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Caráter da Revelação Espírita

julho 15, 2021

O Espiritismo apresenta características comuns às filosofias espiritualistas, como, por exemplo, a crença na existência de Deus e na sobrevivência do Espírito. Contudo, bem diversa é a interpretação que dá a esses assuntos.  Faz-se, pois, necessário, compreender com clareza os postulado espíritas, para que não se desenvolvam conhecimentos espíritas distorcidos. Allan Kardec ensina, a propósito:

O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.(1)

Vemos assim, que o caráter da Revelação Espírita apresenta dois fundamentos que o espírita não deve desconhecer: a universalidade do ensino e  a unidade doutrinária.

Tais fundamentos não surgiram aleatoriamente, nem se originaram de interpretações pessoais, de um ou outro Espírito, encarnado ou desencarnado.  Ao contrário, são esclarecimentos que procedem uma  coletividade de Espíritos altamente qualificada. Daí a óbvia conclusão de que o Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas que não tem a personificá-la alguma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários. É, de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera.

Outro ponto fundamental, porém não menos importante, é que o Espiritismo constitui-se uma doutrina espiritualista, transmitida aos encarnados na forma de uma revelação mediúnica, à semelhança do judaísmo e do islamismo. O cristianismo é também uma revelação, mas foi  transmitida diretamente pelo Cristo, o Messias divino. O fato de existirem revelações mediúnicas não significa que são , todas elas, confiáveis, como bem destaca Allan Kardec:

A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por conseguinte, não existe revelação. Toda revelação desmentida pelos fatos deixa de o ser, caso seja atribuída a Deus. E, visto que não podemos conceber Deus mentindo, nem se enganando, ela não pode emanar dele; logo, deve ser considerada produto de concepção humana.(2)

Os critérios de uma revelação mediúnica e os da revelação científica são diferentes: enquanto a verdade cientifica é considerada verdade relativa, visto que  se   aprimora com o passar do tempo, pelo desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia, a revelação moral é verdade que não se modifica, em razão do seu caráter universal e atemporal: os seus princípios são comuns a todos as filosofias, às tradições culturais e às religiões do mundo. O que se modifica, em relação à verdade moral, é o aprendizado humano, que é desenvolvido à medida que a pessoa passa a ter noção mais apurada do que é o bem e do que é o mal.

Neste sentido, a regra da boa conduta ética e moral, denominada Regra de Ouro, foi também lembrada por Jesus, como consta nesse registro de Mateus (7:12): Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles façam a vocês; pois esta é a Lei e os Profetas. Esse conceito, porém,  faz parte dos  ensinamentos universais, filosóficos e religiosos, de todos os tempos.

Assim, qualquer ensinamento revelado mediunicamente só é considerado verdadeiro e legítimo se for verdadeiro, atemporal e de aplicação universal. No campo científico, ainda que as revelações sejam parciais, de acordo com o avanço científico e tecnológico, há, contudo, regras de análise e aceitação. Não é suficiente que um cientista, mesmo sendo pessoa renomada, conclua a respeito de algo. Faz-se necessário submeter o achado ao comitê científico internacional, a fim de que o resultado obtido seja reproduzido por outros cientistas e/ou pesquisadores em diferentes partes do mundo. Se os resultados forem concordantes, o comitê científico define como verdade científica universal. Da mesma forma, em relação às revelações mediúnicas ou anímicas (do próprio indivíduo): serão aceitas como verdades se houver um consenso universal, dos encarnados e dos desencarnados: este é, em suma o critério da universalidade do ensino dos Espíritos. Caso contrário, é considerada opinião pessoal ou mistificação (se se caracterizar como uma mentira ou inverdade)

Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por um caminho mais rápido e mais autêntico; por isso encarregou os Espíritos de irem levá-la de um polo a outro, manifestando-se por toda parte, sem conferir a ninguém o privilégio exclusivo de lhes ouvir a palavra. Um homem pode ser enganado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas veem e ouvem a mesma coisa: é uma garantia para cada um e para todos.

[…]

Essa universalidade no ensino dos Espíritos faz a força do Espiritismo; aí reside também a causa de sua tão rápida propagação. Ao passo que a palavra de um só homem, mesmo com o concurso da imprensa, levaria séculos para chegar ao conhecimento de todos […]. (3)

A unidade doutrinária, por outro lado, define a autoridade da Doutrina Espírita em relação ao consenso dos princípios que regem a sua teoria (postulados) e a sua prática, os quais estão consubstanciados nas obras básicas do Espiritismo, codificadas por Allan Kardec: “O primeiro controle é, incontestavelmente, o da razão, ao qual é preciso submeter, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em notória contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos que se possui, deve ser rejeitada por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura.[…]. (4)

A concordância no que ensinam os Espíritos é, pois, o melhor controle, mas é preciso ainda que ocorra em determinadas condições. A menos segura de todas é quando o próprio médium interroga vários Espíritos acerca de um ponto duvidoso. Evidentemente, se ele estiver sob o império de uma obsessão ou lidando com um Espírito mistificador, este lhe pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes. Também não há garantia suficiente na conformidade que apresente o que se possa obter por diversos médiuns, num mesmo Centro, pois eles podem estar todos sob a mesma influência. A única garantia séria do ensino dos Espíritos está na concordância que exista entre as revelações que eles façam espontaneamente, por meio de grande número de médiuns estranhos uns aos outros, e em diversos lugares. (5)

Eis dois exemplos , entre tantos outros, que ilustram a unidade ou consenso doutrinário do Espiritismo;

  • O Espiritismo é considerado o consolador prometido por Jesus, consoante essa promessa do Cristo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. [,,,] Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”( João, 14: 16-17 e 26)

Cristo é o Modelo e Guia da Humanidade (6): “Para o homem, Jesus representa o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque, sendo Jesus o ser mais puro que já apareceu na Terra, o Espírito Divino o animava.” (7)

Marta Antunes Moura

Referências:
(1) KARDEC, Allan. A Gênese.  Cap. I, it. 12;
(2) KARDEC, Allan. A Gênese. Cap. I, it, 12;
(3) KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Introdução II, p.16-17;
(4) _______. P.17;
(5) _______. p. 18;
(6) _________. O livro dos espíritos. Q. 625; e
(7) _________. Q. 625-comentário.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em < https://kardec.blog.br/allan-kardec-sobre-o-carater-da-revelacao-espirita-silvio-s-chibeni/>. Acesso em: 15JUL2021.

Marta Antunes de Moura
Marta Antunes de Moura

Coordenadora Nacional da Área de Unificação da Federação Espírita Brasileira (FEB) e Vice-presidente da FEB.

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