A busca pelo prazer

Orleide Felix de Matos
18/08/2017
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O constante impulso dado pela mídia exaltando o prazer sexual, principalmente nas novelas, faz com que as pessoas o busquem desenfreadamente. E doenças praticamente extintas voltam a ameaçar a vida e a felicidade de todos. É o caso da sífilis, por exemplo, cujo aumento de casos é alarmante.

A busca por múltiplos parceiros adquire um caráter preocupante e epidêmico, pois com isso a aventura extraconjugal virou ato comum e normal e a multiplicidade de parceiros faz com que as doenças chamadas de IST proliferem. E por mais que se fale sobre o perigo do sexo desprotegido, a grande maioria das pessoas não faz uso de preservativo, mesmo no relacionamento com pessoas desconhecidas.

Trabalhamos em um ambulatório de IST/AIDS e vemos a quantidade de casos de sífilis diagnosticados quase todos os dias através do chamado teste rápido e confirmados com outro teste mais específico chamado VDRL. E não somente sífilis, mas também casos de HIV e hepatites B e C. A maioria da população com diagnóstico de HIV onde trabalhamos são homossexuais masculinos. Nas entrevistas que fazemos com as pessoas que querem fazer o teste rápido verificamos a multiplicidade de parceiros, principalmente por parte dos homens, casados ou solteiros e a falta do uso de preservativos entre casais heterossexuais e homossexuais masculinos. E verificamos também a ignorância dos homens que ainda insistem em não usar preservativo em suas aventuras extraconjugais e algumas vezes a contaminação de suas esposas com o vírus HIV e com sífilis, que são as doenças mais comuns onde trabalhamos. E é interessante perceber que casais heterossexuais, casados ou não, quando usam o preservativo o fazem somente para evitar a gravidez, sem o pensamento de se evitar doenças. Outros, antes de começar o relacionamento sexual fazem o teste para que comprovem um para o outro que estão livres de doenças, como se isso fosse garantia de fidelidade e de nunca se contaminarem. E muitas mulheres aceitam a imposição dos parceiros por não usar preservativos e o mais assustador é que esses mesmos homens que não querem usar o preservativo, dizem ter múltiplas parceiras fora da união conjugal. E talvez ainda mais assustador são os casos de homens casados e heterossexuais que se relacionam com travestis sem preservativo.

Causa perplexidade também a despreocupação pelo uso do preservativo em pessoas que sabem da existência do tratamento que se chama PEP, Profilaxia pós Exposição, e que deve ser tomado até 72 horas após a exposição sexual de risco e que faculta alguma proteção. Elas vão ao ambulatório querendo tomar a PEP, que são mesmos medicamentos de quem tem o HIV, como quem vai ao bar tomar um refrigerante, sem nenhuma preocupação com os possíveis efeitos colaterais que os medicamentos geralmente trazem e sem a preocupação pela mudança de conduta.

Colocamos em seguida alguns dados constantes na publicação do Centro de Referência e Treinamento – DST/AIDS – Programa Estadual de DST/AIDS de São Paulo (Reprodução autorizada desde que citada a fonte, disponível em www.crt.saude.sp.gov.br/publicações). Os dados são relativos ao Estado de São Paulo:

  • Queda na incidência de AIDS do estado de São Paulo entre 2000 e 2012 (33,5%), mais intensa em mulheres (44%) do que em homens (27%). Não ocorre queda entre homens jovens, particularmente em jovens gays.
  • Elevação, em ambos os sexos, entre 2001 e 2012, de 11 para 17 novos casos por 100 mil homens jovens de 15 a 24 anos.
  • Em relação ao grau de instrução, casos em pessoas de nível universitário foram de 7% em 2000 para 15% em 2013. E em pessoas com menor grau de instrução, de 54% para 27%. Mulheres acometidas têm menor grau de instrução do que os homens.
  • Maior incidência de aids em pretos e pardos do que em brancos para ambos os sexos
  • Dos 236.434 casos notificados até junho de 2014, 70% são das 25 maiores cidades do Estado, onde moram 56% dos habitantes, enquanto 30% distribuem-se pelos municípios restantes. As cidades de São Paulo, Campinas, Santos, Ribeirão Preto e Guarulhos concentram 50% dos casos até hoje notificados.
  • Embora o declínio da doença graças à terapia dos antirretrovirais, a aids ainda é responsável por 6,5 óbitos para cada 100 mil habitantes, em 2013 (um óbito a cada três horas em média)
  • No estado de São Paulo foram notificados 63.440 casos de sífilis adquirida entre os anos de 2007 e 2013 e do total de casos notificados em todo o período, 60% dos homens e 37% das mulheres tinha entre 20 e 34 anos.

*   *   *

Tudo isso nos faz pensar na responsabilidade que cada um de nós tem em relação ao nosso corpo, empréstimo de Deus para a evolução espiritual e no “orar e vigiar” ensinado por Jesus. A falta de conhecimento e muitas vezes de vivência do Evangelho traz consequências sérias para cada um de nós. Sentimos em tudo isso a ausência de Deus no coração das pessoas, o apego exagerado à vida material e ao prazer e a não valorização do ensinamento de Jesus quando diz que não devemos fazer aos outros o que não queremos que os outros nos façam.

Algumas vezes, as pessoas ficam em situação difícil, notadamente os homens, quando em relações extraconjugais se contaminam com a sífilis e por obrigação devem contar às suas esposas, pois a vida delas fica em risco, já que a sífilis leva a óbito se não for tratada.

A busca pela felicidade e pelo prazer para amenizar as agruras da vida faz com que procuremos a felicidade nos lugares e acontecimentos errados.

Resistir a qualquer tipo de tentação não é nada fácil, mas o crescimento espiritual passa pela via da reforma íntima, via de mão única, que leva à condição angelical.

Como diz poesia de Vicente de Carvalho que fala da felicidade:

“Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos”.

Orleide Félix

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/censura-e-para-o-bem-das-suas-criancas/>. Acesso em: 18AGO2017.

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