Em Nazaré Não O receberam…

Francisco Rebouças
09/08/2016
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Ao tempo de Jesus, Nazaré era uma aldeia muito modesta com uma população reduzida entre cento e cinquenta a cento e oitenta pessoas, distante seis quilômetros de Séforis, a nova capital da Galileia, aproximadamente cinquenta e dois quilômetros de Cafarnaum, onde passaria a residir por algum tempo.

Embora Ele houvesse vivido ali por quase trinta anos, fosse conhecido e seguisse a tradição nazireia, resultado da sua educação doméstica, quando foi anunciado o Seu retorno, os adversários anteciparam-nO e mediante a urdidura das intrigas, da inveja e do despeito geraram embaraços e dificultaram-Lhe o ministério.

A intriga é veneno destilado pelas almas doentes incapazes de acompanhar a glória de outrem sem a presença da inveja e do despeito.

Ele era puro e isso não se fazia aceito por aqueles que ainda se encontravam nas agruras das imperfeições.

Era manso e a ferocidade dos mais primitivos levantava-se para provocá-lO embora não encontrasse resposta equivalente.

Ele era nobre como a Vida e os atormentados que a perturbavam não aceitavam a Sua superioridade.

Em torno dos Seus passos a indiferença pelo próximo e o esquecimento da fraternidade constituíam comportamento normal, porque os infelizes eram invisíveis, quando não criavam situações embaraçosas para os cômodos.

Mas ainda hoje é mais ou menos assim…

Quando Ele chegou com os Seus discípulos, após uma jornada fatigante, a agressividade local era generalizada, demonstrando quanto ressentimento havia na pequena e hostil população.

Havia inverno nos corações, enquanto a primavera estuava em a Natureza.

Sopravam ventos brandos, levemente perfumados, acariciando as almas em turbilhão.

Uns chamavam-nO discípulo de Belzebu para poder realizar o que diziam que Ele era capaz de fazer. Outros acusavam-nO de feitiçaria, diversos gritavam que Ele era mistificador que ludibriava o povo ignorante e supersticioso…

Os discípulos foram igualmente agredidos verbalmente e não foram poucas as discussões que, por pouco não culminaram em pugilato.

Os mais jovens ficaram furiosos e enfrentaram a ironia e a crítica ácida, defendendo o Amigo.

Os mais experientes não ocultavam o desencanto, ainda mais diante da serenidade do Rabi, que permanecia inalterado.

O Reino dos Céus não é imposto pela força. – Disse Ele, mansamente, como se nada de mal estivesse acontecendo.

E porque a situação se houvesse tornado grave, a fim de evitar alguma pugna muito do agrado dos desordeiros, Ele convidou os amigos, sem qualquer ressentimento, a retornar a Cafarnaum…

Os Seus não O receberam, não O mereciam.

A flor delicada da verdade necessita da haste vigorosa para continuar exalando perfume e transformar-se em fruto abençoado.

Os fariseus estavam tentando ferir a árvore frondosa da Verdade, a fim de que não houvesse flor nem frutescência.

Na saída de Nazaré convulsionada pela insensatez dos Seus inimigos, houve o enfrentamento com a Treva.

Nazaré, como a maioria das cidades, tinha os seus réprobos: aqueles que haviam sido expulsos do Livro da Vida, portadores de lepra, de obsessão, de cegueira, das mazelas da alma pela prostituição, alcoolismo, misérias morais…

Tornara-se célebre um endemoniado agressivo que, normalmente era expulso da pequenina urbe sob pedradas de crianças e de adultos, e sempre retornava.

Relativamente jovem fora acometido de loucura, agredindo os pais e familiares, todos quantos se lhe acercavam, sendo surrado muitas vezes até a exaustão e jogado nos monturos…

Passado algum tempo, ei-lo de retorno, furioso e alucinado.

Vendo Jesus e os Seus a regular distância, pôs-se a blasfemar e a inquirir:

Jesus de Nazaré, por que me persegues? Que queres de mim?

Suavemente compadecido enquanto o tresvariado se agitava, Ele indagou tocado pela misericórdia:

Quem és tu?

A voz roufenha e a baba abundante na boca, respondeu:

Sou Satanás que domino este homem e o martirizo.

Com dúlcida e enérgica melodia nos lábios, o Senhor respondeu:

Satanás, em nome de meu Pai, eu te ordeno: sai dele, deixa-o.

A voz, portadora de uma tonalidade especial, sem qualquer laivo de brutalidade, produzindo um especial efeito no infeliz desencarnado, agitou o enfermo, fê-lo convulsionar e deixou-o, tombando-o no solo, como se estivesse numa crise epiléptica.

Apesar de acostumados com os sublimes fenômenos produzidos pelo Mestre, os Seus discípulos, a princípio alarmados, foram tomados de jubilosa surpresa.

E quando o Senhor auxiliou o paciente a levantar-se perfeitamente recuperado, disse-lhe:

Vai e apresenta-te a todos, a fim de que eles saibam o que pode fazer Aquele que vem em nome de Deus.

O recuperado sacudiu a poeira da roupa e avançou na direção da praça, onde se amotinavam o povo e alguns fariseus, que o vendo, ficaram estremunhados e agressivos.

Alguém gritou com voz estentórea:

Quem está de volta!

Com muita calma, o ex-alienado respondeu:

Sim, sou eu!

Continuas louco, desgraçado, ou alguém te curou?

Sem ressentimento e com alegria ripostou:

O Mestre recuperou-me…

Não terminou a frase e as gargalhadas de mofa abafaram-lhe a voz em gritaria infrene, com ameaças de apedrejamento.

Foi então que o recuperado bradou mais forte:

Jesus salvou-me! Estou curado.

Seus olhos brilhantes e a sua serenidade impactaram os delinquentes

que foram dominados por peculiar estupor.

Um fariseu soberbo e mendaz acercou-se-lhe com empáfia e olhando-o com aparente serenidade, inquiriu-o:

Tu dizes que Jesus te curou? Mas Ele é servo de Belzebu.

Ao que o recém-curado esclareceu com lógica irretorquível:

Se Ele me curou por Belzebu, por que vós jamais curastes alguém? Que me importa em nome de quem Ele me recuperou. O que posso afirmar é que eu tinha um demônio que me dominava e Ele me libertou. É, portanto, melhor e mais poderoso do que vós.

E saiu cantando louvores, seguindo o Mestre.

Nunca faltarão inimigos para a Verdade.

Mesquinhos e ignorantes eles sempre se opõem ao amor, mas acima deles e de suas misérias encontra-se a inefável misericórdia de Jesus a todos e a eles também socorrendo.

Nazaré não O recebeu, porque ninguém é profeta na sua terra.

Nazaré se arrependeu na sucessão dos séculos…

Amélia Rodrigues.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 15 de junho de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

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