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Uma torta de limão, por favor!

maio 6, 2016

paulo-lara-redimensionada“Determinismo e livre arbítrio coexistem na vida, entrosando-se na estrada dos destinos, para a elevação e redenção dos homens.” (1)

Amigo de estudos espíritas, imagine (2) que num belo domingo de sol você resolva ir almoçar num desses restaurantes tipo ‘por quilo’, cuja característica principal é que você pagará exatamente pelo peso daquilo que escolher comer.

Pois bem, imagine mais, imagine que após a sua refeição o garçom, gentilmente, lhe informe que o balcão de sobremesas é franqueado aos clientes e que você não pagará absolutamente mais nada se resolver degustá-las.

‘Muito bom ‘ – pensa você, enquanto resolve ir dar uma olhadinha nas suas opções (sem se dar conta de que o custo da sobremesa já está embutido no preço daquilo que você pagou no almoço). Em lá chegando (no balcão das sobremesas) você se depara com apenas dois tipos delas: uma ‘suculenta’ salada-de-frutas e uma ‘desprezível’ torta de limão.

Muito bem, o que você faz: come ou não come a sobremesa?

Continuarei conversando apenas com aqueles que resolveram degustar a dita-cuja, mesmo não tendo o hábito diário de fazê-lo nas pós-refeições. Você, meu comedido amigo que optou por dispensá-las, está também dispensado de continuar nesta leitura. Ou não, a escolha é sua.

Muito bem, outra questão agora se impõe: salada-de-frutas ou torta de limão? A melhor pergunta nem é ‘qual sobremesa você escolheu?’ mas é ‘como foi que você escolheu aquela sobremesa em particular?’.

Qual ou quais critérios nortearam a sua escolha? Você ponderou o valor nutricional dos alimentos? Sopesou os seus respectivos valores calóricos? Gordura trans passou pela sua cabeça? Não?

“ – Não, Paulo, não pensei em nada disso, apenas peguei aquilo que mais me apetecia no momento!”

Está bem, então você abriu mão de ponderar, o que não significa que você não tenha feito uma escolha. Você escolheu, ainda que seus motivos não estejam conscientes para você (com  a devida vênia do mestre Freud). Prazer imediato, sabor, paladar, valor nutricional, alguma coisa que você ainda não sabe (ou não admite saber), algum critério você adotou. E escolheu.

Sigamos.

Se sua ida ao restaurante deu-se no domingo, conforme proposto, no dia seguinte, segunda-feira, talvez você suba numa balança para constatar o inevitável: sua escolha tem um ‘peso’, qualquer que tenha sido a alternativa adotada.

Pois bem, continuaremos esta crônica apenas com aqueles que optaram pela ‘desprezível’ torta de limão, pelo menos, ok? Sim, porque você poderia ter comido ambas, já que era ‘de graça’, mesmo… Você, meu amigo amante das maçãs, bananas, laranjas e congêneres está dispensado de segui-la até o final. Ou não, pois já está claro que você sempre pode me desobedecer…

Muito bem, chamamos a nossa faculdade de escolher de “livre-arbítrio”. Arbitrar livremente é a capacidade de ajuizar entre duas ou mais alternativas possíveis aquela que melhor lhe convém ou que melhor lhe aprouver. Naturalmente esta faculdade é limitada. ‘Limitada pelo quê?’ – perguntará você. ‘Pelo seu próprio juízo’ – direi eu.

Explico melhor: escolhemos em razão daquilo que somos e das informações que temos. No exemplo dado, naturalmente se você estivesse informado acerca do valor nutricional dos alimentos, esta poderia ser uma variável a ser levada em consideração (ou não) na formação do seu juízo. No sentido oposto, se você for completamente ignorante com relação ao tema (valor nutricional), este fator não será ponderado.

“Antes diziam não ver e não tinham pecados, mas agora dizem ‘eu vejo’ e os seus pecados subsistem” (3), falou Jesus aos irritados fariseus que foram chamados de cegos. Ou seja, quem não sabe o que faz tem sua responsabilidade atenuada pelas más escolhas diante daqueles que já sabem muito bem o que estão fazendo.

Naturalmente a sua possibilidade de arbitrar livremente tambémsofre influências de outras condicionantes sociais, culturais, econômicas, etc. “Como assim, Paulo?” Por exemplo, eu jamais poderia escolher morar em Paris, ao invés de viver em Rio Preto, dado uma série de condicionantes pessoais, profissionais, familiares, econômicos, etc. Porém nada disso invalida o fato de que escolhemos e sofremos as consequências dessas escolhas.

Mas afinal de contas, aonde você quer chegar, Paulo?

Meu amigo, não sei o que você escolheria ante o buffet de sobremesas proposto, mas a pergunta que eu me faço (e a você), é: – Poderíamos ter feito diferente? Você poderia ter escolhido diferente do que escolheu?

Sim, poderia.

Sempre podemos escolher de maneira diferente numa dessas ‘encruzilhadas’ da vida. No campo moral, dos arbítrios e das escolhas, na há arrastamentos irresistíveis, dirão os Espíritos da Codificação (4). No entanto, deterministicamente nossas escolhas redundarão em efeitos que trarão as consequências positivas ou negativas oriundas delas mesmas, daí porque Emmanuel assevera que “determinismo e livre-arbítrio coexistem na vida” com vistas ao nosso aprimoramento.

Dito de outra forma, determinismo existe para os fenômenos da vida física, não da vida moral: se você comer mais calorias do que puder consumi-las, fatalmente engordará. Daí que se você se tornar um glutão, certamente com o tempo desenvolverá as comorbidades associadas ao seu excesso. Deus não precisará estender para você um Decreto, dizendo “você é um glutão, e por isso vou lhe punir” (5) mas, naturalmente, você provará o efeito da sua escolha, pois “o salário do pecado é a morte” (6), não é mesmo?

Ora, ao deparar-se com o efeito na balança da vida que o peso de sua escolha lhe deu (e aqui não estamos falando apenas de alimentação), nem um grama a mais ou a menos, sempre é bom ponderar se escolhemos bem, se estamos no bom caminho, porque cedo ou tarde colheremos os frutos bons ou ruins daquilo que fizemos ontem, com vistas ao aprendizado daquilo que realizaremos amanhã.

Colheremos os frutos? “Uma salada de frutas para mim, por favor”.

Paulo Lara

Uma torta de limão

Bibliografia:
(1) “O Consolador” – Chico/Emmanuel, resposta à questão 132;
(2) Exemplo retirado e adaptado a partir do livro “Uma breve introdução à filosofia”, de Thomas Nagel, capt. 6 – Livre Arbítrio;
(3) Bíblia Sagrada, Evangelho Segundo João, capt. 9, verso 41;
(4) Livro dos Espíritos, questão 845;
(5) Livro dos Espíritos, questão 964; e
(6) Bíblia Sagrado, Epístola de Paulo aos Romanos, capt. 6 v. 23.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em
<http://visaomaterna.com.br/2016/02/19/almoco-no-moema-natural/>. Acesso em: 06MAI2016.

Paulo Lara
Paulo Lara

Trabalhador da última hora junto ao Grupo Espírita Esperança e Caridade de São José do Rio Preto, Interior do estado de São Paulo.

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