Um caso de fé

Lourenço era um exemplo de devotamento e fé.

Em seu peito exibia um belo crucifixo ostentado com orgulho e a vista de todos. 

Suas mãos facilmente se reuniam em qualquer ocasião, fosse no trabalho ou no lar, para reverenciar a Deus por qualquer fato que jugasse pertinente ser digno de oração.

Vez em quando podia ser encontrado em contemplação e, se perguntado, dizia:

– “Vou te contar uma coisa. Estou sempre rezando pelos meus empregados.”

A sua agenda estava sempre lotada. Se não estava cumprindo os desígnios do seu trabalho, poderia ser visto em seu templo religioso meditando e orando.

A par de todo este exemplo, não era alguém fácil de lidar.

Os mesmos empregados pelos quais rezava muitas vezes precisavam suportar exacerbações de orgulho e vaidade, tais como:

– “Se não fosse eu, vocês não estariam aqui”;

– “Eu teria feito melhor esse trabalho”.

E mesmo diante de resultados positivos dos quais assumia o êxito para si sem dar o devido crédito a quem se esforçava, dizia:

– “Agora não tenho mais vaga para você. A minha equipe é formada de gente competente que nem eu.”

Quanto aos pares, não poupava comentários. Se alguém não fizesse parte de seu fórum ou supostamente adentrasse em sua área de trabalho com o risco de, ao seu entendimento, furtar-lhe os louros de algum resultado, não perdia tempo em bradar aos quatro cantos e levantar falsos testemunhos para que não houvesse concorrência.

Lourenço viveu muito e conviveu com muitas pessoas diferentes. Mas não se aproximava de ninguém, pois ninguém o suportava. Desencarnou só, apenas acompanhado por aqueles que tinham a incumbência de sepultá-lo.    

*     *     *

Não basta ter fé. É necessário praticar a fé.

Possuir a fé somente como um sentimento religioso, traduzido em uma crença vazia, sem aplicação, não gera frutos no terreno da caridade.

No plano terrestre podemos ver exemplos marcantes de fé humana, representada pelos homens que possuem um desejo ardente em concluir um feito, uma realização, e não hesitam em acreditar no seu empreendimento. Assim, movem todos os seus esforços, canalizam as suas energias e, muitas vezes, só repousam quando alcançam os seus objetivos. 

Desta maneira se formam profissionais de primeira linha; nascem empreendimentos de sucesso; constroem-se edificações robustas; elaboram-se obras e artes incomparáveis, entre outras conquistas. Tudo pelo poder da fé, de acreditar no que se faz.

Quando a fé está focada nas aspirações celestes e futuras, temos os exemplos de uma fé divina. Com base nela surge a certeza de possuirmos um Pai infinitamente Bom e justo que nos ampara em toda a nossa vida terrena e no além.

Certos da presença Divina em nossos corações, iluminam-se os olhos do espírito, acalentam-se as fibras do coração e surge a necessidade natural de se fazer o bem ao próximo, seja ele quem for. 

Movidos por uma força inexplicável de alegria e amor, as nossas provas e expiações se tornam mais leves e as mãos passam a demandar o trabalho em prol dos irmãos necessitados. E se as mãos falham, as preces sinceras movimentam a matéria mental ao nosso redor e o acolhimento é levado onde se faz necessário.

Desta feita, impõem-se um dinamismo à fé e nasce a caridade prática.

Foi assim que Jesus nos exemplificou em sua passagem pelo plano terrestre, levando a fé praticada na caridade e amor ao próximo (KARDEC, 2013).

Não basta ter fé, precisamos pôr em prática a fé.

Que nos esforcemos para exercê-la em sua plenitude na oportunidade maravilhosa que temos de estar aqui neste planeta escola criado com traços indeléveis de perfeição e beleza em prol de nosso progresso. 

Márcio Martins da Silva Costa

Nota do Editor:
Texto publicado na Revista Digital “Candeia Espírita” (USE-SJC/SP), nº 30, de março de 2024.

Referência:
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131a ed. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013. Cap. XIX – A fé transporta montanhas.