Misturando nutrição com Espiritismo

Orleide Felix de Matos
16/11/2017
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Cuidar do corpo e do espírito.

Em nossa luta diária por melhoria espiritual, através da reforma íntima, a paciência, a perseverança, a fé e a resignação são de capital importância na nossa renovação interior para que nos aproximemos do objetivo visado.

E temos a oração como aliada a essa luta constante para que nos seja fortificada a disposição da luta diária a fim de que a renovação conquistada se fixe como atributo irrevogável. Porém, durante a nossa infância geralmente não somos acostumados à oração e, por isso, a grande maioria das pessoas a retém como sendo coisa de doentes, idosos ou religiosos, desprezando uma fonte de bênçãos e renovação. E como somos ainda tão frágeis na nossa vontade interior, necessitamos mais do que nunca da oração para que consigamos virar a página da imperfeição e garantir a vitória sobre nós mesmos.

Nosso imediatismo muitas vezes não nos permite entrar na sintonia da paciência para esperar aquilo que pedimos em oração. Por outro lado, as mãos vazias de boas obras não interferem a nosso favor para que o nosso pedido seja analisado e expedido pelo Pai Eterno, através de seus emissários. O Pai nunca joga nossos pedidos no “cesto de lixo divino”, mas quer que nos esforcemos para que Ele nos possa conceder tudo ou parte do que solicitamos segundo nossos méritos.

Quando pensamos em reforma íntima, temos de ter em mente a renovação total de nós mesmos e isto se reflete não somente na renovação interior, mas também na renovação de atitudes em nossa vida material. O uso da gentileza, do “muito obrigado”, do “dá licença”, parecem atualmente fora de moda. Observando-nos profundamente, notamos o quanto somos refratários às mudanças. Dispomos de vontade que quase nunca utilizamos como fonte de impulso e de progresso para a concretização da mudança e preferimos permanecer atrelados aos hábitos antigos.

Uma dessas mudanças das quais somos mais refratários, misturando nutrição com Espiritismo, é a que se refere à alimentação. Aprendemos a nos alimentar de forma errada desde crianças e quando a necessidade surge através de uma doença ou de um exame de sangue alterado, a resistência surge diante de nós como um monstro a nos impedir a transformação e nos empurrando para trás, adiando a modificação. Além disso, a alimentação é uma fonte de prazer a qual não queremos perder e uma recompensa para nossas ansiedades e problemas, ainda que passageira. Seja por necessidade de perda de peso ou doença, nas quais a dieta é fator fundamental, verificamos a resistência das pessoas à mudança de hábitos alimentares. Querem perder peso miraculosamente e sem esforço. Como nutricionista, vemos que alguns pacientes não passam em consulta conosco para orientação dietética porque acham que nós vamos os proibir de comer e preferem permanecer com exames de sangue alterados como, por exemplo, o colesterol alto. A insistência em hábitos errados, seja alimentares ou de outros tipos, cria raízes profundas que somente são arrancados com muita força de vontade e perseverança. Emagrecer, como tantas outras coisas, exige dedicação, respeito a si próprio, disciplina, comprometimento com o plano alimentar indicado e força de vontade.

Da mesma forma que os que dizem querer perder peso, na realidade, são poucos que o dizem com convicção, por querer preservar a saúde ou ainda por questões estéticas; os que dizem querer ganhar o reino dos céus com convicção também são poucos. A necessidade de perseverança, renúncia, disciplina, respeito a si próprio, a luta contra as más tendências fazem o candidato ao reino dos céus adiar sua subida. Nossa condição espiritual que nos prende aos níveis do vício e dos prazeres fáceis nos fazem renunciar ao esforço próprio e permanecer imóveis na escala evolutiva. Comovemo-nos ao pensar na vida de Chico Xavier, Divaldo Franco, Madre Tereza, Irmã Dulce e tantos outros nobres espíritos que dedicaram suas vidas aos semelhantes e queremos imitá-los. Porém, a vida material está aí cheia de atrativos, de portas largas e isso dificulta os corações ainda não preparados a abrir mão de um bar para ir a um trabalho assistencial ou a uma reunião de estudos doutrinários. Percebemos assim, que da mesma forma que é necessária a modificação de atitudes para o crescimento espiritual, a mudança de hábitos alimentares para a aquisição de saúde é imprescindível. E isso nos faz lembrar as antigas aulas de matemática onde aprendíamos os conjuntos. Nessa comparação com os conjuntos dizemos que a reforma alimentar está contida na reforma íntima. André Luiz nos conta em seu livro Missionários da Luz de pessoas candidatas ao desenvolvimento mediúnico que permaneciam com os mesmos vícios de alimentação adquiridos durante a vida, dificultando o acesso dos Benfeitores Espirituais e da sua própria concentração. A modificação de hábitos alimentares faz parte da nossa melhoria espiritual para aquisições mais nobres.

A conclusão errada que muitas pessoas tiram de que vão morrer por causa de uma doença mais grave, as leva ao endurecimento quanto à mudança de hábitos errados e assim em nossa prática profissional vemos pacientes diagnosticados com câncer continuarem a fumar e a beber. E ainda para reforçar esta ideia, a crença em uma única vida as faz querer aproveitar esta “única vida” de forma plena no gozo irrefreado de todo tipo de paixão.

Reforma íntima inclui mudança de hábitos alimentares, e para dizer isso nos apoiamos em André Luiz mais uma vez, quando nos fala de desenvolvimento mediúnico e de pessoas candidatas ao ministério mediúnico que sentiam dificuldade por estarem com caldos gordurosos e condimentos fortes em seus estômagos dificultando a concentração, mas…. não é fácil resistir ao “doce pecado da gula”.

Cuidar do corpo através de uma alimentação saudável entre outras práticas e do espírito através da oração, da caridade e da reforma íntima faz parte do nosso crescimento espiritual. A tarefa de cuidar do corpo é difícil, mesmo que se leve em conta tão somente o lado da vaidade. E a tarefa de cuidar do espírito, é tanto ou mais difícil. Disciplinar impulsos, eliminar vícios, participar de uma obra assistencial, abrindo mão de um momento de lazer, frequentar um templo religioso, aprendermos a gratidão e fazermos da oração a nossa companheira de todos os momentos são atitudes que certamente nos colocarão no caminho certo, rumo à Grande Luz da Vida.

Orleide Felix de Matos

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://br.pinterest.com/pin/203858320610613195/>. Acesso em: 16NOV2017.

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