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O que é o mal?

dezembro 5, 2021

Tu és mestre em Israel e não conheces essas coisas?…

Uma das maiores indagações humanas, desde que o mundo é mundo, é a questão da existência do mal.

O mal existe? Se existe, quem o criou?

Afinal, qual poderia ser a definição plausível para a questão do mal?

Seria o mal a ausência do bem, consoante conceituava, filosoficamente, o pensador Agostinho, teólogo de Hipona, no fim do século IV?

Talvez pudéssemos estabelecer que o mal é a consequência natural dos nossos atos, na condição de incipientes do senso moral e, portanto, desconhecedores dos sentimentos superiores que carregamos no escrínio da consciência.
Os Espíritos asseguram que o mal nada mais é do que a ignorância do bem. E o grau de responsabilidade dos atos varia de acordo com o conhecimento. Assim, em si mesmo, o mal não existe. Será que o mal pode ser traduzido na forma de sofrimentos, misérias e agravos outros? O mal não é uma energia inerte ou força dinâmica que brota por si só, porém, é a reverberação natural da escolha equivocada do Espírito em sua marcha evolutiva quer corporificado ou incorpóreo.

A vida é bancada pela lógica das nossas livres escolhas, que podem ser acertadas ou não, portanto, o erro ou o “mal” têm, naturalmente, um protagonista, um nome, um sobrenome, um endereço psíquico. Mas não podemos esquecer de que somos perfectíveis e pelas leis divinas da liberdade, somos regidos pelo direito de errar com o dever de reparar o “mal” através do serviço no bem no limite das nossas forças.

Portanto, seria o sofrimento um mal?

A desventura física é o mal?

Quais prejuízos morais derivariam da reprodução do mal?

Se afirmarmos que o sofrimento é um mal em si, então é preciso desconsiderar as fases do desenvolvimento que passam os seres vivos, visto que as metamorfoses presentes no reino animal geram cargas de sofrimento físico. Agonia, aliás, sem o qual não se transformaria em outro ser, tal qual ocorre com a borboleta e o sapo. Da mesma forma ocorre com a cobra e a águia que não se metamorfoseariam sem processos árduos e doloridos da natureza.
Obviamente tais sofrimentos estão na ordem natural das coisas, porém, há de se pensar e destacar o sofrimento moral humano que é uma escolha de cada um.

Notemos os panoramas de abandono, solidão, maus-tratos, lesões afetivas, abusos, agressões físicas e psicológicas, preconceitos, a tudo isso titulamos de mal, embora transitório, mas que não provém de Deus, porém, são expressões materializadas dos comportamentos da criatura humana no uso inconveniente do livre-arbítrio.

Nesse contexto, não podemos admitir que tais males sejam a argamassa para ajustar a cerâmica amorosa da vontade de Deus. O Criador é amor e nos Seus estatutos não há espaços para o mal. O Autor da Vida dota-nos de liberdade na consciência a fim de aprendermos com o chamado erro (mal), através do próprio esforço, para a conquista do bem com foco na eterna felicidade ou aquisição definitiva dos sentimentos superiores.

O mal se apresenta na consciência da gestante que consome crack. Se materializa naquele marido que agride a esposa. Na conduta desacertada que invade a dignidade do trabalhador que jaz furtando na empresa que o emprega. É a deslealdade entre amigos. É o flerte virtual com pessoas comprometidas, afetivamente, com outros corações.

Ampliar a compreensão da essência do que consagramos chamar de mal é questão de razão e coerência. Lembrando que Deus não é o algoz combatente do mal. A rigor, o mal não precisa ser combatido, todavia deve ser suplantado consciente e amorosamente.

Seriam a miséria, a desventura e a dor o enigma do mal? Ora, o entendimento sobre o infortúnio ser o mal modifica-se sobremaneira quando se abrange a pluralidade das existências, a imortalidade da alma e a Providência Divina. Aliás, dimensões conceituais e filosóficas que o Espiritismo esclarece sem falazes rodeios. Sob esse enfoque, a miséria, as dores, as desilusões, a desdita não são traduções nem abstrações do mal, visto que estamos incursos em vastas experiências reencarnatórias, e muitas vezes nos desafios da adversidade, muitos sofredores alcançam expandir os sentimentos superiores sob situações, intensamente, desafiadoras.

Conclui-se que: O sofrimento há em caráter transitório. A miséria não perdura para sempre. A dor é passageira. O homem que erra, esbarra, circunstancialmente, no mal que não é permanente. Deus é amor, logo é soberanamente bom e justo. Deus instituiu o livre-arbítrio para todos os seres inteligentes. Deus acata as decisões, certas ou erradas, do homem, por isso jamais penitencia.

O mal somente se conserva pulsante, palpável, visível enquanto não se percebe a imortalidade e a transitoriedade da forma física na trajetória evolutiva do homem.

Por mais que o mal derive dos atos circunstanciais e equivocados do Espírito é, absolutamente, lógico errarmos e aprendermos com o erro, reparando o equívoco pela prática do bem, a ter bloqueada a consciência, perdendo a prerrogativa natural de agirmos livremente, errando e acertando, ante a lei divina da liberdade que jamais se desvincula da lei de responsabilidade.

A cada um segundo suas obras, disse Jesus. Por isso, a educação moral moldada nas lições do Evangelho é, sem dúvida, um dos mais seguros caminhos para a conquista dos sentimentos sublimados.

Jane Maiolo / Jorge Hessen

Referência:
João 3, 10.

Nota do Editor:
Texto publicado na Agenda Espírita Brasil em 06OUT2018.
Imagem em destaque disponível em <https://agendaespiritabrasil.com.br/2018/10/06/o-que-e-o-mal/>. Acesso em 05DEZ2021.

Jane Maiolo
Jane Maiolo

Professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Dirigente da USE Intermunicipal de Jales. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Espírita Brasil. Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita.

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