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O Dever

novembro 15, 2020

Em o Evangelho Segundo o Espiritismo, temos no capítulo 17, item 7, as instruções do Espírito Lázaro sobre “o Dever”. Vejamos:

“Na prática, o dever reflete todas as virtudes morais; é uma fortaleza da alma que enfrenta as angústias da luta diária. O dever é severo e dócil. Está sempre pronto a se submeter às mais diversas situações, mas permanece sempre firme perante as tentações. Aquele que cumpre seu dever, ama mais a Deus do que aos homens, e aos homens mais do que a si mesmo. É, ao mesmo tempo, juiz e escravo em causa própria.” (1)

Talvez o leitor lembre-se do caso exposto pela mídia sobre a promotora que recebeu denúncias de estudantes que gazeavam aula para tomar bebida alcoólica e ao chegar ao local encontrou dentre os jovens seu próprio filho. Após escutá-los, liberou todos com termos de responsabilidades aos pais, exceto seu filho. Mesmo com a argumentação do delegado de que não havia cela especial para menores, ela respondeu: “Não tinha, delegado, agora tem, escreve cela especial e pregue na porta e bote ele lá dentro pra ele aprender que ser filho de promotor não dá a ele nenhuma prerrogativa, pra ele aprender que ele é igual a todos os outros, aliás, pior, ele é filho de alguém que tem que fiscalizar o cumprimento da lei.” (2)

A atitude digna dessa promotora e mãe é um exemplo de que o “dever é severo e dócil”; ela foi severa, porém dócil se compararmos com o modo bem mais duro como a vida o teria ensinado. Não deve ter sido nada fácil para ela prender o próprio filho, mas ela cumpriu o seu dever de mãe e de profissional da justiça, logo ela amou mais a Deus e ao seu filho que a si mesma. Ela entendeu a responsabilidade de uma autoridade e de um ser humano que precisa passar valores aos mais jovens.

No mesmo item 7 acima citado do Evangelho, temos o seguinte ensinamento: “O dever íntimo do homem é governado pelo seu livre-arbítrio; a consciência está sempre o advertindo contra as condutas erradas. Ainda assim, ele, muitas vezes, se deixa levar pelos enganos da paixão. O homem se eleva quando observa, fielmente, os deveres do coração, que nada mais são que os seus valores interiores. Mas como esses deveres podem ser determinados? Onde começam? Onde terminam? Os deveres começam, precisamente, no ponto onde se ameaça a felicidade ou a tranquilidade do próximo e terminam no limite em que não se desejaria ver a própria felicidade ou tranquilidade ameaçadas.” (3)

Vemos então que não seremos bons conosco mesmos quando nos impusermos deveres que ameaçam a nossa própria felicidade ou até saúde. Temos assistido nos noticiários da mídia inúmeros casos de mulheres que são covardemente agredidas por seus esposos. Elas estão impossibilitadas de cumprirem o dever de manterem-se no casamento, que é uma instituição sagrada, sob pena de perder a própria vida e dignidade. Nesse caso, a mulher que ama a si mesma haverá de separar-se do homem que não cumpriu com o seu dever de amá-la e protegê-la.

Nesta epidemia do COVID-19 pela qual todos nós passamos, somos convidados ao exercício do dever de escutar as recomendações das autoridades de saúde, tomando as devidas precauções para que o vírus não se alastre. Quando um dever tão importante quanto esse é violado, torna-se uma irresponsabilidade de efeitos muito nocivos ao praticante e aos outros.

Léon Denis nos fala sobre o dever em sua obra Depois da Morte, vejamos este trecho:

“Todos os Espíritos superiores têm profundamente enraizado em si o sentimento do dever; é sem esforço que seguem a própria rota. É por uma tendência natural, resultante dos progressos adquiridos, que se afastam das coisas vis e orientam os impulsos do ser para o bem. O dever torna-se, então, uma obrigação de todos os momentos, a condição imprescindível da existência, um poder ao qual nos sentimos indissoluvelmente ligados para a vida e para a morte.” (4)

Ou seja, quanto mais elevado for o espírito, mais internalizado estará o seu senso de dever, pois está fundido ao amor ao próximo, tudo num pacote só.

No momento em que nós, espíritas, tornamo-nos cientes das Leis Morais estabelecidas por Deus em O Livro dos Espíritos, bem como de todos os ensinamentos de Jesus em Seu Evangelho, sabemos de nossos deveres, então resta-nos pô-los em prática. Já compreendemos que é nosso sagrado dever, por mais difícil que nos pareça. O bom é que temos tempo, que um lindo futuro nos aguarda.

Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Referências Bibliográficas:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Por Claudio Damasceno Ferreira Junior. Porto Alegre: Besouro Box, 7 ed. 2015, p. 208;
(2) Blog do Cleuber Carlos – link encurtado <https://tinyurl.com/y5xhwnet>;
(3) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Por Claudio Damasceno Ferreira Junior. Porto Alegre: Besouro Box, 7 ed. 2015, p. 207;
(4) DENIS, Léon. Depois da Morte. Brasília: FEB, 28 ed. 2016, p. 243.

Maria Lúcia Garbini Gonçalves
Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Tradutora, mora em Porto Alegre/RS, estudante da Doutrina Espírita, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier como médium.

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