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Há retrocesso na evolução dos Espíritos?

março 21, 2024

Após a individualização do princípio espiritual, processo conhecido e realizado apenas pela Divindade, iniciamos uma marcha sempre evolutiva para alcançar a relativa perfeição, quando, preparados por incontáveis existências de aprendizado contínuo, poderemos atuar com desenvoltura contribuindo na grande obra do Criador.

Nestas muitas existências continuamente avançaremos, contudo, nem sempre em equilíbrio com as duas asas do progresso: a da inteligência e a do amor.

Em função do aproveitamento das oportunidades igualmente oferecidas a todos por Deus, chegaremos mais rápido, ou tardiamente, à meta final, tornando-nos Espíritos puros, sem máculas, com todas as virtudes plenamente desenvolvidas e com o conhecimento científico possível de ser obtido neste caminhar rumo à angelitude.

O aproveitamento das chances de evolução nem sempre é integral para muitos Espíritos, deixando escapar a existência que poderia ser mais produtiva; em outras ocasiões deixando-se permanecer preguiçosos, assistindo ao progresso dos outros, ou seja, escolhem o ritmo, embora lento, que desejam imprimir em sua evolução.

Contudo, mesmo nestas existências parciais ou totalmente desperdiçadas, jamais andamos para trás. Há sempre progresso. O retrocesso não existe no ordenamento divino.

Nem sempre é fácil aceitar este princípio, pois as difíceis situações a nos cercar, às vezes, induzem-nos a pensar que estamos caminhando, mas de marcha à ré, e ficamos desgostosos, muitas vezes desanimados e apreensivos, considerando que o avanço feito no passado agora se perde. Acreditamos voltar a fases já plenamente superadas.

Temos um exemplo desse aparente retrocesso neste momento atual, pois parece que a humanidade está regredindo, considerando as muitas guerras e conflitos existentes, os crimes hediondos, a corrupção desenfreada, a ausência de ética nas relações e as doenças enigmáticas. Tudo parece indicar que o mundo está involuindo. Pelo que observamos, acreditamos que as pessoas estão desaprendendo como conviver, que os desatinos dominam o cotidiano e não poderão ser superados.

Graças ao Bom Deus este entendimento está equivocado.

O que ocorre em nossa Pátria e mesmo no mundo é que construímos condições adversas e os Espíritos ainda não perfeitos, ou seja, todos nós, deixamos extravasar o que vai pelo íntimo de cada qual. Como somos regulares alunos matriculados neste educandário, que poderia no momento ser intitulado de Escola de Provas e Expiações Terra, é de se esperar que os habitantes do planeta ajam conforme a índole pessoal, segundo as características que de fato nos tipificam.

E qual é a natureza dos Espíritos aqui encarnados? Somos Espíritos repetentes nas magnas lições de humanidade, fracassados, trazemos inúmeras sombras, e estas nada mais são que traços de personalidade distantes daqueles desejados pelo Pai Amantíssimo, forjados em existências passadas pouco aproveitadas, nesta ou em outras escolas-planetas do Universo.

Entretanto, não há dúvida, temos virtudes também, porém insipientes, débeis, fracas, bruxuleantes como pavios de velas enfrentando fortes ventos. Cedemos facilmente em conduta quando testados pelos momentos mais rudes enfrentados nestes dias que caracterizam o iniciante milênio.
Então o que há, seria apenas o transbordamento desta natureza viciosa e delituosa que ainda existe nos alunos deste

Educandário-Terra, que estava, poderíamos dizer, abafada. Assim, não estamos regredindo, mas vivemos uma fase característica de condutas de Espíritos mal adaptados, muitos desejosos de um mundo melhor, contudo ainda prisioneiros de um passado que necessita ser trabalhado e superado.

Recordemos algumas passagens contidas na obra fundamental espírita – O Livro dos Espíritos:

“118. Podem os Espíritos degenerar?

— Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”

“194a. A alma de um homem perverso pode tornar-se a de um homem de bem?
— Sim, se se arrependeu. Isso constitui então uma recompensa.” Comentário de Allan Kardec: “A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrograda.”

“398a. Poderá também ser pior, isto é, poderá o Espírito cometer, numa existência, faltas que não praticou em a precedente? — Depende do seu adiantamento. Se não souber triunfar das provas, possivelmente será arrastado a novas faltas, consequentes, então, da posição que escolheu. Mas, em geral, estas faltas denotam mais um estacionamento que uma retrogradação, porquanto o Espírito é suscetível de se adiantar ou de parar, nunca, porém, de retroceder.”

“612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem? — Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”

“778. Pode o homem retrogradar para o estado de natureza? — Não, o homem tem que progredir incessantemente e não pode volver ao estado de infância. Desde que progride, é porque Deus assim o quer. Pensar que possa retrogradar à sua primitiva condição fora negar a lei do progresso.”

“805. Passando de um mundo superior a outro inferior, conserva o Espírito, integralmente, as faculdades adquiridas? — Sim, já temos dito que o Espírito que progrediu não retrocede. Poderá escolher, no estado de Espírito livre, um invólucro mais grosseiro, ou posição mais precária do que as que já teve, porém tudo isso para lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir.”

Cremos ser suficiente a enumeração destas passagens para convencermo-nos de não haver retrocesso.

Nada obstante, ajuíza-se que quando um Espírito reencarna no mesmo mundo, e este mundo evoluiu, então esse reencarnante seria obrigado a progredir, pois os avanços técnicos neste orbe devem estar aprimorados, sendo assim, sempre haveria progresso, e nem haveria estacionamento na evolução.

É fato: sempre que Espíritos reencarnam no mesmo mundo e este progrediu tecnologicamente, todos são obrigados a dominar e conviver com estas novas tecnologias, desenvolvendo a inteligência, desta forma, progredindo sempre. Contudo, quando os Espíritos superiores nos ensinam poder haver estacionamento, referem-se ao estacionamento moral, pois sabem que ao reencarnar somos obrigados a viver conforme se vive no novo mundo.

Mesmo se vendo obrigado a reencarnar em um mundo inferior àquele em que desencarnou, processo que está em pleno curso considerando a fase atual de transição planetária para Mundo de Regeneração, não há retrocesso, pois o patamar de inteligência e moral conquistados, antes do desencarne, e talvez melhorado durante o período da erraticidade, permanece com o Espírito e este vai viver em um mundo primitivo com as suas conquistas de intelecto e moralidade. Nada se perde. Sem dúvida, progredirá intelectualmente, pois lidará com condições mais adversas daquelas presentes na existência anterior, obrigando-o a crescer para sobreviver, e poderá igualmente evoluir moralmente se souber conduzir-se segundo as leis de Deus regendo todas as Escolas do Universo.

Rogério Miguez

Nota do Autor:
Todas as citações foram retiradas da tradução de Guillon Ribeiro de O Livro dos Espíritos, edição FEB e todos os grifos são nossos.

Rogério Miguez
Rogério Miguez

Trabalhador da Doutrina Espírita desde a Mocidade, tendo atuado no estado de Rio de Janeiro em algumas Casas e, atualmente, em São José dos Campos/SP nos Centros Amor e Caridade, Jacob e Divino Mestre. Colabora em Cursos, Exposições, Atendimento Fraterno e Passes, sendo articulista dos periódicos Reformador e Revista Internacional de Espiritismo.

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