O sentimento de culpa

Renato Confolonieri
10/09/2021
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Aprendemos em toda a codificação que a doutrina espírita possui três vieses ou aspectos, quais sejam, o científico, o filosófico e o moral ou religioso.

Jesus Cristo – que é o plasmador e governador do orbe, é o nosso guia e modelo –, também se caracteriza como o mais desenvolvido e elevado espírito já encarnado no nosso planeta. Como tal, no entanto, possui absolutamente todos os predicados que o levaram de maneira retilínea a fazer parte das esferas crísticas, possuindo categoricamente todo o conhecimento científico, filosófico e moral trazido na doutrina dos espíritos. Por óbvio, é o nosso exemplo maior de como proceder.

Através das passagens narradas pelos evangelistas, percebemos que o Mestre nos deixou diversas lições e exemplos que o credenciam também como o maior psicoterapeuta da humanidade, entendendo plenamente a mentalidade humana, principalmente as nossas fraquezas e pusilanimidades, mostrando em diversos momentos como devemos agir, frente às nossas mazelas.

Em passagens evangélicas como a da mulher supostamente adúltera, a do paralítico de Betsaida, a do filho pródigo, e em tantas outras, Jesus sempre deixou claro que devemos retificar as nossas atitudes, os nossos erros e equívocos, e que devemos fazer isso de maneira a superar eventuais culpas que pudéssemos (ou podemos) sentir, ou mesmo ter de fato.

Porém, o que é exatamente esse sentimento de culpa? Como ele surge, como se processa e como devemos superá-lo ou conviver com ele, para que possamos continuar avançando na nossa escala evolutiva?

O orientador Emmanuel, no capítulo 22 do seu Pensamento e Vida – pequeno em tamanho, mas magistral em ensinamentos –, opúsculo de psicografia de Francisco Cândido Xavier, diz que “quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma. E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abcesso mental, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio.”.

Ao continuar com os brilhantes esclarecimentos, o instrutor revela que “é nesse estado negativo que, martelados pelas vibrações de sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total da harmonia orgânica, enredando corpo e alma nas teias da enfermidade, com a mais complicada diagnose da patologia clássica.

A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações que lhe são consequentes, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a região do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores.”.

Aqui já se começa a demonstrar que além de todo o sofrimento moral trazido pela culpa ou pelo remorso, há igualmente o sofrimento físico a desarmonizar a organização individual, causando enfermidades que atingem especialmente as regiões da criatura (tanto corpo quanto alma) relacionadas aos sentimentos inferiores que são por ela carregados.

Por sua vez, Joanna de Ângelis, no capítulo 6 do seu belíssimo livro intitulado Conflitos Existenciais – psicografia de Divaldo Pereira Franco –, afirma que “culpa é algoz persistente e perigoso, que merece orientação psicológica urgente.”, uma vez que “tormentosa é a existência de quem se nutre de culpa, sustentando-a com sua insegurança.”.

Prosseguindo com a sua lucidez característica, a benfeitora explica que “reprimir a culpa, tentar ignorá-la é tão negativo quanto aceitá-la como ocorrência natural, sem o discernimento da gravidade das ações praticadas. À medida que é introjetada, porém, a culpa assenhoreia-se da emoção e torna-se punitiva, castradora e perversa.”.

Como se percebe, não é possível asilar a culpa com naturalidade, assim como não se pode abrigá-la sem a percepção da seriedade das ações praticadas, aquelas que ocasionaram o sentimento.

Mas como devemos superar esse sentimento ou mesmo conviver com ele? Qual seria o antídoto para a culpa?

Uma vez que todas as criaturas cometem erros, e alguns de natureza grave, o antídoto para a culpa é o perdão. A nós, num primeiro momento, e aos demais (à vítima, à comunidade, à natureza, ao algoz etc), no depois.

Mais uma vez é Joanna de Ângelis quem nos socorre, ao assegurar na obra citada que “desde que a paz e a culpa não podem conviver juntas, porque uma elimina a presença da outra, torna-se necessário o exercício da compreensão da própria fraqueza, para que possa a criatura libertar-se da dolorosa injunção. A coragem de pedir perdão e a capacidade de perdoar são dois mecanismos terapêuticos libertadores da culpa.”.

E aqui ousamos reforçar que é necessária a coragem de pedir perdão e a capacidade de perdoar em primeiro lugar a nós mesmos, como dito antes.

Ao término, fiquemos com as lições e conselhos trazidos pelo espírito Emmanuel no antes mencionado capítulo 22 do livro Pensamento e Vida, que nos mostra que “cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações. É por essa razão que Jesus, não apenas como Mestre Divino mas também como Sábio Médico, nos aconselhou a reconciliação com os nossos adversários, enquanto nos achamos a caminho com eles, ensinando-nos a encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do amor puro e do perdão sem limites”.

Renato Confolonieri

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.r2psicologia.com.br/o-sentimento-de-culpa/>. Acesso em: 10SET21.

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