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O Salário da Paz

janeiro 10, 2024

Quem não deseja a paz? Ela é buscada em momentos tormentosos nos quais a esperança escapou ou enfraqueceu no coração do aturdido. É buscada naqueles instantes em que se perde o controle das ações por ignorância ou insensatez, culpas ou arrependimentos, deformações ou silêncios invadidos.

A paz é proposta sublime da chama que aquece e conduz. É refúgio das almas para suas jornadas neste e noutros mundos. É guia sensata com a qual se pode caminhar com segurança e agir com sobriedade. O ser sereno é aquele que atingiu altos níveis de consciência e, naqueles níveis, olha os embates como um general perspicaz e estrategista traçando linhas de ações para a vitória buscada. O ser sereno é a representação fiel da consciência cósmica, porque harmoniosa. É a fé legitima porque pautada na lógica e desenhada na geometria universal através de pontos e linhas devidamente equacionados.

O ser sereno é aquele que se permite entrar em contato com os planos superiores da espiritualidade em busca das respostas e preceitos essenciais do espírito. “O Ser e a Serenidade” – sábia proposta do excelente Prof. José Herculano Pires. O ser e a serenidade, o vir-a-ser dessas almas que mourejam no mundo, vezes planando nos cumes ou vagueando nos vales. A serenidade é dama venturosa a convidar-nos aos volteios da vida sem nos perdermos em passos difusos. É o espelho das almas bem-aventuradas que fazem valer em si a suprema Vontade de Deus. Vontade esta muito além dos regimes das causas e efeitos, dos usos muitas vezes infelizes do livre arbítrio, motivados por delitos contumazes que não se quer deixar, distanciando o ser de posturas equilibradas que bem podem conduzi-lo além das estruturas do espaço-tempo e transporta-lo para regiões incólumes do Self, adormecido, esquecido, brilhando pouco enquanto tem a luz divina a ser expandida no peito e no ente.

O homem comum ainda é aquele que caminha de cá para lá, num infinito ir e vir sem se eleger filho de Deus. Que ainda transita entre a irracionalidade e as propostas santificantes das solturas espirituais. Ainda é aquele que chora e que ri inconsequentemente, como nos fala o Irmão X, através de Chico Xavier. Ainda permeia a dança sutil das atrações físicas, envolvendo-se com o ópio que o consolida como perene adormecido. É o fio em busca da teia, o severo viajor a olhar o céu buscando chuvas. Que compra, que vende, que desfaz e faz, que finge estudar almejando o diploma que o capacite aos pódios do poder e da matéria. O diploma na parede e, muitas vezes, a intolerância e a cupidez nas ações diárias.

Ah, mas este homem é a esperança de Deus, a ovelha desgarrada do rebanho de Jesus, o irmão inda rebelde de mentores especiais que não se cansam de nele apostar, reconduzindo-o sempre aos caminhos do bem e da luz! E ele clama pela paz! Mas, a paz que se procura é a paz que se tem no íntimo da alma, aguardando regas profundas. Não é possível ter paz quando acumulamos rancores, mágoas, ódios, ciúmes, invejas… Não é possível ter paz quando assentamos no banco dos nossos erros e apontamos as faltas alheias, julgando impropriamente, sem percebemos a verdade de que: o erro que vemos nos outros é o reflexo do erro que está em nós.
Como clamar pela paz enquanto os estandartes das guerras estão desfraldados em nós? Quando o escudo e a espada, ainda fixos em nossas mãos, aguardam ordens para a defesa ou ataque? Quando ferimos, matamos ideais alheios, conspurcamos consciências infantes, destruímos sonhos dos outros, destronamos a honra e a dignidade, identificando-nos com os transgressores?

Não! A paz não palmilha por estes campos sangrentos das lutas que travamos diuturnamente através de sentimentos e pensamentos malsãos que promovem desditas. A violência, a cólera, o desamor, os impropérios que se diz não coadunam com a paz, irmã da serenidade. As intenções mundanas, olhares travessos, pensamentos mendigos, risos sem graça esboçados à boca pequena prenunciando a vitória opressora sobre o mais fraco, apropriações indébitas do poder utilizado para subjugar… Nada disto trazem a paz e sim atormentam, maculam, acicatam e abrem feridas.

“Deixo-vos a Paz, a minha Paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. O evangelista João no capítulo 14, versículo 27, anotou esta cadência de luz composta por Jesus. Ele, O Cordeiro Divino, imolado para nos deixar a mensagem da serenidade ante as injúrias, infâmias, ingratidões e maldades de todo jaez. Se Ele nos ensinou a paz em momentos supremos dos testemunhos, compete-nos buscá-la sempre e quando nos cadinhos redentores próprios às nossas solturas. Mas, e a paz que desejo por agora trará qual benefício para quem está ao meu lado? A paz que hora anseio é aquela egoísta que apenas me conforte? É a ponte para instantes de devaneios atendendo minha mente possivelmente confusa em suas balbúrdias inconfessas? Que sentenciem apenas os meus próprios benefícios? A paz do silêncio quando quero ouvir minha música favorita, ver meu filme escolhido, o repouso que me proponho, a escritura que me consolida no status do meu ser egóico?

É preciso ser sincero quando se busca a paz. É preciso ser justo quando a atraímos. Alexandre, mentor de André Luiz, no livro: Missionários da Luz diz que: “Quem faz o que pode recebe o salário da paz”. Há pessoas que erram conscientemente e sentem suas consciências tranquilas. Será mesmo este o salário de Deus? Ou fazer tudo o que puder é ser canal para o progresso geral e principalmente daqueles que estão aos nossos lados?

Entendemos que o salário da paz é tão somente para os que vencem suas dificuldades, más inclinações, hábitos seculares que tanto os impossibilitam a singrarem os mares luxuosos da verdade. Somente com a paz encontraremos a verdade, expandindo as Leis Divinas em nós. Façamos, pois, o que nos compete. Mas, não como aquele que apenas cumpre o dever e sim como o que se aprimora continuamente, que jamais repete o trabalho, antes, torna-o continuamente mais primoroso – uma porta onde o outro possa transitar com conforto e segurança. O salário da paz vai sempre para aquele que não permite o esvair das horas sem delas apropriar-se com proveito. O salário da paz será sempre para aqueles que com competência, bom senso e altruísmos fazem valer-se das horas para dignificar a vida. A estes o salário proposto vem de Deus acrescido ainda de muitos bônus de recompensa pelos esforços despendidos em amar, amando-se.

Bom para pensar, sentir, agir. Jesus seguiu em paz para Deus após cumprir Sua missão pacificadora entre os homens. Deixou-nos legado superior que tem norteado e norteará os passos humanos pelos milênios afora. Façamos nossa parte, da melhor forma possível, sem reclamar, exigir, deixar para depois ou para outrem a ação que nos compete agora. Com certeza a paz nos visitará dilatando nossas diminutas perspectivas, avançando além, ofertando-nos muito mais do que julgamos merecer.

Guaraci de Lima Silveira

Guaraci de Lima Silveira
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