A Lei Divina e os chamados milagres

Renato Confolonieri
12/11/2021
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Em outra ocasião já nos foi permitido reproduzir que a Lei de Deus – chamada por diversas vezes de Lei Divina ou Natural – está escrita na nossa consciência, de acordo com o que aprendemos em O Livro dos Espíritos. Por isso, todos podemos conhecê-la, embora nem todos possamos compreendê-la, conforme trazido pelo Espírito de Verdade nas respostas às perguntas 619 e 621 do primeiro livro da codificação espírita.

Também já foi apontado o complemento feito pelos benfeitores espirituais a essa afirmação, instruindo-nos no sentido de que “os que a compreendem melhor são os homens de bem e aqueles que a querem procurar. Entretanto, todos a compreenderão um dia, porque é preciso que o progresso se cumpra.”.

Igualmente chamou-se a atenção sobre as observações feitas por Allan Kardec em complemento ao que se tratou na pergunta 617 de O Livro dos Espíritos: “entre as leis divinas, umas regem o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas e o seu estudo está no domínio da Ciência. Outras concernem especialmente ao homem, em si mesmo e em suas relações com Deus e com seus semelhantes. Elas compreendem as regras da vida do corpo, como também as da vida da alma: são as leis morais.”.

Dando continuidade a esse raciocínio, os espíritos nos dizem que, embora a tenhamos na consciência, ainda assim há necessidade da revelação à humanidade da Lei de Deus (as leis físicas e as morais) porque nós a esquecemos e menosprezamos, e que aqueles que fazem as revelações são espíritos superiores, encarnados com o objetivo de nos fazer avançar (respostas às questões 621, segunda parte, e 622, ambas de O Livro dos Espíritos). Eis o Mestre Jesus, o nosso guia, modelo e plasmador do planeta.

Por sua vez, a resposta dada à pergunta 627 de O Livro dos Espíritos não poderia ser mais lúcida e esclarecedora: “A palavra de Jesus era frequentemente alegórica e em parábolas, porque falava segundo os tempos e os lugares. É necessário agora que a verdade seja inteligível para todo o mundo. (…).”.

E o ensinamento continua na resposta à pergunta 628, no sentido de que a verdade não foi sempre colocada ao alcance de todos porque “é preciso que cada coisa venha a seu tempo.”.

Feitas essas observações sobre a Lei de Deus e o fato de que uma parte rege o movimento e as relações da matéria bruta, enquanto outro grupo compreende as regras da vida do corpo e as da vida da alma, assim como se ter demonstrado o motivo de a Lei Superior estar sendo revelada aos poucos à humanidade, embora a tenhamos escrita na consciência, cabe-nos traçar algumas linhas sobre os atributos Divinos para, ao final, tratarmos do tema proposto no título.

Novamente conforme pudemos anotar em outro momento, a natureza Divina pode ser assim resumida (capítulo II de A Gênese):

1) Deus é a suprema e soberana inteligência. Se assim não fosse, poderíamos conceber outro ser mais inteligente e, portanto, Deus não seria a causa primeira de tudo;

2) Deus é eterno, não tendo começo nem fim. Do contrário, seria possível conceber uma entidade existente antes dEle e capaz de Lhe sobreviver;

3) Deus é imutável. Caso estivesse sujeito a mudanças, humores etc., as leis que regem o universo não teriam estabilidade;

4) Deus é imaterial, ou seja, a sua natureza difere de tudo o que se chama matéria, carecendo de forma apreciável pelos nossos sentidos;

5) Deus é onipotente. Se não tivesse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa. Essa, então, é que seria Deus;

6) Deus é soberanamente justo e bom, ocasião em que a soberana bondade implica a imperante justiça;

7) Deus é único, e são infinitas as suas perfeições.

Diante de todas essas afirmações e esclarecimentos, ficou bastante demonstrado que o Senhor da Vida – com todas as suas características de criador e legislador máximo – outorgou leis superiores que regem o movimento e as relações da matéria bruta (leis físicas), e normas que dirigem as criaturas, suas relações entre si e com Ele (leis morais).

Contudo, onde se encaixam os ditos milagres diante desse arcabouço chamado Lei Divina ou Natural?

No capítulo XIII de A Gênese, intitulado Caracteres dos Milagres, o codificador traz importantes reflexões sobre a sua possibilidade.

Auxiliado pelo grupo de benfeitores espirituais que nos trouxeram a doutrina espírita, o mestre de Lyon desenvolve perfeito raciocínio a partir do item 15 do capítulo citado, asseverando que Deus pode operar milagres, visto que para Ele nada é impossível. Porém, e para tanto, haveria de derrogar as suas próprias leis, que são soberanas.

Kardec nos elucida que “não é, pois, da alçada do Espiritismo a questão dos milagres; mas, ponderando que Deus não faz coisas inúteis, ele emite a seguinte opinião: ‘não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os conhecimentos necessários.’”.

E a lição continua, no sentido de que “admitido que Deus houvesse alguma vez, por motivos que nos escapam, derrogado acidentalmente leis por ele estabelecidas, tais leis já não seriam imutáveis. Mesmo, porém, que semelhante derrogação seja possível, ter-se-á, pelo menos, de reconhecer que só Ele, Deus, dispõe desse poder…”.

Se Deus é a sapiência e perfeição supremas, se outorgou leis superiores e imodificáveis, e se os milagres podem ser interpretados como derrogação indevida delas, o que prova que, se assim fosse, Deus não teria todos os atributos antes reproduzidos, nem as suas leis seriam imutáveis, como interpretar os “milagres de Jesus”?

É o próprio codificador quem responde a essa pergunta, quando diz no capítulo XV de A Gênese – Os Milagres do Evangelho – que “os fatos que o Evangelho relata e que foram até hoje considerados milagrosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma. (…) O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispiritual, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da Natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural.”.

Perante essas elucidações, faz-se a última pergunta: teria Jesus uma natureza inferior à que pensamos, uma vez que os seus “milagres” vão sendo explicados um a um pela Ciência e pela lógica despertada pelos espíritos benfazejos na doutrina espírita?

Como de regra, é o professor Rivail quem aclara o nosso entendimento, ao dizer no item 2 do citado capítulo XV de A Gênese que “sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo, natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.”.

Desse modo, conclui-se que Deus, em sendo supremo, perfeito, único, soberanamente justo e bom, outorgou leis também perfeitas e inderrogáveis para reger a matéria e o espírito. Os chamados milagres seriam contrários a essas leis que, em eles ocorrendo, não poderiam ser consideradas imutáveis e cobertas de perfeição.

Com relação a Jesus, e como espírito superior que é, ele possui absolutamente todo o conhecimento necessário no manuseio dos fluidos materiais e espirituais pertencentes ao planeta, razão pela qual todas as curas e “maravilhas” que perpetrou não passaram de manipulação desses fluidos, agindo inteiramente dentro da Lei Divina, ainda que não nos seja possível, mesmo hoje, ajuizar como a esmagadora maioria desses acontecimentos se deu.

Renato Confolonieri

Nota do Editor:

Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://www.aluzdoevangelho.com/single-post/2016/05/25/por-que-os-judeus-n%C3%A3o-reconhecem-jesus-como-o-messias-1>. Acesso em: 10NOV2021.

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