
Iniciação Espiritual
Conta-se que Gandhi foi procurado, numa de suas comunidades, por dois homens que desejavam fazer sua iniciação espiritual. Ambos estavam entusiasmados com a oportunidade de conviver com o grande líder hindu, conscientes de que receberiam preciosas orientações.
O Mahatma recebeu-os de bom grado e, tão logo se instalaram, pediu-lhes que tomassem das vassouras e varressem o chão. Depois que descascassem batatas, cortassem verduras e rachassem lenha para o fogão.
À tarde encaminhou-os à limpeza das fossas nas aldeias vizinhas. Os dois iniciantes dos valores espirituais passaram o resto do dia desinfetando instalações sanitárias com água e creolina.
Ao anoitecer, foram convidados à meditação. No dia seguinte, a mesma rotina. No terceiro dia, um deles, aproximando-se de Gandhi, perguntou:
– Mestre, quando começa nossa iniciação?
– Já começou…
– Como assim?
– É aprendendo a servir de boa-vontade que entramos nos domínios da espiritualização.
Toda a sabedoria do Evangelho, em favor de nossa iniciação espiritual, está contida na recomendação de Jesus: Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles.
A mesma orientação, no Espiritismo, sintetiza-se na máxima de Allan Kardec: Fora da Caridade não há Salvação.
O próximo, portanto, é a nossa ponte para Deus, nosso abençoado caminho para os valores espirituais. E tanto mais caminharemos quanto maior o nosso empenho em servir, começando, como recomendava Gandhi, pelas tarefas mais simples, em obras filantrópicas, instituições religiosas, associações comunitárias…
* * *
Conscientes dessa realidade, os Centros Espíritas vêm organizando serviços assistenciais, com a criação de creches, berçários, hospitais, escolas, lares da infância e da velhice, casas de sopa, estendendo amplas oportunidades de serviço às pessoas aflitas e angustiadas que os procuram, ensinando-lhes, por lição fundamental, que a chave mágica para a solução de seus problemas existenciais está na disposição de trabalhar em favor do semelhante.
Nesses núcleos de esforço edificante há as mais variadas atividades: visitação a enfermos e famílias pobres; plantões de atendimento; preparo de refeições para as crianças; confecção e reparo de roupas; arrecadação e fornecimento de gêneros alimentícios; aplicação do passe magnético; controle da biblioteca; venda de livros; promoções beneficentes e muito mais. São tarefas singelas, mas que sedimentam nos voluntários a inestimável vocação de servir.
Há quem justifique:
– Não participo de atividades dessa natureza, mas tenho feito algo em favor do semelhante. Quando batem à minha porta, sempre atendo; se o necessitado procura-me na rua, estendo-lhe alguns trocados; contribuo para a manutenção de obras de benemerência social.
Isso tudo é louvável, mas insuficiente, mesmo porque feito eventualmente, quando somos solicitados e temos disposição, sem nenhum compromisso. É difícil desenvolver a vocação de servir sem o precioso estímulo que nos sustenta quando participamos de um grupo afim, integrando-nos em determinada atividade.
Se resolvemos visitar semanalmente enfermos de um hospital, levando-lhes palavras de conforto, é bem provável que não perseveremos por muito tempo. Mas, se estivermos ligados a uma equipe de visitadores de um Centro Espírita, haverá maior disposição, mesmo porque os próprios companheiros nos cobrarão a assiduidade.
Somente Espíritos muito evoluídos conseguem ser heróis anônimos nesse tipo de trabalho. Estes, entretanto, salvo em circunstâncias excepcionais, jamais se isolam, conscientes de que, se a união faz a força, a força do Bem está no esforço conjunto daqueles que se propõem a realizá-lo.
Richard Simonetti
Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em
<https://en.wikipedia.org/wiki/Mahatma_Gandhi>. Acesso em: 17MAR2016.
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