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A velhice – visão Espírita

novembro 21, 2023

“Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas, ao ficarem velhos, lamentam-se.
Eis aí a inconsequência da estupidez!”

(Aforismo atribuído a Cícero (44 a.C.), o célebre filósofo romano.)

A motivação para a presente abordagem veio-me, especialmente, de duas referências. A primeira delas por meio do jornal Diário da Região, de S. J. Rio Preto, na edição de 14/06, trazendo a informação de que 20% dos habitantes de nossa região têm mais de 60 anos, o que a torna uma das mais idosas do Estado de São Paulo. A segunda, mais recente, veio com a repercussão, junto à imprensa brasileira, ocasionada pelos dados do “Censo Demográfico 2022”, do IBGE, divulgados no final de outubro. O Censo, em especial, trouxe dados que comprovam a tendência de aceleração do envelhecimento populacional do país. De 20,5 milhões de idosos com 60 anos ou mais em 2010, saltamos para 32,1 milhões em 2022: aumento (56%) que não se via há um século!

Aliás, tendência que fica ainda mais evidente diante de dois outros indicadores. Um deles, a “idade mediana” (que divide a população em duas metades, os 50% mais jovens e os 50% mais velhos). No Brasil, de 2010 para 2022, saltamos de 29 para 35 anos, ou seja, há 12 anos metade da população tinha até 29 anos, hoje tem até 35. O outro, o “índice de envelhecimento”, compara o número de idosos com o de crianças. Em 2022, chegamos a 80 idosos com 60 anos ou mais para cada 100 crianças de até 14 anos – em 2010, eram 44,8!

Assim é que, ao ensejo destes dados, reproduzo em seguida o pungente poema “Carta aos Velhos”, de autoria de Casimiro Cunha, com a intenção de que nos auxilie a reconhecer o processo de envelhecimento (que há muito deixou de ser um privilégio) como quadra abençoada da existência planetária. (Em tempo. Casemiro Cunha (1880-1914), o “Trovador do Evangelho”, foi um poeta fluminense que, mesmo completamente cego desde os 16 anos de idade, deixou vasta e preciosa obra literária poética, com abordagens propícias à biblioterapêutica, como fé, esperança, confiança, resignação e humildade. O poema encontra-se na obra “Cartas do Evangelho”, psicografada por Chico Xavier)

A seguir, o poema “Carta aos Velhos”.

Eurípedes Alves da Silva

 

Carta aos velhos

Vens de longe no caminho,
Exausto de combater.
Sim, meu irmão, a velhice
É a hora do entardecer.

Por vezes, é uma hora triste
De amargurosas lembranças
Do barco em que viajavas,
Entre sonhos e esperanças.

Da culminância do monte,
Examinas a paisagem,
E deploras os desvios
De quem começa a viagem.

Às vezes te calas, triste.
Ninguém te quer atender,
E choras porque conheces
Os tóxicos do prazer.

Mas nunca te desanimes.
Prossegue em tua missão,
Continua esclarecendo
O mundo de provação.

Não desesperes, porquanto
Antigamente também
Eras chamado à verdade
E não ouviste a ninguém.

Quebraste serros e atalhos,
Sem olhar a consequência.
Sofreste muito e ganhaste
O ouro da experiência.

Perdoa. Quem viveu muito
Tem muita compreensão.
Compreensão é bondade
Que esclarece com perdão.

  Meninos, moços e velhos,
Nas lutas da humanidade,
São três expressões ligeiras
De um dia da eternidade.

Meninice e juventude
São a alvorada louçã.
Velhice é a noite, porém,
O dia volta amanhã.

O que é preciso no mundo
De prova e de sofrimento
É que todos sejam velhos
Nas luzes do entendimento.

  Por isso, meu santo amigo,
Não te canses em saber,
Se tens muito que ensinar,
Inda tens muito a aprender.

Conserva a tua esperança.
Guarda a paz do Mestre Amado.
A crença na tua noite
É um firmamento estrelado.

Na antecâmara do Além,
Deus te abençoe, meu irmão,
Dilatando no caminho
A luz do teu coração.

Eurípides Alves da Silva
Eurípides Alves da Silva

Professor universitário (aposentado pelo Depto. de Matemática do Ibilce/Unesp, de S. J. Rio Preto - SP). Nascido em berço espírita (no ano de 1946, no município de Macaubal - SP), começou a frequentar mais assiduamente e a assumir atividades doutrinárias numa instituição espírita só no ano de 1968 (no então Instituto Espírita Nosso Lar - Ielar, de Rio Preto). Logo depois, com um grupo de colaboradores, passou a frequentar o Centro Espírita Rodrigo Lobato (ainda na rua Rubião Junior). Em 1975, com a transferência de sua sede para a rua D. Pedro I, assumiu a direção da Casa, entre outras atividades doutrinárias e gerenciais. Desde o final da década de 1960 tem colaborado com instituições espíritas da cidade e da região, como palestrante e como redator de artigos junto a periódicos espíritas. Atualmente, ainda ligado ao Lobato, tem procurado limitar suas contribuições a Centros Espíritas da cidade.

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