inferno

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Oh, mas que inferno!

dezembro 8, 2015

antonio_carlos_navarroProvavelmente, quem já não proferiu a frase título deste ensaio já a ouviu, e muito mais.

Vivenciando situações sem controle, complicadas, confusas, conturbadas, facilmente, por descontrole psíquico-emocional, desabafa referindo-se ao inferno.

Enquanto alguns têm o hábito, em momento de crise, de nomear até mesmo entes queridos como “capetas”, “demônios”, etc, outros optam por desejar que os “causadores” da crise vão para o inferno utilizando frases como “Vá para o inferno!” ou ainda “Vá para o meio do Inferno”. Além de se desejar que o tal vá para o inferno, deseja-se que vá logo para o meio deste, talvez pelo entendimento de o meio do inferno estar mais povoado ou com a temperatura mais alta, o que aumentaria o sofrimento do direcionado.

Antiga lenda popular é muito elucidativa a respeito de céu e inferno enquanto estados de consciência:

Conta-se que, certo dia, um samurai, grande e forte, conhecido pela sua índole irascível, foi procurar um sábio monge em busca de respostas para suas dúvidas.
— Monge, disse o samurai com desejo sincero de aprender, ensina-me sobre o céu e o inferno.
O monge, de pequena estatura e muito franzino, olhou para o bravo guerreiro e, simulando desprezo, lhe disse:
— Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo. Seu mau cheiro é insuportável. Além do que, a lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha para a sua classe.
O samurai ficou transtornado. O sangue lhe subiu à cabeça e ele não conseguiu dizer nenhuma palavra, tamanha era sua raiva. Com os olhos crispados, empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge.
— “Aí começa o inferno”, disse-lhe o sábio mansamente.

O samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem o impressionara. Afinal, arriscara a própria vida para lhe ensinar sobre o inferno. O feroz guerreiro abaixou lentamente a espada e agradeceu ao monge pelo valioso ensinamento. O velho sábio continuou em silêncio.

Passado algum tempo o samurai, já com o ânimo pacificado, pediu humildemente ao monge que lhe perdoasse o gesto infeliz.

Percebendo que seu pedido era sincero, o monge, então, lhe falou: “Aí começa o céu”.

Apresentando a monumental obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier, o livro Evolução em Dois Mundos, o Benfeitor Emmanuel diz que o espírito humano segue seu desenvolvimento “transportando consigo o céu ou o inferno que plasmou em si mesmo”.

Na referida obra André Luiz nos esclarece referindo-se aos nossos estados íntimos:

“… do ponto de vista da exteriorização do pensamento, porque céu e inferno, exprimindo equilíbrio e perturbação, alegria e dor, começam invariavelmente em nós mesmos.”.

Estando encarnado demonstra-se com facilidade o desajuste íntimo através das relações humanas, ou desconta-se em objetos materiais destruindo-os, mas no estado de desencarnado, continua o Benfeitor:

“Quando dilacerado e desditoso, grita a própria aflição, ao longo dos largos continentes do Espaço Cósmico, reunindo-se a outros culpados do mesmo jaez, com os quais permuta os quadros inquietantes da imaginação em desvario, tecendo, com o plasma sutil do pensamento contínuo e atormentado, as telas infernais em que as consequências de suas faltas se desenvolvem, mediante as profundas e estranhas fecundações de loucura e sofrimento que antecedem as reencarnações reparadoras”.

Ainda segundo o Benfeitor há uma contrapartida, em nome da Misericórdia Divina:

“Contudo, é também aí que começa, sobrepairando o inferno e o purgatório do remorso e da crueldade, da rebelião e da delinquência, o sublime apostolado dos seres que se colocam em harmonia com as Leis Divinas, almas elevadas e heroicas que, em se agrupando intimamente, tocadas de compaixão pelos laços que deixaram no mundo físico, iniciam, com a inspiração das Potências Angélicas, o serviço de abnegação e renúncia, com que a glória e a divindade do amor edificam o império do Sumo Bem, no chamado Céu, de onde vertem mais ampla luz sobre a noite dos homens.”.

Percebe-se então, com facilidade, que é a percepção de nosso ambiente íntimo, a consciência, que é traduzida como céu ou inferno.

Dessa forma, somos os construtores de ambos, sempre fundamentados em nossas condições espirituais, estejamos encarnados ou desencarnados, e que tanto para conquistar o céu, quanto para evitar o inferno, deveremos desenvolver valores e implantar comportamentos condizentes com a Lei de Deus, a chamada Lei de Amor.

Como esta Lei encontra-se dentro de nossas consciências e esta reflete a sua própria condição de equilíbrio ou desequilíbrio, o que vivenciamos é tão somente o resultado de nossa condição espiritual.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://afimdeviver.blogspot.com.br/2014/05/tentando-quebrar-o-ciclo-de-super.html>. Acesso em 08DEZ2015.

Antônio Carlos Navarro
Antônio Carlos Navarro

Estudioso e palestrante espírita. Trabalhador do Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto - SP

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