-problem-solution.jpg>. Acesso em 03DEZ2015.

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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