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Mudança interior

julho 18, 2017

O notável educador francês Hippolyte L. D. Rivail, utilizando-se do pseudônimo Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, referindo-se à formação do caráter humano, diz que “educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”. (1)

A Educação é, portanto, o mecanismo que possibilita a obtenção de novos hábitose, por isso, é a base do desenvolvimento humano, e ao se observar a História percebe-se facilmente que os valores morais se modificam de acordo com a época, e pelos valores atuais modificações ainda são necessárias, e por isso solicitadas direta e indiretamente, individual e coletivamente.

Sob esse aspecto vivemos em um processo chamado de Devir que “é um conceito filosófico que significa as mudanças pelas quais passam as coisas. O conceito de “se tornar” nasceu no leste da Grécia antiga pelo filósofo Heráclito de Éfeso que no século VI a.C., disse que nada neste mundo é permanente, exceto a mudança e a transformação”. (2)

No entanto, ainda nos deparamos com indivíduos, quando não nós mesmos, indiferentes a essa necessidade básica, a de se modificar para melhor, permanecendo estacionados em relação ao processo de desenvolvimento individual e social, o que evidencia que a consciência humana apresenta níveis de entendimento diversos ao número de seres humanos viventes no Planeta.

Por cobrança ou imposição, externa ou interna, a mudança comportamental sempre precisará ser implantada, para que se mantenha em consonância com seu tempo, evitando-se contrariedades e sofrimento, para si e para outrem, como também predispondo o homem para novos desafios e conquistas.

Mas, assim como temos em nossa natureza a facilidade de julgar o comportamento alheio, e a de solicitar mudanças comportamentais dos outros, não temos a mesma facilidade para enxergarmos e aceitarmos a necessidade de mudarmos dos nossos pontos de vista e hábitos.

Mas, por onde começa a mudança?

Apelando uma vez mais a filosofia grega, encontraremos uma orientação imprescindível para se iniciar o processo de mudança:

“Conhece a ti mesmo”.

Esse aforismo é atribuído a Tales de Mileto, o primeiro filósofo ocidental, e estava inscrito em portal do Templo de Delfos, tendo sido utilizado por Sócrates em sua prática filosófica, que influenciou todo o pensamento ocidental.

Voltando ao educador Allan Kardec, ainda em O Livro dos Espíritos, encontramos uma coincidência à filosofia grega em seu questionamento (3) aos Benfeitores Espirituais encarregados de nos esclarecer espiritualmente:

“Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal?

– Um sábio da Antiguidade vos disse:  “Conhece-te a ti mesmo”.

Desejando maiores esclarecimentos, Allan Kardec insiste no assunto com o Espírito Santo Agostinho (4):

“Concebemos toda sabedoria desse ensinamento, mas a dificuldade está precisamente em conhecer-se a si mesmo; qual é o meio de conseguir isso?

– Fazei o que eu fazia quando estava na Terra: no fim do dia, interrogava minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava se não havia faltado com o dever, se ninguém tinha do que se queixar de mim. Foi assim que consegui me conhecer e ver o que havia de ser reformado em mim. Aquele que, a cada noite, se lembrasse de todas as suas ações do dia e se perguntasse o que fez de bom ou de mau, orando a Deus e ao seu anjo de guarda para esclarecê-lo, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar porque, acreditai em mim, Deus o assistiria. Interrogai-vos sobre essas questões e perguntai o que fizestes e com que objetivo agistes em determinada circunstância, se fizestes qualquer coisa que censuraríeis em outras pessoas, se fizestes uma ação que não ousaríeis confessar. …O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do melhoramento individual… Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a qualificaríeis se fosse feita por outra pessoa; se a censurais nos outros, não poderá ser mais legítima em vós… Que aquele que tem a vontade séria de se melhorar sonde sua consciência, a fim de arrancar de si as más tendências, como arranca as más ervas de seu jardim. Que faça o balanço de sua jornada moral, como o mercador faz a de suas perdas e lucros, e eu vos asseguro que isso resultará em seu benefício. Se puder dizer a si mesmo que seu dia foi bom, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida”.

O que o Benfeitor está a orientar é que identifiquemos nossos valores e tendências comportamentais a partir do resultado de nossas ações nos muitos deslizes que ainda cometemose, para isso, é preciso coragem e determinação, para então implantarmos, refletidos e repetidos sistematicamente, novos hábitos que resultarão em patamares mais altos de ética e moral.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

Referências:
(1) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Questão 685 a – comentários;
(2) https://pt.wikipedia.org/wiki/Devir;
(3) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Questão 919;
(4) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Questão 919 a;
Obs. Os grifos são do autor deste ensaio.

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <http://www.celebrationchurchlive.com/2013/08/19/check-yourself/>. Acesso em 18JUL2017.

Antônio Carlos Navarro
Antônio Carlos Navarro

Estudioso e palestrante espírita. Trabalhador do Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto - SP

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