Materialismo

Márcio Costa
18/08/2014
1512 visualizações

O conceito de que existe algo além do túmulo acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos. Intuídos da existência de uma Reencarnação, os povos mais antigos já acreditavam que após a morte a alma não seria aniquilada e poderia voltar à carne em uma nova existência. Como exemplo, por volta do ano 600 a.C. os babilônicos projetavam esta crença na divindade Tammuz que acompanhava os períodos de colheita, renascendo anualmente no período da semeadura e morrendo, em seguida, ao final da colheita. Nos séculos seguintes, o reencarnacionismo foi seguida pelos egípcios e pelos gregos, transformando o deus babilônico em Osíris e Adônis, sendo ambos símbolos da vegetação.

A ideia do nada não coaduna com os sentimentos inatos que carregamos nos rincões mais íntimos da alma. De alguma forma pressentimos a continuidade de nossa individualidade das formas mais variadas possíveis. Alguns acreditam que fazemos parte de um todo e a ele retornaremos após a morte; outros alimentam a ideia de uma espera pelo juízo final; e, mesmo com diversas abordagens diluídas nas numerosas religiões, ainda encontramos individualidades materialistas que limitam a existência à falência dos órgãos.

Os materialistas partem do princípio da impossibilidade de haver algo além das engrenagens orgânicas que mantém vivo o corpo humano. Mergulhados somente naquilo que veem e percebem com os sentidos materiais, não acreditam na possibilidade de que algo intangível aos nossos olhos possa conduzir um corpo em toda sua complexidade física e intelectual. Para eles, Deus é uma “ideia gratuita” incapaz de ser concebida ou observada pelos seus limitados métodos de análise.

A Revista Espírita de agosto de 1868, no artigo “A Religião e a Política na Sociedade Moderna” os espíritos são divididos em três grupos cujos entendimentos sobre o tema são bem distintos. São esses o espiritualismo, o Espiritismo e os materialistas.

No primeiro grupo encontram-se aqueles que acreditam na existência de algo além da vida do corpo. As diferenças observadas nas diversas correntes baseiam-se apenas na natureza e destinação dos espíritos. Nesta ordem encontram-se os católicos, os judeus, os protestantes, os muçulmanos, dentre outros. Sob dogmas diferentes, todos estes levam no coração a esperança de serem amparados pelo criador em uma outra vida.

No segundo grupo encontram-se os espíritas. Diferentes do grupo anterior, estes possuem uma ideia mais clara do que é a alma. Distinguem o corpo físico do corpo fluídico. Acreditam no progresso moral e intelectual lapidado em diversas encarnações. Têm consciência de que más ações podem gerar débitos a serem resgatados nas demais encarnações. Buscam o melhoramento pessoal por meio do estudo e da caridade.

Acreditam nas muitas moradas existentes no universo. Creem na comunicação com os que já partiram da vida. Acreditam na família universal, que envolvem encarnados e desencarnados. Depositam na prece a certeza do acolhimento pela espiritualidade. Pregam o livre arbítrio e sabem que ele será o veículo que os levarão ao bem ou ao mal.

Não acreditam em penas eternas, muito menos em criaturas voltadas para o mal para toda a eternidade. Sabem que suas ações podem aproximá-los ou afastá-los da condição de espíritos ditosos, de condição mais elevada. Também não acreditam em seres criados perfeitos para estarem junto a Deus. Para os espíritas, um anjo é aquele que passou por inúmeras encarnações até chegar a uma condição sublime na espiritualidade. Demônio, por outro lado, são os irmãos que ainda se mantém nas trevas de suas imperfeições, julgando que suas dores são eternas.

Estas breves colocações não resumem a crença Espírita. Ressalta-se ainda que muitos podem ser espíritas mas não se intitulam neste grupo; como também, outros podem se julgar rotulados na Doutrina Espírita, mas estão longe de serem considerados espíritas. De acordo com Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”.

No último grupo encontram-se os materialistas. Para eles não há mais nada além da vida em que se encontram. Tudo se encerra no túmulo. O corpo é uma engrenagem de órgãos motivados por si só em atendimento às leis que a mente orgulhosa dos materialistas julga vir a descobrir somente por meio da ciência. Veem a Deus como algo incômodo, motivador da ignorância humana e de guerras santas. Neste grupo, a percepção do mundo e das coisas limita-se naquilo que seus órgãos dos sentidos podem lhes oferecer.

Conforme resumo da Revista Espírita, os materialistas são aqueles que não acreditam na alma, a menos que esta faça parte da matéria. Já os espiritualistas dizem que a alma existe na condição de espírito, independente de Deus e da matéria. Para os espíritas, “a alma é distinta de Deus que a criou, inseparável de uma matéria fluídica e incorruptível que se pode chamar perispírito”.

Felizmente, o conceito materialista nunca formou uma doutrina. Se isso ocorresse, os impactos na sociedade seriam extremamente nocivos. O orgulho e a vaidade predominariam entre os homens. A certeza do nada além da lápide levaria à busca de tudo antes da morte. Todos buscariam a sua sobrevivência nos diversos cenários na vida digladiando entre si. Uma civilização que experimentasse tal atraso intelecto-moral estaria fadada à ruína, pois o “gérmen” da destruição já estaria plantado em suas bases. A descrença no futuro levaria ao apagamento do presente.

Espíritas, “de fato ou de nome”, lembremo-nos da mensagem de Emmanuel psicografada por Francisco Cândido Xavier no livro “Religião dos Espíritos”:
-“Temos, assim, a tarefa de conduzir para frente a bandeira da imortalidade com o trabalho incessante que lhe é consequente, mas, para atingirmos esta meta, é imperioso que se disponha cada um de nós a viver em si mesmos os princípios que prega, com a obrigação de servir e com o dever de estudar.”

Márcio Martins da Silva Costa

Referências Bibliográficas:
K
ARDEC, Allan. A gênese. 52. ed. Rio de Janeiro: Feb, 2012. 526 p.
KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2004
LACERDA FILHO, Licurgo S. de. Ressurreição e Mitos Agrários. In: LACERDA FILHO, Licurgo S. de. A Reencarnação na História Humana: I Origens. Araguari: Minas Editora, 2007. Cap. 4. p. 22-23.
REVISTA ESPÍRITA: Jornal de Estudos Psicológicos. Paris: Allan Kardec, v. , ago. 1868. Mensal. Disponível em: <http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/revista-espirita-1868.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2014.
XAVIER, Chico. Religião dos espíritos. 21. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010. 376 p.

Veja também

Ver mais
15.03.2025

Roda Viva do Espiritismo – Entrevista com Paulo Henrique de Figueiredo

Dia 26 de Outubro (Terça-feira) às 20h, o entrevistado da noite será Paulo Henrique de Figueiredo. Programa radiofônico produzido pelo IDEFRAN – Instituto de Divulgação Espírita de Franca, SP. Transmissão…
15.03.2025

Clássicos do Espiritismo | A Alma é Imortal de Gabriel Delanne Ep.07

No "Clássicos do Espiritismo" desta terça-feira, 30 de agosto de 2022, às 20:00h, teremos o 7° episódio de "A alma é imortal", do Gabriel Delanne. Faremos um bate-papo em torno…
15.03.2025

Aqui se Faz, Aqui se Paga: A Expiação Continua na Terra

Dependendo da gravidade dos atos praticados e da condição espiritual de cada um, os Espíritos endividados sofrem após a morte pelos erros cometidos na existência terrestre e, após estágios em…
Abrir bate-papo
Precisa de ajuda?
Olá! Como podemos ajudá-lo(a)?