Entrevista com Antônio Cesar Perri de Carvalho, ex-presidente da FEB (*)
outubro 1, 2016
(*) Questões propostas por: Jorge Hessen, José Passini, Leonardo Marmo, Astolfo Olegário, Eurípedes Kuhl, Wilson Garcia, José Sola, Paulo Neto, Roberto Cury, Irmãos W. (Autores Espíritas Clássicos).
1) Considerando as pressões e complexidades inerentes ao cargo de presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB), que tipo de concessão o senhor foi constrangido a aceitar em prol de um apaziguamento ou visando à obtenção de projetos que, no respectivo momento, considerava mais prioritários para o Movimento Espírita e para a melhor divulgação doutrinária? Que avaliação retrospectiva o senhor faria, hoje, desse (s) procedimento (s) e de suas repercussões?
Cesar Perri – Assumimos a presidência interina da FEB, na condição de um dos vice-presidentes, por indicação do ex-presidente Nestor João Masotti, que se licenciava para tratamento de saúde; em seguida, por renúncia deste amigo, fomos eleito presidente. No conjunto atuamos na presidência no período de maio de 2012 a março de 2015. Foram momentos de muitas complexidades internas na FEB e na sua relação com o Conselho Espírita Internacional, que também apresentava dificuldades administrativas. Não fizemos concessões, mas percebemos resistências e o ritmo lento de muitas providências. Sentimos claramente que existiam pontos de vistas diferentes dos nossos acerca do papel a ser exercido pela FEB no movimento espírita. Em nossa ótica, entendemos a FEB como uma instituição nacional, que deve interagir com o movimento espírita do país, e, nesta condição o chamado “campo experimental” não deveria gerar a ideia de “modelo”, pois entendemos que o mais importante para o trabalho federativo são as experiências provenientes do movimento espírita como um todo, sem qualquer ação que poderia vir a ser confundida com centralização.
Por outro lado, desde o primeiro momento da gestão e ainda na interinidade, realizamos reuniões quinzenais conjuntas do Conselho Diretor (integrado pelo presidente e vice-presidentes) e da Diretoria Executiva da FEB (integrado por diretores). Dessa maneira todos os assuntos e encaminhamentos foram decididos nessas reuniões e se implantou a gestão com base em orçamento. No período de nossa gestão, sempre com divulgação ampla, convocamos duas Assembleias Gerais Extraordinárias, reuniões extraordinárias do Conselho Superior e do Conselho Federativo Nacional – CFN, e, efetivamos reuniões conjuntas do Conselho Federativo Nacional e do Conselho Superior. Muitos pontos de vistas divergentes foram equacionados nesse conjunto de reuniões. Enfim, seguíamos um projeto de favorecer maior participação do movimento espírita brasileiro, iniciado desde a gestão do ex-presidente Nestor Masotti. Por indicação e com apoio deste ex-presidente, previamente, exercemos durante oito anos o encargo de secretário geral do CFN da FEB, com essa linha de atuação. Mas sentimos que isso gerou resistências internas na instituição. Evidentemente que gostaríamos de ter completado o Projeto de Planejamento Estratégico da FEB, que iniciamos, e, de termos concluído propostas de adequação e de dinamização de atividades na área federativa e na área editorial da FEB.
2) Por que a FEB mantém o atual modelo do Conselho Superior – que certamente teve sua finalidade nos primórdios da implantação do Movimento Espírita no Brasil – até o presente, numa centralização de poder que se assemelha ao Colégio Cardinalício do Vaticano, tirando o poder do Conselho Federativo Nacional?
Cesar Perri – Sem comentar a comparação colocada na indagação, geralmente se lembra do Conselho Superior relacionando-se com a sua função de “colégio eleitoral”. Há um registro histórico público do ex-presidente da FEB Leopoldo Cirne (gestão 1900/1913) – em um livro de 1935, – aliás com um título não usual Antichristo, Senhor do Mundo -, onde analisou a criação e o funcionamento de órgãos da FEB e a criação do que chamou de “verdadeiro círculo vicioso”. Em nossa ótica, a composição e as atribuições do Conselho Superior deveriam ser revistas para se adequar melhor a uma instituição de caráter nacional, e, também, efetivamente atuar como um conselho semelhante aos conselhos de administração das empresas da atualidade. Entendemos que as atribuições e efetivas ações do Conselho Superior da FEB deveriam ser até ampliadas, para uma participação mais ativa dos seus membros no acompanhamento das decisões e ações do Conselho Diretor e da Diretoria Executiva. Na tentativa de promover uma ação mais próxima do Conselho Superior com a direção da FEB e com o movimento federativo, convocamos reuniões extraordinárias e também conjuntas do Conselho Superior com o Conselho Federativo Nacional da FEB.
3) Considerando o grande número de títulos que são publicados pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e a condição de “indisponível” de várias obras altamente relevantes doutrinariamente, seria interessante saber como é discutida, pela direção da FEB, os livros que devem receber prioridade para serem publicados, divulgados e distribuídos. Assim sendo, que fatores são levados em consideração e como as discussões são empreendidas, uma vez que a FEB publica Chico Xavier, Divaldo P. Franco e Yvonne A. Pereira, além de Denis, Delanne e Bozzano, entre outros, além, obviamente, de Allan Kardec?
Cesar Perri – Assumimos a gestão da FEB em época muito complicada, com necessidade de decisões urgentes relacionadas com a desativação da gráfica, iniciada na gestão do ex-presidente Nestor Masotti, e, depois de todo o prédio ligado à editora no Rio de Janeiro, implantando-se a terceirização das impressões com cotações em várias grandes gráficas e a distribuição dos livros utilizando-se experiente empresa de logística. Também houve necessidade de revisão de todos os textos dos livros, atualização das capas e da diagramação dos livros. Simultaneamente já sentíamos os reflexos iniciais da crise econômica do país. Há um Conselho Editorial – integrado por dirigentes da FEB -, e que tem a atribuição de analisar novas obras e reedições; e, durante nossa gestão, se iniciou um processo de maior interação entre este e o Conselho Diretor e a Diretoria Executiva da FEB, para a definição de prioridades do ponto de vista doutrinário e da realidade do mercado livreiro. Na nossa visão esse processo estava apenas se iniciando e deveria ser aprofundado e aperfeiçoado.
4) Por que a FEB continua publicando a obra de J.B. Roustaing, que diverge frontalmente de princípios doutrinários apresentados por Kardec? Considerando o desígnio da unificação do M.E.B. e permanecendo a FEB obsessivamente apadrinhando e divulgando “Os Quatro Evangelhos” de J.B. Roustaing, não seria essa incômoda obstinação lesiva à união dos espíritas? Será que espera uma campanha de esclarecimento a ser deflagrada no meio espírita?
Cesar Perri – Quando assumimos a presidência da FEB estavam esgotados muitos títulos. A obra citada e muitas outras não foram reeditadas durante nossa gestão. Com relação à divulgação da obra referida, mantivemos o acordo feito durante a gestão do ex-presidente Francisco Thiesen – e sempre lembrada pelo ex-presidente Nestor João Masotti -, que nas ações federativas e documentos do Conselho Federativo Nacional e na revista Reformador as obras de Allan Kardec seriam a base. Nunca aprovamos propostas de divulgação sobre a não recomendação de obras e muito menos de elaboração de listas de livros que eventualmente não seriam indicados. Desde os tempos de nossa atuação na União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – USE valorizamos a Campanha “Comece pelo Começo”, de divulgação das Obras Básicas de Allan Kardec, iniciada nos anos 1970. Aliás, durante nossa gestão como presidente da FEB, o Conselho Federativo Nacional aprovou em 2014 a Campanha “Comece pelo Começo”, proposta e elaborada pela Área Nacional de Comunicação Social Espírita do CFN.
5) Você que certamente deve ter sido vítima diversas vezes de ataques e perfídias dos inimigos da luz (encarnados e desencarnados), em face as suas experiências e potencialidades federativas, já refletiu sobre a possibilidade de conduzir um movimento, em que líderes e dirigentes federativos ou não, participem?
Cesar Perri – A diversidade de pensamentos e de sentimentos é uma característica do nosso mundo, da humanidade encarnada e da desencarnada. Vivemos essa experiência de aprendizagem, mas preponderando as vibrações fraternas, nas atividades profissionais, e, no movimento espírita, desde o início de nossa trajetória na mocidade, no centro espírita, nos órgãos de unificação municipal e regional, na direção em nível estadual da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – durante três mandatos como presidente -, e, na convivência com o movimento espírita de nosso país, incluindo o Conselho Federativo Nacional da FEB. Inspiro-me sempre no apóstolo Paulo: “Examinai tudo, retende o bem” e no seu depoimento: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”. Acredito que nossa “corrida” não se encerrou, mas ocorrem adequações de caminhos, e, sem a preocupação com cargos, estamos atuando como um servidor, procurando manter a “fé com obras” e bem próximo da realidade das bases do movimento espírita.
6) Algum desencanto em face da não reeleição à presidência da FEB?
Cesar Perri – Poucos dias antes da eleição, recebemos a informação de alguns dirigentes da FEB da posição deles que queriam a escolha de um outro presidente e, logo depois, divulgaram um manifesto ao Conselho Superior da FEB. Preparamo-nos para a nova circunstância, ciente de que poderiam ocorrer paralisações e alterações de projetos que defendíamos. Após deixarmos a presidência da FEB, optamos por atuar em instituição simples e funcionando em bairro mais periférico de Brasília; com a nossa participação foi criado o Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier (GEECX); prosseguimos atendendo a continuados convites de todas as partes do país, para visitas, palestras e o desenvolvimento de seminários, visitando inclusive o interior de vários Estados; retomamos as contribuições mensais com a Revista Internacional de Espiritismo, vínculo que já existia desde o ano de 1971, e a elaboração de livros, como os recentemente lançados pelas Editoras “O Clarim” e pela USE-SP. Em todos os rincões que nos convidam temos recebido o reconhecimento amigo e o carinho da família espírita em manifestações de solidariedade fraterna.
7) Parece haver uma concepção generalizada de que o Espiritismo é uma religião no sentido tradicional do termo e há até mesmo quem diga que atualmente “O Evangelho segundo o Espiritismo” está sendo empregado como “O Espiritismo segundo o Evangelho”. Como você percebe e conceitua essa situação?
Cesar Perri – Em palestras, artigos e em livros temos trabalhado a concepção de Allan Kardec sobre religião, que consta em O livro dos espíritos (Conclusão, item V): “O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião […] ele se apoia na confiança em Deus […] convida os homens à felicidade, à esperança, à verdadeira fraternidade […]”.
Reconhecemos que Kardec faz importantes definições em O evangelho segundo o espiritismo (Apresentação): “Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral por si sós são ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da chave que faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. Essa chave está completa no Espiritismo…”. No capítulo I deste mesmo livro Kardec inclui mensagem de Um Espírito israelita”: “Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá.”
Destacamos que o filósofo e jornalista Herculano Pires deixou-nos significativas obras que analisam essas questões, entre outras o livro: O espírito e o tempo. Introdução histórica ao espiritismo, cuja 1ª. edição veio a lume em 1964.
Entre as Obras Básicas de Allan Kardec, percebemos que o livro O Evangelho segundo o Espiritismo é utilizado, geralmente, como “leitura preparatória” de reuniões ou como temas de palestras e que está faltando e o seu estudo. Durante nossa presidência na FEB, intensificamos a divulgação desse livro por ocasião do Sesquicentenário de sua publicação, inclusive com a sua edição em parceria com Federativas, numa tiragem de 200 mil exemplares, e, no temário do 4º. Congresso Espírita Brasileiro, em 2014. Esse congresso foi um marco de evento bem sucedido, descentralizado e efetivado simultaneamente em quatro regiões, com consultas prévias às Federativas sobre temas e expositores, e autossustentável. Também criamos as reuniões de estudo de O evangelho segundo o espiritismo, na sede da FEB em Brasília, e integramos sua equipe de facilitadores e acompanhamos o vívido interesse dos participantes de diversas faixas etárias e com diferentes graus de conhecimento doutrinário, no desenvolvimento dos temas; foram marcantes as avaliações que os frequentadores fizeram sobre essas reuniões de estudo. No período adotou-se uma adaptação da metodologia de estudo interpretativo do Evangelho, que foi desenvolvida por Honório Onofre Abreu (ex-presidente da UEM, MG). Também foi criado o Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho (NEPE da FEB) que gerou uma série de vídeo aulas – “Evangelho à luz do Espiritismo” pela TVCEI e depois FEBtv, tendo como desdobramento o aparecimento de vários grupos de estudos de O evangelho segundo o espiritismo em vários locais do país. Ainda como consequência, a Editora FEB lançou em 2014 o livro elaborado por uma equipe, com o título O evangelho segundo o espiritismo. Orientações para o estudo.
Após deixarmos a presidência da FEB, prosseguimos nessa linha de trabalho e inclusive elaboramos o livro Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo (Ed. O Clarim), valorizando a essência das recomendações morais de Paulo e sobre dons espirituais, com abordagens simples, objetivas e fundamentadas nas obras de Kardec e do Espírito Emmanuel, psicografadas por Francisco Cândido Xavier.
8) A figura de Chico Xavier está sendo venerada com equilíbrio ou com exagero? Você concorda que ele surge atualmente como uma voz mais forte e mais requisitada do que a de Kardec?
Cesar Perri – Na realidade, encontramos as duas situações. Surpreso, temos verificado que muitos espíritas e até dirigentes nunca leram obras psicográficas de Chico Xavier, afeitos a modismos da literatura espírita e ao estudo por apostilas. Chico Xavier era muito simples e não aceitava incensamentos dos amigos e simpatizantes. Conheci-o pessoalmente e o visitamos com assiduidade durante mais de 20 anos nas ações da Comunhão Espírita Cristã e do Grupo Espírita da Prece, e no seu lar, em Uberaba. Temos muitos registros com ele. Quando completou 70 anos de mediunidade, o homenageamos escrevendo o livro Chico Xavier: O homem e a obra (editado pela USE-SP). Nesse livro e, principalmente, agora, entendemos que o mais importante será a valorização do estudo de sua obra. Por escolha do CFN da FEB coordenamos nacionalmente o “Projeto Centenário de Chico Xavier” e depois divulgamos efemérides ligadas a livros, como os 70 anos da publicação de Paulo e Estêvão. Durante nossa presidência na FEB estimulamos a ampla divulgação dos livros psicográficos de Chico Xavier, apoiamos a elaboração e o início da publicação da série Coleção O Evangelho por Emmanuel, e providenciamos um contrato de parceria da Editora CEU (de São Paulo) com FEB, para a edição dos títulos de Chico Xavier dessa tradicional casa editorial. Entendemos que o estudo dos livros deste médium devem ser realizados junto com os de Allan Kardec, aliás foi a proposta de Emmanuel nos livros em que homenageou o Centenário das obras de Kardec, a saber: Religião dos espíritos, Seara dos médiuns, Livro da esperança e Justiça divina.
9) Por que o Movimento Espírita Brasileiro, de modo geral, não dá à defesa da vida, em especial, à prevenção do aborto a mesma prioridade das demais áreas de sua atuação?
Cesar Perri – Desde a publicação dos opúsculos Em Defesa da Vida, pela FEB, durante a gestão do ex-presidente Nestor João Masotti, e de suas atuações – que acompanhamos – na origem do Movimento Nacional da Cidadania Em Defesa da Vida – Brasil sem Aborto (2006), verificamos que com o apoio do CFN da FEB, surgiram muitas ações em vários Estados. Em vários destes, as coordenações foram realizadas por lideranças espíritas locais. Desde o início dessa campanha tivemos participação ativa, com equipe de apoio, nos eventos que estimulam a defesa da vida. Chegamos a conseguir um artigo especial para a revista Reformador, de autoria de Eros Grau, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, contrário ao aborto e publicado em 2011. Nas reuniões do CFN da FEB e nas suas ações regionais foram divulgadas e estimulamos tais Campanhas. Houve boa repercussão e bons resultados, porém, reconhecemos que são ações mais recentes ao compararmos com atividades mais antigas dos centros espíritas e do movimento espírita.
10) Percebe-se, atualmente, um certo arrefecimento do vigor do movimento espírita no Brasil. Você concorda com essa percepção?
Cesar Perri – Talvez pudéssemos dizer que o movimento espírita – se considerarmos o movimento mais ligado ao trabalho federativo – não acompanha a expansão da base, ou seja, dos centros espíritas. Nas nossas viagens continuadas pelo interior constatamos este fato. Outro aspecto é a dimensão territorial de nosso país e seus Estados, quase um Continente, e as dificuldades financeiras para a mobilidade entre as cidades e entre os Estados. Por outro lado, acreditamos que há muito a ser realizado para a compreensão da união – como laço moral, solidário e espiritual –, o respeito à diversidade das situações e condições dos centros espíritas, e o conhecimento dessas realidades para o melhor atendimento e apoio às reais demandas das diversificadas instituições. Nas visitas a centros pequenos e com várias características, fortalecemos o ponto de vista de que o trabalho de união deve ser, constantemente, adequado às bases do movimento: os centros espíritas. Vale a pena a releitura e a reflexão de Allan Kardec, em assuntos correlatos, principalmente a 2ª. Parte de Obras póstumas.
11) Visando a melhoria das atividades do Movimento Espírita, sobretudo do ponto de vista da qualidade doutrinária, com a experiência de ter sido diretor, vice-presidente e presidente da FEB em um intervalo substancial de tempo, que estratégia o senhor considera que poderia ser mais eficiente por parte tanto dos confrades com maior influência em órgãos federativos e grandes centros espíritas como também dos confrades com atuação de menor repercussão em nível nacional? Nesse contexto, até que ponto a FEB observaria e seria sensível a tais esforços para ajustar suas próprias diretrizes?
Cesar Perri – Nossa sugestão é a ampla difusão das Obras Básicas de Kardec, a implementação da Campanha “Comece pelo Começo”, estimulando o estudo e a leitura direta nos livros, e procurando disponibilizar livros em formato e valor monetário compatível com a maior parcela da população brasileira, e que tem dificuldades financeiras. Cremos que é chegado o momento de se rever o processo de “escolarização” que se desenvolveu com a criação de cursos, ciclos, apostilas e exigências de pré-requisitos como faixas etárias padronizadas e de sequenciamento de frequência a cursos para a posterior integração nas atividades dos centros espíritas e do movimento espírita. Os dados do Censo realizados pelo IBGE nos anos 2000 e 2010 apontam para realidades que são preocupantes dos espíritas declarados, de faixa social e de faixa etária. É urgente a revisão dos processos para a integração da infância e dos jovens, e da família, nos centros espíritas. A nosso ver, as propostas de trabalho precisam ser adequadas às distintas realidades dos centros espíritas, lembrando que a maioria é simples e de pequeno porte. Esses assuntos já vinham sendo abordados por algumas Federativas Estaduais e estimulamos tais estudos no Conselho Federativo Nacional da FEB, mas enfrentando algumas resistências localizadas. Repetimos sempre que há necessidade de menos formalidades e mais espontaneidade e simplicidade nas atividades espíritas.
Estreitamos os laços com as Entidades Espíritas Especializadas de Âmbito Nacional e foi criado o Conselho Nacional delas, junto à FEB. Entendemos que o Conselho Federativo Nacional da FEB, integrado pelos presidentes das Entidades Federativas dos 26 Estados e do Distrito Federal e pelo presidente da FEB, têm uma responsabilidade muito grande no sentido de estimular o efetivo apoio, a adequação e a dinamização do movimento espírita de nosso país.
12) Na década de 1940 (antes do Pacto Áureo) líderes espíritas de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, entre outros, sonhavam com a criação de uma Confederação Espírita, qual a sua opinião sobre isso?
Cesar Perri – Nos anos 1940 e principalmente após a fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (1947) surgiram propostas de união e que deveriam ser discutidas com a FEB. A primeira psicografia de Chico Xavier sobre união e unificação foi assinada por Emmanuel – “Em nome do Evangelho” -, e dirigida aos participantes do 1o Congresso Nacional Espírita em São Paulo, promovido pela USE-São Paulo, em 1948. Essa mensagem, com o título acima, foi psicografada no dia 14 de setembro de 1948, em Pedro Leopoldo, MG (In: Orientação aos órgãos de unificação. FEB). Um grupo de lideranças espíritas do Sul e do Sudeste manteve contatos com o ex-presidente da FEB Wantuil de Freitas e, finalmente, foi assinado o “Pacto Áureo” (1949), criando-se o atual Conselho Federativo Nacional da FEB. Simultaneamente também surgiam ideias sobre uma Confederação. No ano de 1997, como presidente da USE-SP articulamos a elaboração de uma moção de união e solidariedade ao CFN da FEB, que contribuiu para se evitar o alastramento da proposta de Confederação, que crescia na oportunidade em função de polêmicas doutrinárias. A moção aprovada redundou no fortalecimento do CFN com a elaboração de novas propostas de atuação (Reformador, dezembro de 1997, p.360-1), as quais foram seguidas pelos ex-presidentes Juvanir, Masotti e por nós. Vários países adotam a organização de Confederação e o Conselho Espírita Internacional (CEI), no seu Estatuto vigente desde 2002, na prática se configura como uma confederação. No tocante ao trabalho de união e de unificação, entendemos que cabe às Entidades Federativas Estaduais, integrantes do CFN, definirem a organização e a ação federativa.
13) Suas considerações finais:
Cesar Perri – Com relação à tônica predominante das questões formuladas por vários companheiros entrevistadores, concluímos e sintetizamos, sugerindo aos leitores a reflexão sobre o último discurso de Allan Kardec, de novembro de 1868 (Revista Espírita, dezembro de 1868) – já citado anteriormente -, onde há colocações muito oportunas sobre a união dos espíritas: “Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade. […] O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente, moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas”.
Nota do Editor:
Publicação originalmente publicada em http://aluznamente.com.br/entrevista-com-antonio-cesar-perri-de-carvalho-ex-presidente-da-feb/ e encaminhada, gentilmente, por Jorge Hessen, para divulgação aos nossos leitores.
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Antonio Cesar Perri de Carvalho
Ex-presidente da Federação Espírita Brasileira (interino de 5/2012 a 3/2013 e efetivo de 3/2013 a 3/2015); membro da Comissão Executiva e Primeiro Secretário do Conselho Espírita Internacional; Membro do Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier.
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