Voando mais alto

Márcio Costa
24/06/2018
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Em um voo comercial embarcam um jovem estudante e um renomado engenheiro. Lá fora, as primeiras luzes do amanhecer começam a envolver o céu do aeroporto.

O garoto, tomado pelo medo de voar pela primeira vez, ocupa o seu assento ao lado da janela ainda marcada pela frieza do orvalho matutino. Mergulhado na ansiedade, nem se dá conta do senhor de terno que, com distinção e altivez, senta-se ao seu lado.

O avião não tarda a iniciar as suas manobras para entrar na pista de decolagem. Enquanto isso, cada aviso do comissário de bordo e cada balanço dado pela aeronave ainda em solo eram motivos para o jovem ser tomado de susto. Suas mãos suavam frio.

Percebendo a aflição do rapaz, o senhor dá um leve sorriso e o interpela:

– É o seu primeiro voo, não é? Fique tranquilo, é muito seguro.

A única resposta foi um desvio de olhos arregalados para a asa do avião, onde a turbina já se fazia notar com aquele ruído típico e imponente.

Decolaram.

Em poucos minutos ascenderam aos céus. As nuvens mais baixas foram vencidas e no horizonte pairava um tapete de algodão com um belíssimo céu que recebia os primeiros raios do Sol.

Logo, o medo dá lugar a uma contemplação celeste sem igual, estampado nas emocionadas feições do estudante. De sua janela podia divisar o astro-rei surgindo com toda a sua magnitude entre as nuvens, aquecendo o frio que antes lhe estremecia.

A notável mudança de comportamento chama mais uma vez atenção do senhor ao seu lado.

– É perfeito, não é? – comenta com uma entonação de orgulho.
– Sim, sim, sensacional. Perfeito! – responde o jovem sem tirar os olhos da janela.
– Seria capaz de passar anos funcionando sem falhas. – disse o engenheiro, apontando para a janela.
– Não tenho dúvidas disso. Nunca tinha visto daqui de cima. É maravilhoso.
– Então, … eu fui um dos engenheiros que projetou.

Surpreso, o estudante desviou os olhos da janela para o aquele senhor e pergunta:

– De que o senhor está falando?
– Da turbina, é claro! Não é dela e do avião que você está admirado? – argumenta orgulhoso.
– Eu estava olhando o Sol!

* * *

Envolvidos em nossos pequenos sistemas, limitados ao nosso conhecimento, muitas vezes deixamos passar despercebidas as maravilhosas obras da criação Divina.

Desde a pequena flor que exala seus perfumes nos campos até a grandiosidade das imensas galáxias que povoam o universo, Deus se revela na perfeição e na beleza de cada detalhe que perdemos a oportunidade de contemplar com os nossos sentidos.

Mergulhados nas ilhas de sociedade moderna, muitos de nós despertamos sem perceber o canto dos pássaros pela manhã, cruzamos o dia sem contemplar os detalhes da natureza a nossa volta e voltamos ao final de um dia de trabalho sem admirar as estrelas.

Uma máquina pode funcionar por anos a fio, mas terá seu fim muito antes das engrenagens universais que, perfeitamente, realizam seus ciclos orquestrados pela harmonia das Leis Divinas, iluminando planetas, orbitando entorno de astros, cruzando o espaço por bilhões de anos sem nenhum erro sequer.

E Deus, com sua imensa bondade infinita, ocupando-se com todos os seres que criou, por mais pequeninos que sejam, não destitui de valor nenhum deles. (KARDEC, 2013, no 963)

Deus está em toda parte desta imensa criação, atento a cada detalhe, a cada emanação mental, e nós estamos nele, mergulhados no fluido cósmico universal que envolve toda a sua obra.

Que possamos abrir nossos corações para sentir a presença acolhedora do Seu amor em nosso foro mais íntimo e perceber toda a Sua grandeza que nos envolve a cada dia, impulsionando-nos para a caridade, para o amor e para o progresso.

Márcio Martins da Silva Costa

Referências Bibliográficas:
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 93a ed. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://pixabay.com/pt/avião-viagem-jornada-passear-841441/>. Acesso em: 11AGO2017.

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