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Da Inteligência

dezembro 2, 2023

O homem é um ser inteligente. Disso ninguém duvida. Contudo, a inteligência para ser bem aproveitada necessita aliar-se a outros fatores. Desta forma, não basta ser inteligente, é necessário buscar o conhecimento sobre o tema e ainda, o que nos é dado realizar, utilizando-se dela. O pensamento contínuo nos capacita a agir e reagir ao que está dentro e fora de nós. A inteligência nos encaminha para a ação passiva ou ativa, adequada ou não. Por conseguinte, o indivíduo precisa estar bem aparelhado para saber utilizá-la com soberania.

A bem da verdade, a inteligência pode e deve ser a grande aliada do homem. Comumente somos emocionais em demasia. Aprendemos isto desde os tempos remotos quando ainda éramos primatas. A sensação do medo, do calor, do frio, da fome, da ferocidade e até da ternura em seus graus iniciais nos tornou assim mais emocionais que racionais. Reagíamos muito mais pela impulsividade que pela adoção do raciocínio lógico. Era necessário responder quase que imediatamente aos incômodos e decidir pelo lutar ou fugir. Ainda hoje utilizamos mais a emoção. Em quase todos os eventos a maioria reage emocionalmente em detrimento a uma atitude pensada, refletida após contar até dez ou tomar um copo da água da paz como nos aconselhava Chico Xavier.

Na questão 75 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec interroga: “É acertado dizer que as faculdades instintivas diminuem, à medida que crescem as intelectuais”? À primeira vista podemos responder que sim, contudo vejamos o que os Espíritos disseram ao Codificador: “Não. O instinto existe sempre, mas o homem a negligência. O instinto pode também conduzir ao bem; ele nos guia sempre, e às vezes mais seguramente que a razão; ele nunca se engana”. Interessante, diríamos. Na questão 73 os Espíritos no dizem que o instinto não é independente da inteligência porque: “…é uma espécie de inteligência não racional; é por ele que todas os seres provêm as suas necessidades”. Allan Kardec, comentando as questões, nos diz que “o instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita por serem quase sempre espontâneas as suas manifestações, enquanto as daquela são o resultado de apreciações e de outra uma deliberação”.

E aqui compete que coloquemos a questão seguinte contida no Livro dos Espíritos, a de número 75-a: “Por que a razão não é sempre um guia infalível”? “Ela seria infalível se não existisse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite ao homem escolher, dando-lhe o livre arbítrio”. Lógica, abstração, memorização, compreensão, autoconhecimento, comunicação, aprendizado, planejamento e resolução de problemas, têm sido definições utilizadas para a inteligência. Nas mentes primitivas estes atos são muito cansativos como nos diz o sociólogo francês Lucien Lévy-bruhl, do século dezenove. Na introdução do seu livro: A Mentalidade Primitiva, o sociólogo nos diz que nos homens primitivos há uma aversão decidida pelo raciocínio, pelas operações discursivas do pensamento. O autor nos diz que isto “… se explica mais pelo conjunto dos seus hábitos mentais”.

Refletir bem para decidir melhor deve ser uma ação comum e corrente em nossas sociedades. Não nos basta o ato de pensar e decidir, é necessário o conhecimento profundo do objeto ou da causa para a qual dirigimos nossas atenções e pensamentos. A profundidade nas observações tem sido pregada por psicólogos atuais. Entendem eles que agindo assim podemos evitar muitos conflitos. Quando vejo ou sinto algo externo a mim, minha razão necessita confabular com a emoção, passando pelos departamentos dos sentimentos e das virtudes que já possuo para só assim liberar minha palavra de contexto. Já não fazemos mais parte dos primatas. Hoje sabemos pela neuroplasticidade que podemos modificar hábitos e a Doutrina Espírita nos indica quais atos devemos modificar, pois, afinal, estamos a caminho da perfeição, como nos convidou Jesus a buscá-la. Quando os Espíritos disseram a Allan Kardec que a má educação, o orgulho e o egoísmo dificultam o perfeito fluxo da razão, indiretamente nos propuseram uma análise de como estamos tratando e utilizando a nossa inteligência.

Este é um estudo instigante e edificador. Allan Kardec nos fala que “Nos seres dotados de consciência e de percepção das coisas exteriores, o instinto se alia à inteligência, o que quer dizer, à vontade e à liberdade”.

Unindo os dois com sabedoria, instinto e inteligência, caminharemos com mais cuidado. Deus nos guiou até à razão através do instinto e agora nos compete ajuntar os dois, enriquecendo a inteligência que nos dirá com mais acerto onde, como e quando realizar algo. Assim se progride. Assim poderemos cumprir com excelência o nosso projeto de evolução.

Guaraci de Lima Silveira

Nota do Editor:

Imagem em destaque obtida em <https://pixabay.com/photos/brain-hand-grey-gray-brain-4961452/> . Acesso em 24JAN2024.

Guaraci de Lima Silveira
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