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Quem é você?

junho 17, 2016

angela-maria-telles“Os líderes judeus enviaram de Jerusalém alguns sacerdotes e levitas para perguntarem a João quem ele era”. João afirmou claramente:

– Eu não sou o Messias.
Eles tornaram a perguntar:
– Então, quem é você? Você é Elias?
– Não, eu não sou! Respondeu João.
– Você é o Profeta que estamos esperando?
– Não! Respondeu ele.
Aí eles disseram a João:
– Diga quem é você para podermos levar uma resposta aos que nos enviaram. O que é que você diz a respeito de você mesmo?
João respondeu, citando o profeta Isaías:
– “Eu sou aquele que grita assim no deserto: preparem o caminho para o Senhor passar”. (1)

Em 18 de abril de 1857 surge a primeira publicação de “O Livro dos Espíritos”, o primeiro livro sobre a Doutrina Espírita, publicado pelo educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo Allan Kardec.

Inicia-se uma revolução do mundo espiritual: existe a mediunidade! É permitido um intercâmbio entre o mundo físico e o espiritual.

“A mediunidade, no entanto, é faculdade inerente à própria vida e, com todas as suas deficiências e grandezas, acertos e desacertos, é qual o dom da visão comum, peculiar a todas as criaturas, responsável por tantas glórias, tantos infortúnios na Terra […] Também a mediunidade não requisitará desenvolvimento indiscriminado, mas sim, antes de tudo, aprimoramento da personalidade mediúnica e nobreza de fins, para que o corpo espiritual, modelando o corpo físico e sustentando-o, possa igualmente erigir-se em filtro das Esferas Superiores, facilitando a ascensão da Humanidade aos domínios da luz”. (2)

Um livro composto de 1019 perguntas, o homem em busca de respostas, uma multidão faminta para encontrar a verdade, a verdade que tornaria todos os conflitos do ser, todas as suas dúvidas esclarecidas.

A voz dos Espíritos transmitida para todos, em todas as direções, desbravando todas as fronteiras, traduzida e interpretada em várias línguas, naquela que é a expressão viva da luz, a língua do amor que emana e atinge todos os corações.

O consolador chegou à revelação se fez revelada, não existiam mais mistérios, o homem de posse dessas respostas acreditou estar completo e, que não haveria mais perguntas, já que obtivera todas as respostas.

Quem é você?

Apesar de a Doutrina Espírita nos trazer, ou melhor, fazer com que obtenhamos respostas, afinal, nós já sabemos de onde viemos, o que viemos fazer e para onde vamos; ainda não temos todas as respostas, necessitamos continuar nos questionando.

Qual o objetivo maior de estarmos aqui, agora, neste instante, com este corpo de matéria transitória, nesta nova experiência encarnatória? Porque somos Espíritos evolutivos, buscamos a evolução, a melhora e o aprimoramento de tantas imperfeições e de tantos desajustes. Buscamos a vitória de nós mesmos.

Por mais consoladoras que sejam todas as respostas, faz-se necessário novas perguntas. As perguntas nos trazem o progresso, através delas refletimos, meditamos e viajamos pelos caminhos da nossa alma.

Sócrates: “só sei que nada sei”. Atenas (Grécia), 469 a.C – 399 a.C. Recusando-se a abrir mão de suas ideias, o sábio tomou um cálice de cicuta. Uma de suas frases mais marcantes: “A vida irrefletida não vale a pena ser vivida”. Segundo relatos de Platão, seu maior discípulo, Sócrates preferia a morte a viver sem questionamentos, na completa ignorância. (3)

Quem é você?

Sísifo, uma personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido. (4)

Quantos de nós estamos rolando pedra morro acima? Exercendo uma função rotineira e vazia? Quantos de nós achamo-nos num martírio sem fim? Quantos de nós vivemos sob o domínio das ideologias sem questioná-las? Quem de nós sabe responder: quem é?

Quem é você?

Para conhecer quem realmente somos é preciso subir, rolar muitas pedras, é necessário ter fé, muita fé, sem deixar de perceber e assimilar que a fé em Deus não pode substituir a fé em nós mesmos.

Precisamos subir a montanha, precisamos interagir com Deus, precisamos encontrar e desenvolver as virtudes que o Cristo revela em Sua inesquecível mensagem do Sermão da Montanha; da primeira à última das Bem-Aventuranças (5), encontramos o roteiro evolutivo a ser percorrido.

Desenvolver virtudes é como subir uma montanha. À medida que subimos, vamos enxergando a paisagem com mais amplitude, todavia a escalada se dá mediante esforços. Subir sempre é mais difícil que descer e, na lição do Monte, Jesus estabelece um caminho a ser perseguido que pode elevar a condição humana de níveis primitivos para outros, moralmente, mais elevados. (6)

Jesus disse: “Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada”. (7) Ele não pode nos dar a paz, porque não pode tirar o mérito de fazer que nós consigamos encontrar a nossa paz. É necessário cortar com a espada o que está dentro de nós: vaidade, orgulho. É uma luta interior.

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!” (8) A virtude que conquistamos na última Bem-aventurança é a caridade, a capacidade de fazer o bem numa atitude de acolhimento.

A melhor caridade que podemos fazer é subir a montanha e responder quem somos.

Quem somos?

Um Espírito em plena individualidade, com uma beleza que vai muito além do que a matéria ilustra, repleto de virtudes a despertar e que tem a coragem de subir a montanha de todas as suas imperfeições, deixar rolar todas as pedras que entulham o caminho evolutivo e sem medo de olhar para baixo do monte e dizer:

Fiz o meu melhor!

Que a paz de Jesus esteja com todos.

Ângela Telles

Referências bibliográficas:
(1) Jo 1:19-23
(2) Evolução em Dois Mundos – Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira – Ditado pelo Espírito André Luiz – Cap. 17, pág. 128 a 129 – FEB.
(3) Superinteressante – super. abril.com.br>so-sei que – n… – por redação Super/atualizado16/10/2015
(4) O Mito de Sísifo (Le Mythe de Sisyphe) – 1942 ensaio sobre o absurdo – Albert Camus (07/11/1913 – 04/01/1960). Escritor, romancista, dramaturgo e filósofo francês, nascido na Argélia. Engajado na Resistência Francesa e nas discussões morais do pós-guerra. Prêmio Nobel de literatura de 1957, com sua seriedade lúcida iluminam os problemas da consciência humana em nossos tempos.
(5) Mt 5:3-11
(6) O Código do Monte – Sérgio Luís da Silva Lopes – A Reencarnação –FERGS – Ano LXXX n 446
(7) Mt 10:34
(8) Mt 5:10

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://julirossi.blogspot.com.br/2013/02/o-pensador_6.html>. Acesso em 16JUN2016.

Ângela Maria Telles
Ângela Maria Telles

Estudiosa da Doutrina Espírita desde a adolescência, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier em Porto Alegre/RS, atuando como Médium , Palestrante e Facilitadora do estudo da Doutrina Espírita. Profissionalmente atua como Cirurgiã Dentista.

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