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Espiritismo à moda da casa

março 21, 2019

Jesus previu que Seus ensinos seriam desvirtuados e esquecidos

 “O Espiritismo será o que os homens o fizerem”.
Léon Denis

Confesso que a assertiva em epígrafe do grande e singular continuador de Kardec causava-me muita estranheza… Mas, não estávamos sozinhos nessa situação: tínhamos boa companhia: Vinícius, (pseudônimo de Pedro de Camargo). Só que ele (Vinícius) conseguiu compreender – com propriedade e cerrada lógica – o “espírito” do pensamento de Denis, conforme podemos verificar em seu livro: “O Mestre na Educação” (1). Eis sua explicação: “(…) essa frase do eminente e destacado filósofo, com franqueza, impressionou-me mal, durante mui­to tempo… Eu não me acomodava com o conceito de Denis. Achava que ele fora infeliz naquela expressão, porque o Espiritismo é a Verdade e a Verdade é o que é e não o que os homens pretendem que seja…

Mais tarde, porém, com a reserva de experiências que fui acumulando, verifiquei que Léon Denis tem toda a razão no que disse a propósito da Dou­trina Espírita. Realmente, as coisas se passam neste mundo, tal qual o conceito daquele conspícuo pensador. As palavras são as vestes das ideias.  Os homens as interpretam segundo os seus interesses e pendores pessoais, das suas escolas e partidos.  É as­sim que eles mudam as vestiduras de uma ideia para outra, muito diversa, e, insistindo nessa troca, acabam conseguindo que o falso passe como verdadeiro, o irreal como pura evidência.  A história humana está repleta de fatos dessa espécie.

Vejamos, por exemplo, o que foi o Cristianismo no seu berço, na sua fonte pulcra e o que é nos dias que correm… Que fizeram os homens do século do Cristianismo?  Jesus predicou e deu testemunho de mansuetude, de solidariedade e das relações fraternas que devem servir de norma à vida humana. Partindo da Paternidade Divina, irmanou raças, nações e povos, abolindo as causas de separação. Fez notar, enfaticamente, que as finalidades do destino estão na conquista do reino de Deus, que é o da justiça, da liberdade e do amor.  Sob a égide de tais postulados, Jesus afirmou: “Eu venci o mundo”. O que fizeram os homens, repetimos, dessa divina Doutrina? Abandonaram aqueles sábios preceitos, enveredaram pela estrada do despotismo, empregando a violência em vez da mansuetude. Ao uso da razão, ao emprego da inteligência entrosada no sentimento, para resolver os seus problemas, o homem preferiu o canhão e as bombas incendiárias que arrasam cidades e talam os campos, esquecidos de que Jesus proclamara ter vencido o mundo utilizando-Se, apenas, de forças espirituais.

(…) Concluímos, pois, que o Cristianismo não permaneceu o que realmente é, mas ficou sendo o que os homens fizeram dele”.

Kardec aduz (2): “(…) que fizeram os homens das máximas de caridade, de amor e de tolerância de Jesus? Que fizeram das recomendações que fez a Seus apóstolos para que convertessem os homens pela brandura e pela persuasão; da simplicidade, da humildade, do desinteresse e de todas as virtudes que Ele exemplificou?! Em Seu nome, os homens se anatematizaram mutuamente e reciprocamente se amaldiçoaram; estrangularam-se em nome d`Aquele que disse: “todos os homens são irmãos”.  Do Deus infinitamente justo, bom e misericordioso que Ele revelou, fizeram um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial; àquele Deus, de paz e de verdade, sacrificaram nas fogueiras, pelas torturas e perseguições, muito maior número de vítimas, do que as que em todos os tempos os pagãos sacrificaram aos seus falsos deuses; venderam-se as orações e as graças do Céu em nome d`Aquele que expulsou do Templo os vendedores e que disse a Seus discípulos: “dai de graça o que de graça recebestes”.  (§ 5º).

Que diria o Cristo, se viesse hoje entre nós?  Se visse os que se dizem Seus representantes a ambicionar as honras, as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo, ao passo que Ele, mais rei do que todos os reis da Terra, fez a Sua entrada em Jerusalém montado num jumento?  Não teria o direito de dizer-lhes:  “Que fizestes dos meus ensinos, vós que incensais o bezerro de ouro, que dais a maior parte das vossas preces aos ricos, reservando uma parte insignificante aos pobres, sem embargo de haver eu dito: os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no Reino dos Céus?”.  (§ 6º).

Quando Jesus prometeu a vinda do outro “Consolador”, Ele deixou bem claro que Seus ensinos precisavam de complementações importantes que só mais tarde poderiam ser compreendidas. Assim, além de o Paleocristianismo estar incompleto, ele foi adulterado em quase sua totalidade pelos ecônomos infiéis que deveriam custodiá-lo com zelo e carinho.   Por isso, com toda razão, o Codificador do Espiritismo afirmou (3):

“(…) As religiões que se fundaram no Evangelho não podem dizer-se possuidoras de toda a verdade, porquanto Jesus, reservou para Si a completação ulterior de Seus ensinamentos. O princípio da imutabilidade, em que elas se firmam, constitui um desmentido às próprias palavras do Cristo.

Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda d`Aquele que havia de ensinar todas as coisas e de  lembrar o que Ele dissera.  Logo, não estava completo o Seu ensino.  E, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por Ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de Seus ensinos”.

Vinícius encerra seu pensamento indagando (1): “(…) que pretendem os homens fazer do Espiritismo, desviando-o de sua finalidade precípua e verdadeira, que é, como desdobramento do Cristianismo, acender o facho da luz no interior das consciências, regenerando e reformando o homem através da educação, tal como exemplificou o Divino Mestre em Sua passagem por este mundo?”

O Espiritismo à moda da casa está grassando em acintoso detrimento do conteúdo codificado pelo Mestre Lionês. E a continuar esses desvios bastardos, em pouco tempo a Doutrina Espírita perderá a sua condição de Consoladora e Alforriadora de Almas, tornando-se apenas mais um inócuo “ismo” a se juntar aos demais que existem por aí.

Acordemos espíritas!… É alto o preço cobrado no Mundo Maior aos causadores de escândalos!  Há que se levar em conta a séria advertência do Espírito de Verdade (4):

“(…) Estudai, comparai, aprofundai… Incessantemente vos dizemos que o conhecimento da Verdade só a esse preço se obtém. Como quereríeis chegar à verdade, quando tudo interpretais segundo as vossas ideias acanhadas, que, no entanto, tomais por grandes ideias? Longe, porém, não está o dia em que o ensino dos Espíritos será por toda parte uniforme, assim nas minúcias, como nos pontos principais. A missão deles é destruir o erro, mas isso não se pode efetuar senão gradativamente”.

“Longe, porém, não está o dia em que o ensino dos Espíritos será por toda parte uniforme”…  Esta frase do Espírito de Verdade, não deixa dúvida de que estarão de fora das hostes espiritistas todos aqueles de cultivaram as árvores que Jesus não plantou. Sem prognosticarmos hecatombes apocalípticas, entendemos que esses serão atados em feixes e levados ao fogo das expiações corretivas, onde haverá “choros e ranger de dentes”.   

Rogério Coelho

Referências:
(1) VINÍCIUS (Pedro de Camargo). O Mestre na educação. 6ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 1976, cap. 25.
(2) KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed.Rio [de Janeiro]: FEB, cap. XVII, item 30, § 5º e 6º.
(3) Idem, ibidem, cap. XVII, item 37.
(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed.Rio de Janeiro:FEB, 2ª parte, cap. XXVII, item 301, § 4º.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em
<https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/1898/diluvio-de-livros-equotespiritasequot-delirantes>. Acesso em: 21MAR19.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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