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Um pouquinho antes de morrer…

fevereiro 4, 2023

O leitor atento da Revista Espírita, que vai acompanhando as publicações e, por consequência, o desenrolar do pensamento de Kardec, compreende que Kardec faz jus ao ditado: quanto mais velho, melhor. Um pouco antes de desencarnar, final de 1868 e início de 1869, Kardec produziu, na já citada revista, textos muito inspirados.

E foi no mês em que desencarnou que Kardec trouxe um texto e o denominou de “Conferências sobre o Espiritismo” o qual abordaremos neste espaço.

Neste texto, Kardec narra sobre um indivíduo que subia à tribuna para, definitivamente, colocar o Espiritismo em seu devido lugar, a descontruir o edifício espírita.

Seria tudo, dizia o orador, fruto da eletricidade animal. Fenômenos espíritas são facilmente explicados pela dinâmica da eletricidade animal. De fato, o crítico à ideia espírita não negava os fenômenos, mas dava-lhes as explicações conforme sua maneira de enxergar, pouco preocupado em sanar todos os problemas da equação que vai muito além das questões materiais.

Logo no início, Kardec lembra que o orador esqueceu o essencial: a parte filosófica e moral do Espiritismo. Para Kardec é a parte moral que fará o Espiritismo adentrar o tecido social e transformar as pessoas, por conseguinte, o mundo.

O bacana de ler Kardec é que um texto que visa ensinar em uma direção, oferece inúmeros elementos de reflexão a levar-nos para os mais diferentes lugares do conhecimento.

Vamos, dentre os muito aspectos que podemos pensar deste escrito, ater-nos na parte em que fala da propaganda.

Uma ideia mesmo atacada, caso seja verdadeira, resiste ao árduo trabalho feito pela mentira, pois que as falácias, por mais habilidosas que sejam, cedo ou tarde desmoronarão, já a verdade, persiste, mesmo contra tudo e todos.

Para Kardec, falar de algo, mesmo que mal, é fazer a ele propaganda gratuita, pois aqueles que desconhecem determinada coisa, por meio das críticas passarão a conhecê-la. Pior ainda se a crítica chega ao mundo dos curiosos, pois que estes não ficarão satisfeitos com apenas uma opinião e buscarão adiante, e neste adiante poderão encontrar fontes que desmentem a crítica a mostrar um mundo para além da superfície.

Criticar, portanto, a depender do momento e do nível de entendimento do público pode ser expediente que faz “gol contra”.

Se de uma realidade não escapamos, contudo, é a de que o Espiritismo, na época, fazia muito sucesso e espalhava-se pelo mundo.

Hoje, lendo este texto de Kardec e pensando na questão que envolve a propaganda, constatamos que Kardec tinha mesmo razão: falar de alguma coisa é dar a esta coisa publicidade gratuita. Aliás, este era um pensamento também dos Espíritos, pois que foram eles a informar Kardec a deixar os críticos falarem do Espiritismo.

A Lei do Progresso é uma verdade inquestionável: mesmo que atuemos contra, como é da lei, o progresso ocorrerá, senão pelas mãos dos partidários, mas pelos próprios críticos, que trabalham a favor, pensando agir contra.

Enquanto isso o tempo caminha colocando as coisas em seus devidos lugares.

Wellington Balbo

Wellington Balbo
Wellington Balbo

Professor universitário, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática, Escritor e Palestrante Espírita com seis livros publicados: Lições da História Humana; Reflexões sobre o mundo contemporâneo; Espiritismo atual e educador; Memórias do Holocausto (participação especial); Arena de Conflitos (em parceria com Orson Peter Carrara); Quem semeia ventos... (em parceria com Arlindo Rodrigues).

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