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O requinte do sentimento

maio 30, 2020

Um gato preto mudou-se para o quintal de minha casa. Não gostei muito, porquanto tenho de confessar que não tenho afinidade com animais. Nunca tive bichinhos de estimação e não seria depois dos 30 que iria me aventurar a cuidar de um gato. Porém, sempre que ele chora, muito mais pela cobrança da consciência do que por amor, ofereço ao felino um pouco de comida. Ele naturalmente se farta, vai embora e retorna apenas quando seu estômago acusa.

As visitas constantes do indesejado bichano deixaram-me pensativo e fizeram admirar demais a capacidade de doar amor que algumas pessoas têm. É notável ver como há gente preocupada com o destino dos animais. Lembro-me de uma vizinha que dedicava amor e carinho a mais de 30 gatos. Uma beleza! Atitude louvável, sem dúvida.

E lendo o Evangelho Segundo o Espiritismo deparei-me com uma página repleta de nobres ensinamentos, no tópico “Amai ao próximo como si mesmo”, assinada pelo Espírito Lázaro, datada do ano de 1862.

Diz Lázaro: “No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento”.

Belíssimas palavras!

O amor é, de fato, a realeza de nossos sentimentos. Quando atingirmos a capacidade de amar a tudo e todos certamente gozaremos de inenarrável paz de consciência.

Aprendemos com a Doutrina Espírita que os animais são nossos irmãos menores, a caminho da evolução. É necessário, obviamente, dedicar-lhes apreço e, num estágio mais avançado, amor.

Entretanto, se é verdade que os animais são nossos irmãos, também é legítimo que as pessoas são nossas irmãs. Logo, o amor deve ser estendido a elas. Natural que seja assim.

E para o progresso de nosso planeta é imprescindível praticar o amor às pessoas. Não um amor teórico, escrito em páginas, mas um amor amplo, abrangente e transformador.

Sei de um amigo empresário que investe milhões em máquinas para equipar a empresa, mas também investe milhões na capacitação de seus colaboradores. Paga-lhes cursos, treinamentos, contrata equipe de palestrantes, incentiva os funcionários a estudar, arcando com parte das despesas de seus estudos. Ora, capacitar os colaboradores equivale a amá-los, porque o amor instrui, esclarece e trabalha pela melhoria das criaturas.

Alguns dirão que meu amigo faz isso pelo interesse pecuniário. Posso garantir que não. Conheço-o bem e sei que seu amor pelo progresso do ser humano está acima de qualquer outro interesse. Ademais, os bens acumulados ao longo dos anos, garantiram-lhe tranquilidade financeira, logo ele não mais necessita da empresa, e se ainda mantém o negócio em atividade é para proporcionar condição de trabalho digna ao semelhante.

Curiosamente, dia desses assisti na televisão a emocionante mobilização para desencalhar uma baleia. Todos se compadeceram da situação do mamífero e salvaram-no da morte. Beleza! A união fez a força. Essa mobilização, indubitavelmente, é um treinamento para o amor.

Mas, na mesma semana em que assisti a matéria na mídia televisiva, visitei a cidade de São Paulo e observei muita gente deitada nas calçadas da grande metrópole, vítimas do abandono, das drogas e dos vícios degradantes, e ninguém se mobilizava para salvar esses seres humanos. São os paradoxos. Capazes de salvar uma baleia e indiferentes às dificuldades de seus irmãos de caminhada.

Amar um cachorro, por exemplo, é muito fácil. São animais carinhosos, fiéis, amigos, além do que, não discordam de nosso ponto de vista, não nos aborrecem com reclamações e, tampouco criticam nossa maneira de ser e agir. As pessoas, ao contrário, discordam, reclamam e, muitas vezes, não agradecem, têm crises, medos, receios e dificuldades. Equivocam-se, sofrem de mau humor, caem nas armadilhas da maledicência e etc.

Como podemos perceber urge trabalharmos nosso sentimento para aprendermos amar as pessoas. Compreender que elas não são como os cachorros, mas também têm seus valores e virtudes.

Reitero minha admiração pelas almas empenhadas em amar os animais, eu mesmo não desenvolvi essa capacidade, no entanto, não posso deixar de registrar que amar as pessoas também é fundamental, embora seja, pelos motivos expostos acima, muito mais complexo.

Wellington Balbo

 

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://pixabay.com/photos/cat-yard-street-field-meadow-4376980/>. Acesso em: 30MAI2020.

Wellington Balbo
Wellington Balbo

Professor universitário, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática, Escritor e Palestrante Espírita com seis livros publicados: Lições da História Humana; Reflexões sobre o mundo contemporâneo; Espiritismo atual e educador; Memórias do Holocausto (participação especial); Arena de Conflitos (em parceria com Orson Peter Carrara); Quem semeia ventos... (em parceria com Arlindo Rodrigues).

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