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A razão do ensino por parábolas

agosto 22, 2021

Protegidos pelas parábolas, os ensinamentos de Jesus nos chegaram incólumes

“A vós outros é concedido saber o mistério Reino
de Deus; mas aos que são de fora, tudo se lhes
propõe por parábolas; para que, vendo,
não vejam, e ouvindo, ouçam e não entendam.”
– Jesus (Lc., 8:10).

São fartamente utilizadas as parábolas nas falas do Enviado de Deus… Seu pensamento, comumente tão luminoso, mergulha por vezes em meia obscuridade. Não se percebem, então, mais que os vagos contornos de uma grande ideia dissimulada sob o símbolo.

Aprendemos com Léon Denis (1) : “havia duas doutrinas no Cristianismo primitivo: a destinada ao vulgo, apresentada sob formas acessíveis a todos, e oculta outra, reservada aos discípulos e iniciados. É o que de resto, existia em todas as filosofias e religiões da antiguidade”.

A prova da existência desse ensino secreto se encontra nos versículos acima. Paulo, o inigualável Bandeirante da Boa-Nova o confirma em sua primeira epístola aos coríntios, capítulo três, quando distingue a linguagem a usar com homens carnais ou com os homens espirituais, isto é, com profanos e iniciados…
A ênfase mais grave quanto a isso a deu o próprio Cristo ao aconselhar (2) : “não deis aos cães as coisas santas, e nem deiteis aos porcos as vossas pérolas”.

A iniciação era indubitavelmente gradual… Os que a recebiam eram ungidos e, depois de haverem recebido a unção, entravam na comunhão dos santos. É o que ressalta das seguintes palavras de João, o Evangelista (3) : “(…) vós outros tendes a Unção do Santo e sabeis todas as coisas. Eu não vos escrevi como se ignorásseis a Verdade, mas como a quem a conhece”.

A “Boa-Nova” trazida por Jesus ia ferir de morte as ideias dominantes e ameaçar a estabilidade das instituições políticas e religiosas, modificando o “status-quo”, e suscitar em torno de si mil obstáculos, mil perigos… Daí, um novo motivo para ocultar no mito, no milagre, na parábola, o que em Sua Doutrina pudesse provocar anátemas. Portanto, as obscuridades do Evangelho são calculadas, intencionais… As verdades superiores nele se ocultam sob véus simbólicos. Aí se ensina ao homem o que lhe é necessário para se conduzir moralmente na vida prática, mas o sentido profundo, o sentido filosófico da Doutrina, esse é reservado à minoria.

As parábolas, ademais, fazem parte da didática oriental, do seu “modus operandi”… Assim, o sentido geral era acessível a todos, porém, em certos assuntos especiais só os iniciados conseguiam penetrar. Esse duplo método de ensino é praticamente adotado em todas as outras escolas.

Graças às parábolas, a essência dos ensinamentos de Jesus atravessou a noite dos milênios incólume, e não pereceu ante o buril dos copistas e dos diversos tradutores, bem como escapou da sanha imediatista e subalterna dos ecônomos infiéis…

Ao Espiritismo, compete – agora – “quebrar a casca” protetora para que o “cerne” seja o maná dos Céus para a humanidade. Daí as palavras de João (4) : “(…) meus bem-amados, são chegados os tempos em que explicados os erros se tornarão verdades. Ensinar-vos-emos o sentido oculto das parábolas e vos mostraremos a forte correlação que existe entre o que foi e o que é. Digo-vos em verdade: a manifestação espírita alarga os horizontes, restabelece todas as coisas no seu verdadeiro sentido, a fim de dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”.

Rogério Coelho

Referências:
(1) DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. 7.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1978, cap. I.
(2) Mateus, 7:6.
(3) 1ª Epístola de João, 2:20, 21 e 27.
(4) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. 8, item 18.

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://ceacs.wordpress.com/estudos-biblicos/junho-2011/multiplicando-paes-e-peixes/>. Acesso em: 24AGO2021.

Rogério Coelho
Rogério Coelho

Rogério Coelho nasceu na cidade de Manhuaçu, Zona da Mata do Estado de Minas Gerais onde reside atualmente. Filho de Custódio de Souza Coelho e Angelina Coelho. Formado em Jornalismo pela Faculdade de Minas da cidade de Muriaé – MG, é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Converteu-se ao Espiritismo em outubro de 1978, marcando, desde então, sua presença em vários periódicos espíritas. Já realizou seminários e conferências em várias cidades brasileiras. Participou do Congresso Espírita Mundial em Portugal com a tese: “III Milênio, Finalmente a Fronteira”, e no II Congresso Espírita Espanhol em Madrid, com o trabalho: “Materialistas e Incrédulos, como Abordá-los?” Participou da fundação de várias casas Espíritas na Zona da Mata Mineira.

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