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Reflexões natalinas em tempos sensíveis

dezembro 24, 2023

Historicamente, celebrações e festividades de fundo religioso desempenham um papel importante na vida cultural das sociedades, representando oportunidades para a expressão da espiritualidade inerente aos indivíduos conforme as tradições que compartilham.

O Yom Kippur, também conhecido como o Dia do Perdão, é uma importante celebração religiosa aos judeus, geralmente ocorrida entre os meses de setembro e outubro. Segundo essa tradição, trata-se de um dia de introspecção e de busca pela reconciliação com Deus e com o próximo, marcando o fim dos Dez Dias de Arrependimento, que começam no Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico. Uma saudação costumeira nessa data, em hebraico, é “G’mar Chatimah Tovah”, que significa “Que você seja selado para um bom veredito”. Essa expressão é usada para desejar a alguém um julgamento favorável durante esse período de arrependimento e perdão, estimando que a pessoa seja inscrita no denominado “Livro da Vida” para um ano novo abençoado e cheio de boas realizações.

No contexto islâmico, o Ramadan é a celebração religiosa mais importante constituindo-se em um mês voltado ao jejum, oração, reflexão e autocontrole. Durante o Ramadan, que costuma ocorrer entre março e abril, ou abril e maio, variando conforme o ano, os muçulmanos jejuam do nascer ao pôr do sol buscando uma maior proximidade espiritual a Deus. É um período de intensa oração, leitura do Alcorão e prática de boas ações aos necessitados.

Um cumprimento tradicional islâmico nesse mês é “Ramadan Mubarak” ou “Ramadan Kareem”, significando votos de bençãos e generosidade durante esse período considerado sagrado aos muçulmanos.

Uma das celebrações mais aguardadas e significativas no calendário hindu é o Diwali, geralmente ocorrendo durante cinco dias entre outubro e novembro. Conhecido como o Festival das Luzes, o Diwali comemora a vitória do bem sobre o mal, da luz sobre as trevas e tem significados variados em diferentes partes da Índia e entre diferentes tradições hindus. Durante essa festividade, as pessoas acendem lamparinas, fazem decorações, trocam presentes, realizam orações em família e compartilham refeições festivas. É uma ocasião de alegria, renovação espiritual e união familiar. Corriqueiramente, usa-se a saudação “Shubh Diwali” para cumprimentar as pessoas, significando “Feliz Diwali”.

Considerando a quantidade de profitentes, o Cristianismo é a maior religião do planeta, abrangendo cerca de um terço da população. As sociedades ocidentais, principalmente, foram estruturadas sob a égide cristã, portanto, culturalmente a data em que se celebra o nascimento de Jesus, no dia 25 de dezembro, é muito relevante, período em que se incentiva com maior frequência as reuniões familiares envoltas na fraternidade e na solidariedade.

Soma-se à data a figura conhecida como Papai Noel, em parte baseada na vida de Nicolau, um bispo cristão do século IV, conhecido por sua generosidade e amor às crianças e aos necessitados. A popularidade do Papai Noel cresceu consideravelmente a partir do século XIX, difundindo-se pela cultura popular ao redor do mundo para cristãos e não-cristãos.

Sob a perspectiva espírita, Jesus é considerado o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra, representando o modelo e guia destacado por Allan Kardec na questão nº 625 de “O Livro dos Espíritos”.

Ainda que não existam datas ou períodos sagrados no Espiritismo, certamente em comemorações tradicionais como o Natal e o Ano Novo é plenamente coerente envolver-se nas reflexões morais e históricas decorrentes da influência e dos ensinamentos de Jesus, além de se desejar, amistosamente, um ano novo repleto de alegrias e realizações positivas.

Em comunicação mediúnica de São Luís intitulada Festa de Natal e registrada na Revista Espírita em sua edição de abril de 1863, faz-se um interessante comentário comparativo entre o significado do nascimento de Jesus e a relevância do surgimento da Doutrina Espírita.

Durante as celebrações das diferentes tradições mencionadas anteriormente, em suas épocas específicas, se um judeu desejar um Bom Ano Novo (Shaná Tová), um muçulmano desejar um Abençoado e Generoso Ramadan, um hindu desejar Feliz Diwali ou, ainda, um cristão desejar um Feliz Natal, exteriorizam-se saudações extremamente respeitosas e inclusivas, pois cada um está compartilhando fraternalmente ao outro o que considera digno e muito importante.

Em um ambiente multicultural, aquele que não professa a mesma religião de quem saúda, mas que apresenta plena capacidade intelectual e equilíbrio emocional compreenderá o significado da mensagem recebida e poderá retribuir a deferência de maneira cordial. Tolerância e empatia são bem-vindas em qualquer sociedade moderna.

Em síntese, quando alguém deseja com sinceridade a outrem algo bom e respeitoso relacionado a uma celebração conforme as tradições locais esposadas, não se trata de ação provocativa, mesmo que o receptor da saudação não compartilhe das mesmas crenças.

Como estamos em dezembro, este texto encerra-se com a sincera mensagem a todos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

Marco Milani

“Nota do Editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em Revista Espírita.
Acesso em: 24/12/2023.

Marco Milani
Marco Milani

Marco Milani, atualmente, está Diretor de Doutrina da USE/SP, Presidente da USE Regional de Campinas e um dos Coordenadores da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, além de Palestrante e Articulista de diversos veículos de comunicação Espírita.

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