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Estigma moral

janeiro 18, 2016

jane-maiolo-300x318“Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança”. [1]

No limiar de uma nova era estamos esperançosos. Novos planos. Auspiciosos rumos. Venturosas possibilidades. Renovadoras perspectivas.

Imperioso rever alguns paradigmas conceituais sobre a relação da criatura com o Criador e as expectativas frente a uma vida futura feliz.

Frequentemente, ao passarmos por dificuldades tais como as enfermidades, perdas afetivas, ruínas financeiras, entre outras, ingenuamente nos é sugerido que: “Deus deve ter algum propósito” para que estejamos passando por tais ou quais dissabores.

Pois bem, fazendo uso da razão cientificamos que somos os artífices dos mapas da nossa própria evolução. Estamos integrados na Lei de Causa e Efeito, que é uma lei natural, sob a qual somos responsáveis pelas escolhas, ou seja, colhemos aquilo que semeamos.

O conhecimento da Lei de Causa e Efeito, revelado pela Doutrina Espírita no século XIX, é bastante importante para que possamos compreender o amor de Deus. Em verdade, o entendimento claro e racional desta lei tem o potencial de transformar nossas ações em concordância com o Amor. Em outras palavras, a compreensão da Lei de Causa e Efeito pode nos ajudar a tomarmos decisões sábias em nossas existências e, consequentemente, evoluirmos de forma mais libertadora.

A mudança sobre o paradigma conceitual deveria ser: Quais propósitos alento para que as tribulações me alcancem? Deus não é o responsável pelas doenças, pelas guerras, ou pelas anomalias congênitas. Deus é amor. E o Amor… Ama!

Quem sabe, nunca antes tenhamos sonhado com a possibilidade de um mundo mais fraterno e solidário. Não obstante, tantas toxidades midiáticas a respeito da corrupção, da degradação sexual, da violência generalizada e do desamor, o homem moderno, sensibilizado com a própria dor e o sofrimento alheio demonstra reações de incomodação com a realidade moral vigente.

Creio que iniciamos, embrionariamente, o período para a compreensão da advertência de João Batista a propósito do “arrependei-vos, pois o reino de Deus está próximo”. [2] Arrependimento salutar que nos impele a repensar outros caminhos para o banimento do mal em nós mesmos.

A indiferença nunca nos incomodou tanto. As injustiças em todos os âmbitos jamais nos atingiram tão impeidosamente. Estamos mais compassivos?

O poeta e trovador solitário Renato Russo, numa de suas composições, entoava:

“Venha! Meu coração está com pressa, quando a esperança está dispersa, só a verdade me liberta, chega de maldade e ilusão. Venha! o amor tem sempre a porta aberta e vem chegando a primavera nosso futuro recomeça. Venha! Que o que vem é Perfeição!” [3]

A busca pela esperança e perfeição impulsiona-nos a novas escolhas. A mente humana é invadida e povoada por ideias enobrecedoras capazes de nos remeter a experiências melhores. Basta aproveitarmos esse apetecedor momento e continuar investindo em nossa felicidade futura.

Quantos foram os homens que nos motivaram as mudanças?

Em 1926, reencarnava na França, o pediatra e geneticista Jerome Lejeune. Impulsionado pelo profundo respeito que tinha pela excepcionalidade e pela santidade de cada indivíduo, ainda jovem e debilitado fisicamente, encontraria na ciência e no altruísmo das estruturas íntimas a vocação médica para servir à causa do Bem.

Sua proeza mais admirável foi revelar na base genética da Síndrome de Down a presença de um cromossomo extra no DNA. Essa descoberta ajudou a transformar a vida de pacientes e de famílias que, durante décadas, tinham vivido sob um estigma moral injustificado: acreditava-se que a Síndrome de Down fosse um efeito colateral de sífilis da mãe, doença esta, por sua vez, que o imaginário popular associava com a prostituição. Ao oferecer provas sólidas da raiz biológica da Síndrome de Down, o nobre geneticista ajudou os pais dessas crianças a saírem das sombras.

Lejeune descobriu também a base genética de outro defeito congênito devastador, a Síndrome Cri-du-Chat, e avançou na compreensão das causas da Síndrome do X Frágil. Ele também se antecipou, em décadas, ao restante da Ciência Médica ao insistir na importância do ácido fólico para reduzir o risco de muitos defeitos de nascença.

Ao longo dos 30 anos seguintes, a pesquisa de Lejeune se concentrou nas causas de doenças genéticas e na busca de meios para tratá-las no útero e atenuar os seus efeitos em crianças e adultos, garantindo para cada paciente a melhor e mais completa vida possível. Ele viveu, com seriedade religiosa, a vocação médica e a ética em que ela se ampara desde Hipócrates: “não fazer o mal, servir à causa da vida e colocar os interesses individuais do paciente em primeiro lugar”. [4]

As primeiras leis que permitiram o aborto na França tinham como alvo, precisamente, os fetos “defeituosos”. Lejeune “queimou” a maioria das suas relações profissionais e acadêmicas ao se tornar um dos poucos cientistas proeminentes na França a fazer lobby contra essas leis. Em 1981, ele depôs perante um subcomitê jurídico do Senado dos EUA sobre a “questão” de quando a vida humana começa. Depois de apresentar evidências biológicas esmagadoras de que a resposta é a concepção. Fato que a Doutrina Espírita já antecipou desde 1857 com o lançamento de O Livro dos Espíritos na sua questão de número 344. Kardec indagou aos Benfeitores: “Em que momento a alma se une ao corpo?” Os Espíritos elucidaram: “A união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento…” [5]

Diria a filha de Lejeune:

“Este é um homem que, por causa das suas convicções de médico que o impediam de seguir as tendências da sua época, foi banido pela sociedade, abandonado pelos amigos, humilhado, crucificado pela imprensa, proibido de trabalhar por falta de financiamento. Este homem tornou-se, para certas pessoas, alguém a ser derrubado; para outros, alguém por quem não valia a pena pôr em risco a própria reputação; para outros ainda, um extremista incompetente”.

Assim, é que Jesus, o Guia e modelo da Humanidade, governa o nosso mundo, utilizando-se de servos fiéis e dedicados, que honram suas tarefas, independente de credo, cor, ou raça; aguardando o despertar de cada espírito para sua realidade transcendente e imortal. Sem violentar e sem constranger, apenas sabendo dos nossos planejamentos e, projetando para nós, planos de paz, e não de mal, para nos dar um futuro e uma esperança, uma oportunidade e uma alegria.

As marcas do Cristo em nós deverão, quiçá, um dia fazer mais sentido em nossas vidas!

Jane Maiolo

Referências Bibliográficas:
[1] Jeremias 29:11;
[2] Mateus 3:2;
[3] Disponível em <https://letras.mus.br/legiao-urbana/46967/>. Acessado em 10/01/2016;
[4] Disponível em <http://pt.aleteia.org/2014/01/25/um-santo-para-a-causa-da-vida-jerome-lejeune/>. Acessado em 07/01/2016;
[5] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão nº344, Rio de Janeiro: Ed. FEB-2007.

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <https://lejeuneusa.org/sites/lejeuneusa.org/files/images/homepage/jl_caryotype.jpg>. Acesso em 18JAN2016.

Jane Maiolo
Jane Maiolo

Professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Espírita Brasil. Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita.

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