
Comparsas mefíticos
Tudo o que aproxima o homem da natureza material afasta-o da natureza espiritual
“Esforçando-se o homem poderia vencer as suas
más inclinações se não lhe faltasse a vontade”.
– O Livro dos Espíritos, q. 909.
Segundo a nobre Mentora Joanna de Ângelis, devemos ter por tarefa primordial “(…) abandonar a horizontalidade das viciações pela verticalidade ascensional da libertação de sombras e dores, mágoas e inquietações. Assim, constitui-se atitude estoica perante a vida abandonar vícios e imperfeições.”
É alarmante comprovar, por exemplo, como o alcoolismo vai invadindo as faixas etárias cada vez mais tenras. A iniciação ao alcoolismo começa cada vez mais cedo “a pretexto de festas e comemorações, impondo uma segunda natureza constritora e voraz”, afirma ainda Joanna de Ângelis (1).
Informa o distinto Espírito Dr. Carneiro de Campos (2): “(…) o alcoolismo é um dos maiores inimigos da criatura humana. É de lamentar-se que o seu uso seja tão generalizado e, infelizmente, haja adquirido status na sociedade. As reuniões, as celebrações e festividades outras, sempre se fazem acompanhar de bebidas alcoólicas, responsáveis por incontáveis danos ao organismo humano e à sociedade. Acidentes terríveis, agressões absurdas, atitudes ignóbeis decorrem do seu uso, além dos vários prejuízos orgânicos, emocionais e mentais que acarretam.
Verdadeiras legiões de vítimas se movimentam pelas avenidas do mundo, como enxameiam nos campos, permanecem nos tugúrios da miséria ou nas celas sombrias dos cárceres e dos hospitais, apresentando o triste espetáculo da decadência humana. Milhões de lares sofrem os aflitivos e infelizes lances da sua crueldade.
No inquietante momento em que o uso das drogas é responsabilizado pela vigência de inumeráveis crimes hediondos, e se levantam muitas vozes em protesto, buscando encontrar as causas sociológicas, psicológicas e outras, para explicar a avalanche sempre crescente e assustadora de viciados, urge que se estudem também os problemas do alcoolismo e suas consequências, não menos alarmantes.
O alcoolismo, ou dependência do uso exagerado de bebidas alcoólicas, constitui-se um grave problema médico, em face dos danos que causa ao organismo do indivíduo e ao grupo social no qual este se movimenta. A sua gravidade pode ser considerada pelo número dos internados em hospitais psiquiátricos com desequilíbrios expressivos. As recidivas, após o cuidadoso tratamento, são numerosas, não se considerando que as suas vítimas ultrapassam em grande número as outras toxicomanias.
Na antiguidade, o uso de bebidas alcoólicas tornou-se comum e quase elegante, caracterizando uma forma de projeção social ou de fuga ante os desafios. Acreditava-se, no passado, que o álcool e seus derivados diminuíam as angústias e tensões, posteriormente se afirmando ou se justificando possuírem propriedades fisiológicas, produzindo estímulo e vigor orgânicos.
O alcoolismo decorre de muitos fatores, entre os quais a personalidade e a tolerância do organismo do paciente, variando com a idade, o sexo, hereditariedade, hábitos e costumes, constituição e disposição orgânica. Pode ser resultado de causas ocasionais, secundárias, psicopáticas e conflituosidade neurótica.
(…) No começo, o indivíduo pode experimentar euforia, dinamismo motor, porém vai perdendo o controle, o senso crítico, tomando-se inconveniente. Com o tempo, surgem outros distúrbios orgânicos, tais as náuseas, os vômitos, a incontinência urinária e, por fim, o sono comatoso, no estado mais avançado.
À medida que a dependência aumenta e o uso se faz mais frequente, a bebida alcoólica afeta o sistema nervoso, o trato digestivo, o aparelho cardiovascular… As complicações que degeneram em gastrite e cirrose hepática são inevitáveis, levando à morte, qual sucede no câncer do esôfago e do estômago. Do ponto de vista psíquico, o alcoólatra muda completamente o comportamento, e suas reações mentais são alteradas, a começar pelos prejuízos da memória, até culminar no delirium tremens, sem retorno ao equilíbrio…
(…) O alcoolismo é, portanto, uma enfermidade que exige cuidadoso tratamento psiquiátrico. No entanto, porque ao desencarnar o alcoólatra não morre, permanecendo vitimado pelos vícios, quase sempre busca sintonia com personalidades frágeis ou temperamentos rudes, violentos, na Terra, deles se utilizando em processo obsessivo para dar prosseguimento ao infame consumo do álcool, agora aspirando-lhes os vapores e beneficiando-se da ingestão realizada pelo seu parceiro-vítima, que mais rapidamente se exaure. Torna-se uma obsessão muito difícil de ser atendida convenientemente, considerando-se a perfeita identificação de interesses e prazeres entre o hóspede e o seu anfitrião.”
Estraçalhando vidas preciosas com prejuízos inimagináveis para a economia espiritual das criaturas e atrasos lamentáveis no processo evolutivo, os hábitos deletérios devem ser afastados para mais e mais nos distanciarmos dos lamaçais da iniquidade e das viciações de variegado matiz, para aproximarmos cada vez mais de nossa natureza espiritual onde resplandece a glória de Deus.
Rogério Coelho
Referências:
(1) FRANCO, Divaldo. SOS Família. 4.ed. Salvador: LEAL, 1984, p. 132-135; e
(2) FRANCO, Divaldo. Trilhas da Libertação. 2.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1997, p.173-177.
Nota do autor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://vidaaposamorte.comunidades.net/o-alcoolismo-na-visao-espirita>. Acesso em: 12OUT2022.
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