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O grande tesouro

abril 21, 2018

Inspirando-se, provavelmente, no filósofo grego Teofrastos (372-288 a.C), que proclamava ser muito caro o tempo, Benjamin Franklin (1706-1790) criou a máxima Time is money (Tempo é dinheiro), muito valorizada pelas pessoas que vivem em função dos bens materiais, empenhando seus dias a esse mister.

Tal concepção tornou-se típica da mentalidade empresarial, particularmente, entre os norte-americanos. Perder tempo para eles é jogar dinheiro fora.

Mas é uma injustiça ao grande estadista americano, esse homem extraordinário que seus contemporâneos chamavam “apóstolo dos tempos modernos”, situá-lo como alguém interessado em empenhar seu tempo em favor do “vil metal”.

O móvel de suas ações, muito acima de meros interesses imediatistas, era o saber, não por mero diletantismo, mas como um instrumento valioso em favor do bem comum.

Menino pobre, alfabetizou-se sozinho e, empenhado em aprender sempre, foi apreciado escritor, próspero editor, inventor genial (criou o para-raios) e admirável estadista (participou com Thomas Jefferson e Samuel Adams da redação da declaração de independência dos EE.UU e integrou a assembleia que redigiu a avançada constituição norte americana).

Um detalhe interessante: foi reencarnacionista, e o epitáfio que preparou para sua sepultura, fazendo referência a uma de suas atividades, diz bem sobre o assunto:

“O corpo de Benjamin Franklin, tipógrafo, como a capa de um livro velho, seu conteúdo despedaçado e despido de seu título e de seus dourados, aqui jaz, alimento para os vermes.
Mas o trabalho não será perdido, pois, como ele acredita, aparecerá mais uma vez, em nova e mais elegante edição, revista e corrigida pelo autor.”

Por tudo o que fez, pelo aproveitamento integral de seus 84 anos muito bem vividos, Benjamin Franklin deixa bem claro que ao proclamar time is money está recomendando que devemos ver no tempo uma moeda que não deve ser jogada fora, porquanto é com ele que “compramos” cultura, conhecimento, virtude, sabedoria e etc.

***

As moedas têm dois valores:

Extrínseco, nominal, aquele que nela inscrevemos. Há moedas de um, cinco, dez, vinte e cinco e cinquenta centavos, bem como de um real, circulando pelo Brasil.

Intrínseco, substancial, representado pelo peso do metal usado. Por isso mesmo não se pode usar o ouro para cunhar uma moeda de dez centavos. Ainda que minúscula, seu valor intrínseco seria muito maior. Ela simplesmente desapareceria de circulação, porquanto as pessoas a derreteriam para vender o ouro.

Algo semelhante ocorre com o tempo.

O valor extrínseco, nominal, de uma hora é o mesmo para todos nós.

Mas o valor intrínseco, real, depende do que dela estivermos fazendo.

O eficiente professor ministra uma aula.

Seu valor extrínseco é o mesmo para todos: 60 minutos de aprendizado.

Mas o valor intrínseco, íntimo dessa hora, só pode ser avaliado individualmente.

O aluno distraído, desatento, desinteressado, pensamento longe, joga fora esses sessenta minutos, perde tempo.

O aluno atento, interessado, participativo, disposto a trocar ideias com o professor e fazer anotações, estará aproveitando, integralmente, o ensejo, “comprando” com essa hora conhecimentos que enriquecerão seu patrimônio cultural e intelectual.

***

Um século marca, extrinsecamente, o tempo de uma vida, considerada a programação biológica da raça humana, o período de preparo para a reencarnação e de readaptação à vida espiritual.

Num século poderemos adquirir valores imperecíveis de virtude e conhecimento que, segundo Jesus, as traças não roem nem os ladrões roubam.

Mas, se não tivermos cuidado, um século poderá representar para nós apenas a lamentável semeadura de vícios e paixões, desatinos e desajustes, com colheita obrigatória de sofrimentos e dores.

O apóstolo Paulo, o admirável arauto da Boa Nova, era bastante enfático a esse respeito:

Não vos iludais. Deus não se deixa escarnecer. Tudo aquilo que o Homem semear haverá de colher. (Gálatas, 6-7)

Tudo o que fazemos volta para nós, tanto o bem quanto o mal, segundo os princípios de Causa e Efeito que nos regem.

Só há uma exceção.

O tempo.

Se não aproveitado é patrimônio dilapidado na contabilidade divina, a empobrecer o futuro.

Por falar nisso, leitor amigo, uma perguntinha:

O que você tem feito de seu tempo?

Richard Simonetti

Nota do Editor:
Imagem em destaque ‘Reprodução de “A Persistência da Memória”, de Salvador Dalí’ disponível em <http://www.ufrgs.br/secom/ciencia/fisico-fala-das-investigacoes-sobre-o-conceito-de-tempo/>. Acesso em 21ABR2018.

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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