Reencarnação e Metempsicose

Renato Confolonieri
24/07/2021
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O Livro dos Espíritos, que contém os princípios da Doutrina Espírita, dá-nos conta e ciência da imortalidade da alma, da natureza do mundo espiritual e das relações dos espíritos com os encarnados. Também traz as leis divinas ou morais, descortina a vida presente, a vida futura e o futuro da humanidade.

Compulsando esse primeiro volume da codificação, bem como as demais obras que podem ser consideradas subsidiárias, temos que o Espiritismo é assentado sobre cinco pilares: a existência de Deus, a imortalidade da alma (ou do espírito), a pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos habitados, e a comunicabilidade dos espíritos.

Cada um desses pilares trazem, como não poderia deixar de ser, a sustentação dos ensinos dos espíritos, as bases ou princípios sob os quais a Doutrina Espírita se alicerça, sendo distribuídos, como se acredita ter dito, por todo O Livro dos Espíritos, os outros livros da codificação, e as referidas obras complementares.

Dentre esses alicerces, aquele que nos interessa no presente momento é o relacionado à pluralidade das existências, podendo ser chamado de reencarnação.

Aqui, torna-se didático definir a acepção correta do termo reencarnar. Encarnar significa mergulhar na carne, tratando-se do momento em que o espírito nasce para a vida chamada física – aliás, essa é a diferença entre espírito e alma, já que essa é o espírito encarnado. Assim, e por consequência, reencarnar significa nascer de novo na carne, equivalendo a renascimento.

A tal respeito, as respostas dos benfeitores espirituais às questões 166 a 170 de O Livro dos Espíritos são bastante claras quanto à reencarnação. Contudo, e a nosso sentir, é uma parte da observação de Allan Kardec na resposta à questão 171 que esclarece de uma vez o assunto: todos os espíritos tendem à perfeição e, para isso, Deus lhes fornece os meios pelas provas da vida corpórea; mas, em Sua justiça, faculta-lhes realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.

Outro vocábulo que é utilizado como sinônimo de reencarnação é palingênese ou palingenesia, cuja etimologia vem do grego Palim = de novo, e Genesis = origem, ou seja, novo nascimento.

Esses conceitos de reencarnação e palingenesia acabam por levar os estudiosos, principalmente os neófitos e os meramente curiosos, a outro, o de metempsicose, sendo os termos muitas vezes confundidos. E o problema é tão importante que foi tratado nas questões 611 e 612 de O Livro dos Espíritos.

Metempsykhósis é uma palavra grega, com a sua origem histórica remontando ao Egito antigo. Por esse conceito, pressupõe-se haver a possibilidade da transmigração dos espíritos, após a desencarnação, de um corpo para outro, sem que sejam da mesma espécie evolutiva. Seria o renascimento de um ser humano como um animal, por exemplo, em uma concepção deveras distorcida, como, infelizmente, alguns entendem a reencarnação.

Segundo Ricardo Di Bernardi – capítulo 14 do seu livro Temas Polêmicos do Século XXI – a metempsicose é, geralmente, encontrada nas culturas primitivas, nos mais diferentes aspectos. Os seus adeptos creem que uma alma animará, sucessivamente, diversos corpos, que podem ser tanto de seres humanos, quanto de animais (até insetos), ou vegetais. Explica o autor que os egípcios suponham ser a metempsicose uma punição dos deuses, por comportamento indevido, o renascer como um gato, um camelo, cavalo, ou na condição de outros animais.

Como se vê, a confusão entre reencarnação e metempsicose vem de muitos séculos, ainda que não se saiba diferenciar um termo do outro, ou mesmo que não se tenha os dois conceitos – completamente diferentes entre si – bem apartados na mente.

Voltando ao que os benfeitores espirituais nos elucidaram em O Livro dos Espíritos, não existe a possibilidade de a criatura retroagir, involuir, uma vez que o espírito, a cada nova existência na carne, adquire experiências e desenvolve aptidões. Como enfatizado na resposta à questão 611, … do momento em que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período de humanidade, ele não tem mais relação com seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a semente.

Nas respostas às questões 115 e 540 de O Livro dos Espíritos, os benfeitores elevados lecionam que todos os espíritos foram criados simples e ignorantes, e que na natureza tudo se encadeia, desde o átomo primitivo até o arcanjo. A seu turno, Léon Denis sintetiza a evolução espiritual na obra O Problema do Ser, do Destino e da Dor, com a conhecida frase o Espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no hominal.

Também sabemos que temos íntimo parentesco com os animais, pois, de acordo com os esclarecimentos de Emmanuel na questão 79 de O Consolador, … eles igualmente possuem, diante do tempo, um porvir de fecundas realizações, através de numerosas experiências chegarão, um dia, ao chamado reino hominal, como, por nossa vez, alcançaremos, no ecoar dos milênios, a situação de angelitude.

Porém, a Doutrina Espírita deixa deveras claro que o espírito não retroage (resposta à questão 612 de O Livro dos Espíritos) e, no momento em que atingir um determinado nível e passar a ser considerado integrante do reino hominal, não possui mais relação com o seu estado primitivo, não sendo mais a alma dos animais, como mencionado.

Desse modo, embora algumas culturas apreendam haver a possibilidade de reencarnação dos seres humanos como animais, entendemos – com o merecido respeito àquelas – que tal hipótese não é possível ocorrer, em razão de todos os esclarecimentos e apontamentos acima, devidamente calcados e suportados nos ensinos dos espíritos benévolos.

Renato Confolonieri

 

Nota do editor:
Imagem ilustrativa em destaque disponível em <https://medium.com/@sherif.agnaby/ancient-egypt-ka-and-the-soul-2cc4f4df0b4f>. Acesso em: 24JUL2021.

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