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Francisco de Assis e o desprendimento

agosto 31, 2023

“Pai Francisco!… Por gentileza, poderia o senhor nos dizer o que é desprendimento verdadeiro?” (1)

Essa foi a pergunta feita pelo irmão Rufino, um dos mais devotados apóstolo de Francisco de Assis. E esse lhe responde, refeito em Cristo das energias gastas na conversação, dando prosseguimento às respostas às perguntas de seus seguidores:

– Frei Rufino!… Desprendimento é não se prender a coisa alguma, Espírito nenhum deseja estar preso. Até os próprios animais não se sentem bem quando aprisionados. Todos queremos ser livres. A liberdade é, pois, amada por todos e por tudo; não obstante, a vida nos condiciona a determinadas prisões. Enquanto não despertamos para a realidade, seremos escravos da própria ignorância.

O Cristo chamou um punhado de homens para segui-Lo, mas desejou que eles fossem livres, que se libertassem das peias terrenas, porque Ele mesmo disse com propriedade: “Onde está o teu tesouro aí estará o teu coração.”

Francisco encarnou em Assis na idade média, em meio ao caos criado pela ambiciosa Igreja Católica Romana banhada no ouro e no luxo, promovendo a guerra das Cruzadas pela conquista do santo sepulcro. A missão dele era resgatar o cristianismo primitivo, logo, o seu desprendimento de valores que a traça corrói era essencial, para que com seu exemplo ele vivificasse no coração da humanidade os valores imperecíveis da alma que proporcionaria a verdadeira liberdade que a humanidade almejava e ainda almeja.

Esse humilde e fiel seguidor de Jesus iluminava os corações de seus apóstolos ensinando que o desprendimento não é desperdiçar os bens materiais, o que seria um desleixo. Ensinava que a nossa razão e bom senso com Jesus haverá de avaliar que tipo desprendimento será conveniente de acordo com nossa capacidade.

Desprendido é aquele que sabe dar, porque é dando que recebemos. No entanto, dar também é ciência, pois quem não sabe dar fica sempre devendo, disse Francisco.

Ao pobre desempregado, melhor ser-lhe dado um emprego digno ao viciá-lo com constantes esmolas. Mas isso não é uma regra que se aplica a todos os casos, às vezes, a lógica do desprendimento nos indica doar alimento ou esmola ao irmão cuja necessidade é imediata e não pode esperar. Por isso Francisco completa esse ensinamento: 

-“Desprendimento é sempre o clima do sábio e do santo, senão do homem altamente inteligente. Essa virtude é a nossa base de viver, porque vivemos em Cristo, para que Deus viva em nós…”

– “Pode perfeitamente existir rico desprendido e pobre usuário, porque a ganância nasce de dentro da criatura para as coisas de fora.”(1)

Os apóstolos de Jesus, assim que convidados por Ele, imediatamente O seguiram, pois estavam absolutamente livres para a suas missões junto ao Mestre. Seus desprendimentos foram plenos, pois foram obedientes e resignados: A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração (O.E.S.E cap.IX, Lásaro). Já o jovem que quis seguir o Mestre, mas que precisava despojar-se de seus bens e segui-lo, não pode fazê-lo, pois ainda não tinha o desprendimento interno daquele que já amadureceu a ideia de que os valores materiais não são importantes comparado à semeadura da Boa Nova, não tendo conquistado a liberdade de escolha nascida da obediência e resignação.

Quando abraçamos o movimento Espírita por termos a fé na Doutrina e o entendimento de que muito necessitamos dela para a nossa evolução espiritual, além de estarmos cumprindo o nosso plano reencarnatório, tivemos que ter o desprendimento, ou resignação, de abrir mão de estarmos em alguns momentos no convívio familiar para estarmos nos centros espíritas trabalhando, ou na ação da caridade junto aos necessitados, ou até envolvidos em trabalho de divulgação do Espiritismo, o que muitas vezes é visto pela família como fanatismo ou perda de liberdade. 

Mas o oposto também pode ocorrer. Sabemos que a nossa prioridade é a família, a final, reencarnamos com ela porque precisamos daquele convívio para as provas e até expiações que precisamos vivenciar, então, dependendo da situação, teremos que renunciar ao trabalho no movimento espírita algumas vezes para atender à família. Então, há que se ter muito discernimento e maturidade para termos o desprendimento que Francisco referiu-se.

Como aprendemos em Eclesiásticos 3-1: “ Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. 

Todos nós estamos evoluindo, e à medida que nossa alma vai se libertando de conceitos de liberdade errôneos, melhor discernimento vamos tendo, e como a lagarta que se despoja de seus envoltórios que foram úteis num certo tempo mas que não servem mais, um dia, como ela, abriremos as belas asas e voaremos para o céu, para a liberdade que só os que entenderam o que é amor podem gozar. 

Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Referências Bibliográficas:
1- MAIA, João Nunes, pelo espírito Miramez. Francisco de Assis. Editora Fonte Viva. 12ª edição. Cap.18, pág. 297

Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em Francisco de Assis.
Acesso em: 28/08/2023. 

Maria Lúcia Garbini Gonçalves
Maria Lúcia Garbini Gonçalves

Tradutora, mora em Porto Alegre/RS, estudante da Doutrina Espírita, trabalha no Grupo Espírita Francisco Xavier como médium.

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