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Reconciliação

abril 3, 2024

Existe um movimento dentro da Doutrina Espírita, que procura educar as pessoas para aprenderem a melhor conviver umas com as outras. Aprendendo a aceitar as diferenças sociais, culturais, evolutivas e promovendo na medida do possível a reconciliação entre os desafetos.

Muitas pessoas devido à maneira diferente de pensar e interpretar os acontecimentos, acabaram gerando atritos familiares, sociais e culturais. Não estamos aqui para sermos os donos da verdade, mas para aprender a amar e melhor conviver um com o semelhante.

A Doutrina Espírita tem como máxima, a prática do amor ao próximo e o exercício da caridade. São importantes diretrizes e normas para a realização da nossa Reforma Íntima. Ninguém passa por uma encarnação sem vivenciar momentos de ignorância ou imperfeição, com exceção de espíritos missionários.

Em várias passagens bíblicas, Jesus procurava ensinar aos seus apóstolos e aos seguidores:

“Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele.” – Jesus
(Mateus, 5:25.)

Essa orientação doutrinária tem uma importância fundamental, pois o exercício do perdão das ofensas, representa a possibilidade de não sermos portadores de sentimentos adoecidos, que venham também a nos ferir emocionalmente com o tempo, devido às mágoas acumuladas. Porém, precisamos aprender a respeitar as diferenças na forma de pensar das outras pessoas.

Mesmo sabendo que as mágoas podem contribuir para o surgimento de doenças físicas ou psicológicas, precisamos aceitar que cada pessoa tem seu tempo de transformação e amadurecimento pessoal. Não basta conhecer a verdade espiritual, é necessário ter amadurecimento do senso moral para aceitar e interagir com essa verdade.

Existe uma grande diferença entre teoria e prática e precisamos aprender a respeitar a maneira de pensar das outras pessoas. Mas também podemos sugerir algumas ideias, para que as pessoas, pelo menos, pensem a respeito.

Ninguém é obrigado a acreditar, mas a ideia deve ser oferecida, da mesma forma que Galileu Galilei no século XVI sugeriu e afirmou a Teoria Heliocêntrica sendo condenado pela inquisição por heresia.

Hoje todos sabemos que a Terra não fica no centro do Universo e o Sol é um astro que fica no centro do Sistema Solar, onde a Terra não passa de um planeta que gira em torno do Sol. Uma verdade científica que quase custou a vida de Galileu Galilei.

Essa analogia procura mostrar que às vezes a verdade depende do nosso ponto de observação ou de vista. Às vezes a verdade envolve uma questão de crença, que implica em um dogma filosófico ou psicológico que somos portadores da nossa história cultural, da nossa ancestralidade.

Encontramos no Evangelho Segundo o Espiritismo uma passagem bíblica que pode ajudar na nossa reflexão:

“Os fariseus, tendo sabido que Ele tapara a boca aos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, para o tentar, propôs-lhe esta questão: “Mestre, qual o mandamento maior da lei?” — Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (Mateus, 22:34 a 40.)” (1)

Essa passagem é bastante significativa para aqueles que conhecem O Decálogo, porém muitos poucos por uma questão de ordem moral, conseguem vivenciá-lo. Somos espíritos em processo de evolução e como não somos perfeitos, somos falíveis, porém não podemos usar isso como uma desculpa, pois a reencarnação nos coloca numa posição delicada, teremos que um dia reparar as faltas que cometemos.

No Livro dos Espíritos vamos encontrar o complemento desse raciocínio, das perguntas 990 até 1002, em particular a pergunta 998, quando Kardec escreve:

A expiação se cumpre no estado corporal ou no estado espiritual? 

“A expiação se cumpre durante a existência corporal, mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais, inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.” (2)

O processo de expiação acaba favorecendo com o tempo uma reconciliação entre antigos desafetos de vidas passadas, a grande maioria das vezes pela dor, pois poucos se dispõem a aceitar uma existência de desconforto moral, para corrigir as faltas que ele mesmo cometeu.

Na pergunta 998, podemos entender, que embora o espírito possa se arrepender no plano espiritual dos erros cometidos da última existência terrestre, ele precisará de uma nova encarnação com as pessoas comprometidas do passado para a reconciliação.

Como a espiritualidade sabe que cada indivíduo evolui num ritmo diferente, oferece em alguns casos para espíritos renitentes uma encarnação em uma família desconhecida para ele, mas com as características necessárias para que venha a se corrigir. Tanto Emmanuel como André Luiz nos afirmam essa condição em algumas das suas obras.

Eder Andrade

Referências:
(1) Kardec, Allan; Evangelho Segundo o Espiritismo; Capítulo XI – Amar o próximo como a si mesmo; O mandamento maior. FEB.
(2) Kardec, Allan; Livro dos Espíritos; 4a parte – Capítulo II – Das penas e gozos futuros; Expiação e arrependimento; FEB.

Eder Andrade
Eder Andrade

Professor de História e Sociologia, frequentador do Centro Espírita Consolador, no Rio de Janeiro, RJ.

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