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Tá tranquilo? Tá favorável?

março 17, 2016

paulo-lara-redimensionada“A circunstância a ser seguida deve ser sempre a do Determinismo Divino (…) destacando-se essa mesma circunstância pelo seu caráter de benefício geral, muitas vezes com o sacrifício da satisfação egoística da personalidade. (…)
O Homem está sempre habilitado, em seu íntimo, a escolher o bem definitivo de todos e o contentamento transitório do seu ‘eu’, fortalecendo a fraternidade e a luz ou agravando o seu próprio egoísmo”
(Emmanuel, “O Consolador”, questão 139
)

***

Leitor amigo, imagine que você vai à sua agência bancária num sábado à tarde proceder ao saque de R$ 100,00 (cem reais). Para sua agradável surpresa, o caixa eletrônico não lhe libera os R$ 100,00, mas R$ 10.000,00 (Dez mil reais).

Você olha ao redor procurando ajuda e não encontra ninguém para recorrer. Não há câmaras que registrem o ocorrido e nem mesmo o telefone para fazer contato com a instituição bancária está funcionando.

Desconfiado, você se recorda que não havia aquela quantia disponível em sua conta bancária e ‘puxa’ um extrato para constatar que, realmente, foi debitado da sua conta apenas R$ 100,00. ‘Contrariado’, você põe o dinheiro no bolso e imagina que, na segunda-feira, terá que voltar ao Banco, para devolvê-lo.

No entanto, na segunda-feira, você terá que fazer uma viagem a trabalho que levará a semana toda. Precavido, deixa o dinheiro com sua esposa/marido com recomendação expressa de que, caso o Banco ligue, eles o venham buscar.

Quando você volta da viagem constata que o Banco não ligou. Você vai, então, à agência bancária e percebe que tudo continua normal, por ali. Aquela mesma máquina em que você fez o maior saque de sua vida está funcionando, e dessa vez ela lhe dá exatamente o dinheiro que você sacou, R$ 50,00 (cinquenta reais), só pra testar.

Então você começa a refletir no ocorrido: como entender aquilo? Erros bancários acontecem, mas a maioria deles é em nosso desfavor. Você começa a cogitar de que ‘eles’ (o Banco) sequer se deram conta do ocorrido.

– “Ora bolas – diz você para si mesmo – eu não peguei o dinheiro deliberadamente. Simplesmente a máquina me deu. Não o peguei de outra pessoa e, para o Banco, esse dinheiro é uma gota no oceano. Ademais, certamente eles devem ter um seguro contra tais eventualidades”.

Então você pensa que bem que poderia usar aquela ‘grana’ para trocar o seu carro, que já está velhinho e que lhe serve de instrumento de trabalho. Ou, quem sabe, pagar alguma dívida acumulada. Afinal de contas, aquela não seria a resposta de Deus às suas preces?

Mas precavido, resolve esperar. Vai que eles ligam, não é mesmo?

Dois meses depois do ocorrido, “eles” não ligaram…

“E agora, José”, o que você faria?

(Contado livremente a partir do livro “O Porco Filósofo”, de autoria de Julian Baggini, editora Relume Dumará – capítulo 14 – ‘Erro bancário a seu favor’)

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Circunstâncias…

Meu amigo de estudos Espíritas, já lhes escrevi aqui que o erro pode desempenhar um importante papel educativo e evolutivo (vide artigo ‘Herrar é umano’). Mas, é claro, você não quer errar e me pergunta como identificar se a conduta praticada se encaixa naquelas que estão conforme e naquelas que estão disformes a Lei de Deus, de acordo com a definição de Bem e Mal da Doutrina Espírita (Livro dos Espíritos, questão 630).

Inteligência e discernimento, responderão os Espíritos da Codificação (Livro dos Espíritos, questão 631).

Mas há situações-limite em que discernir o certo do errado não parece tão fácil assim. Existem circunstâncias…

A maioria de nós já conhece a regra áurea do Bem, assim chamada porque se encontra presente em todos os pensamentos humanísticos e religiosos de todos os tempos, também pronunciada por Jesus quase que para encerrar o ‘Sermão da Montanha’: “Tudo quanto pois quereis que os homens vos façam, fazei-os vós também a eles” (Mt. 7:12), pra depois recomendar que seguíssemos pela porta estreita, porque largo e amplo é o caminho que conduz à perdição.

No entanto, embora saibamos que as Leis Divinas estão impressas em nossa consciência (Livro dos Espíritos, questão 621), comumente é apenas a posteriori que a identificamos, ou seja, é apenas nas reações sucessivas à nossa ação infeliz que identificamos com mais clareza o erro.

Tal qual o filho dito pródigo da parábola, comumente é apenas quando começamos a passar fome que nos damos conta de que não deveríamos nos afastar da casa do Pai.

E então, à semelhança do fariseu da outra parábola (do Bom Samaritano), você poderá se perguntar: e quem é o outro? A quem estou prejudicando?

E então? Como ficamos?

Tá tranquilo, tá favorável?

Na verdade, não. Ou pelo menos, não deveria.

Emmanuel dirá, na questão 139 do livro “O Consolador”, que em todas as situações da existência humana defrontamo-nos com as ditas ‘circunstâncias’, e que devemos seguir aquela que aponta para o ‘bem geral’, ainda que em sacrifício das nossas ‘satisfações egoísticas’.

Então se você é, como eu, um espírita errante, mas inconformado com o erro, não manipule o pensamento e as condições em favor do resultado pretendido.

Meu amigo, se você já despertou para o fato de que não deve se apropriar de um troco recebido a maior do quitandeiro da esquina, não é porque o erro foi ocasionado por uma “pessoa jurídica” (uma ficção legal), que será partilhado com seus milhares de acionistas anônimos, que você poderá se apoderar do ‘dinheiro de ninguém’, não é mesmo?

Afinal, um erro diluído em mil litros de água ou partido em mil pedacinhos não se torna menos errado. Ou se torna?

Circunstâncias, ah!, as circunstâncias…

Paulo Lara

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.edgewaterbank.com/Services.aspx>.
Acesso em: 17MAR2016.

Paulo Lara
Paulo Lara

Trabalhador da última hora junto ao Grupo Espírita Esperança e Caridade de São José do Rio Preto, Interior do estado de São Paulo.

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