porque algumas pessoas demoram para desencarnar

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Nossos apegos e o desencarne

novembro 22, 2017

Somos muito apegados a nossa família, aos amigos, a nossa casa e as nossas posses materiais. Mas quando desencarnarmos poderemos ou não sofrer muito ao separarmo-nos de tudo o que deixarmos aqui. Tudo vai depender de nossa evolução espiritual, de nossos merecimentos, inclusive para o próprio desligamento do perispírito do corpo físico.

Em O Céu e o Inferno, Allan Kardec, no capítulo 1 da segunda parte, intitulada A Passagem, esclarece sobre isso de maneira bem objetiva no item 8:

O estado moral da alma é a causa principal que influi sobre a maior ou menor facilidade do desligamento. A afinidade entre o corpo e o perispírito está em razão do apego do Espírito à matéria; está em seu máximo no homem cujas preocupações todas se concentram na vida nos gozos materiais; ela é quase nula naquele cuja alma depurada está, identificada por antecipação com a vida espiritual. Uma vez que a lentidão e a dificuldade da separação estão em razão do grau de depuração e de desmaterialização da alma, depende de cada um tornar essa passagem mais ou menos fácil ou penosa, agradável ou dolorosa.

Existem outros esclarecimentos que são verdadeiras pérolas nesse capítulo que, realmente, valem a pena serem lidos, caro leitor, mas aqui, selecionei somente os trechos para fundamentar a ideia aqui apresentada.

Após esse capítulo, Kardec faz uma exposição muito esclarecedora, onde espíritos de diferentes níveis de evolução deram os seus depoimentos de como foram os seus desencarnes, um em cada capítulo, nesta sequência: Espíritos Felizes, Espíritos numa Condição Mediana, Espíritos Sofredores, Suicidas, Criminosos Arrependidos e Espíritos Endurecidos.

Neste ensaio, nosso foco serão dois casos que exemplificam os resultados dos apegos às pessoas e às coisas materiais.

Um relato que nos chama atenção consta no capítulo Espíritos numa Condição Mediana, seria da Sra. Anna Belleville, que morreu aos trinta e cinco anos depois de uma longa e cruel doença. Era uma mãe devotada à família, com filhos em tenra idade, de belo caráter e de alma bondosa. Sofreu um acidente que causou a doença que lhe haveria de tirar a vida. Ficou muito tempo entre a vida e a morte. Quando se sentiu morrer, fez um grande esforço para não partir antes que pudesse fazer as recomendações necessárias ao marido e comunicar-lhe da sua morte. Ela sofreu muito tempo até morrer e relatou:

Eu mesma prolonguei os meus sofrimentos; o meu ardente desejo de viver para meus filhos fazia com que me aferrasse, de alguma sorte à matéria, e, contrariamente aos outros, obstinava-me e não queria abandonar esse infeliz corpo com o qual era necessário romper, e que, entretanto, para mim, era o instrumento de tantas torturas. Eis a verdadeira causa de minha longa agonia. Minha doença, os sofrimentos que suportei: expiação do passado, uma dívida mais a pagar.

No caso desta senhora foi-lhe permitido alongar o tempo de vida pelo nobre propósito que a movia, somente em caráter de exceção, esclareceu o Espírito de São Luís, respondendo a indagação de Kardec de que se era possível, por um esforço da nossa vontade, retardar o momento da separação da alma e do corpo.

Ela, segundo Kardec, desligou-se com admirável rapidez, levando-se em consideração o seu apego à vida corpórea, mas, por outro lado, tal apego foi enobrecido pelo propósito moral, pelo bem dos filhos, não sendo de caráter sensual ou material. O caso dela foi quase o um desencarne do tipo de Espíritos felizes.

Os nossos familiares ficarão conosco o tempo que Deus assim o determinar, e o nosso papel é aquele da resignação e subordinação ao que não podemos mudar, pois às vezes, amar de verdade é deixar ir. Só Deus sabe a hora certa do desencarne, não nós. Entregar-se às paixões desequilibradas ou por interesses materiais, caracterizariam o que Kardec chamou de apego de caráter sensual ou material, citado no parágrafo anterior, que só traria mais problemas e sofrimentos ao nosso espírito quando do desencarne.

Já no capítulo dos Espíritos Sofredores, temos um exemplo do que aconteceu a alguém que se apegou demais à matéria. Era um rapaz chamado Auguste Michel, rico, boêmio, gozando largamente e exclusivamente da vida material. Era inteligente, mas indiferente às coisas sérias. Não era uma má pessoa, mas também não fazia o bem. Ele desencarnou com uma terrível queda e ficou num grave estado de perturbação. Foi evocado por um médium que o conhecia. O Espírito pediu que o médium fosse orar por ele em sua tumba, pois estava sofrendo muito, sem entender porque estava tão ligado ainda ao seu corpo físico. Expressou o seu profundo arrependimento por ter levado uma vida inútil.

Kardec coloca uma observação interessante sobre esse caso:

A insistência do Espírito para que se fosse orar sobre a sua tumba é uma particularidade notável, mas que tem a sua razão de ser, considerando-se o quanto eram tenazes os laços que o detinham ao corpo, e quanto a separação era longa e difícil, em consequência da materialidade de sua existência.

Vemos então, que os apegos às coisas materiais na vida, não nos convém. Precisamos de dinheiro, de vestuário, de lazer, mas devemos usá-los com equilíbrio e prudência. Eles são elementos que nos proporcionam conforto, mas não podem ser fatores determinantes de nossa felicidade.

Jesus nos orientou quanto a esses perigos dos apegos:

Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro aí estará também o teu coração. (Mt. 6:19-21)

Quem se esforça em ser melhor moralmente, em vigiar suas próprias ações e pensamentos não deve temer a morte. Quanto aos nossos entes queridos, a nossa alma sempre estará perto de quem amamos. Que nos apeguemos ao Amor e à Caridade, aos ensinamentos de nosso Mestre, desapegando-nos sim do que sabemos não nos servir, fazendo brilhar a nossa luz, aproveitando este tempo precioso que Deus nos deu.

Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <https://goo.gl/ZwhmBV>. Acesso em 22NOV2017.

 

Maria Lúcia Garbini Gonçalves
Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Tradutora, mora em Porto Alegre/RS, estudante da Doutrina Espírita, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier como médium.

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