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O pensamento de Augusto Comte e a Doutrina Espírita

janeiro 4, 2017

Augusto Comte, de nacionalidade francesa, foi o pai do Positivismo, corrente filosófica que busca explicar as leis do mundo social com critérios das ciências exatas e biológicas.

“A defesa do Positivismo é de que somente o conhecimento científico é verdadeiro, não se admitindo como verdades as afirmações ligadas ao sobrenatural, à divindade.

 As suas observações o levaram a definir três estágios pelos quais a sociedade tende a passar: o teológico, o metafísico e o positivo ou científico.

 Estágio teológico é aquele onde as explicações aos fenômenos até então desconhecidos são atribuídas à divindade, ao sobrenatural.

Metafísico é o estágio onde o ser humano procura explicar as coisas através de fenômenos naturais, ou seja, a natureza é autossuficiente para explicar as suas próprias manifestações.

Já o Positivo ou Científico, é o estágio onde as explicações, as verdades absolutas, advêm exclusivamente da ciência.” (1)

Na visão do grande pensador o transcendente seria desnecessário, porque “os estudos científicos terão plena prioridade sobre os estudos literários e a educação terá por objetivo principal promover o altruísmo e repreender o egoísmo.” (1)

Desconsiderava, portanto, as intervenções da espiritualidade junto aos homens, considerando-as frutos da ignorância em relação à Lei Natural e, por isso, o grande pensador não levou em conta a realidade espiritual e, menos ainda, suas relações com o mundo corporal.

Comte desencarnou em 1857, ano em que Allan Kardec lançou O Livro dos Espíritos, e este fora composto sob o mais absoluto rigor científico, portanto, nesse aspecto, essencialmente identificado com a filosofia Positivista na apresentação dos esclarecimentos transmitidos pelos Espíritos Superiores, e nele encontramos:

 “O que se deve entender por lei natural?
– A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem; ela lhe indica o que deve ou não fazer, e ele é infeliz somente quando se afasta dela.” (2)

E também:

 “Que objetivos abrangem as leis divinas? Elas se referem a outra coisa além da conduta moral?
– Todas as leis da natureza são leis divinas, uma vez que Deus é o criador de todas as coisas. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem estuda as da alma e as pratica.” (3)

“É permitido ao homem se aprofundar em ambas?
– Sim, mas uma única existência não basta.” (4)

Esta última resposta no remete ao desenvolvimento do Espírito ao longo de múltiplas reencarnações, tantas quanto forem necessárias para atingir a condição de Espírito Puro.

Utilizando o próprio pensamento filosófico de Comte, a Ciência necessariamente chegará, mais dia, menos dia,  ao Espírito imortal que  somos, e às leis que a Doutrina Espírita apresenta desde o advento de O Livro dos Espíritos.

No entanto, deverá ser respeitada a velocidade que o progresso, que  também está circunscrito à Lei Maior, apresenta:

“O aperfeiçoamento da humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta?
– Há o progresso regular e lento que resulta da força das coisas; mas quando um povo não avança rápido o suficiente a Providência provoca, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.” (5)

Sabemos hoje pelas vias do raciocínio lógico, e também pela revelação do Mundo Espiritual, que a Doutrina Espírita é o Consolador prometido por Nosso Senhor Jesus Cristo, e por isso seria o caso de perguntarmos, com Kardec:

“O Espiritismo será para todos ou permanecerá como privilégio de algumas pessoas?
Certamente, ele se tornará uma convicção íntima de todos e marcará uma nova era na história da humanidade, porque está na ordem natural das coisas, na natureza, e é chegado o tempo de ocupar o seu lugar entre os conhecimentos humanos. Entretanto, haverá grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção, porque não podemos desconhecer que há pessoas interessadas em combatê-lo, uns por amor-próprio, outros por interesses materiais. Mas os opositores, ao se encontrarem cada vez mais isolados, serão forçados a pensar como todo o mundo, sob pena de se tornarem ridículos.” (6)

Desenvolvendo o assunto:

“De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
– Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, e fazendo os homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais encoberta pela dúvida, fará o homem compreender melhor que pode, desde agora, no presente, preparar seu futuro. Ao destruir os preconceitos de seitas, de castas e de raças, ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos.” (7)

O século vinte e um tem mostrado que a natureza humana, embora envolta na materialidade, clama por espiritualidade, e que nunca faltou tanto ao Ser Humano o encontro consigo mesmo e com a Divindade. Conhecer-se como espírito imortal é condição ímpar para asserenar-se, e se estabelecer no caminho do progresso espiritual.

Há quase dois mil e quinhentos anos o filósofo grego Heráclito de Éfeso observou que:

“A todos os homens é permitido o conhecimento de si mesmos e o pensamento correto.”

Cabe a nós outros, portanto, o esforço consciente para alcançarmos o esclarecimento sobre a realidade a qual estamos inseridos, para acelerarmos o nosso próprio progresso moral, sem nos esquecermos de que este deverá ser retratado no esforço para socorrer os que conosco convivem, pelo gesto que se chama caridade.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

Referências:
(1) http://www.infoescola.com/educacao/auguste-comte-o-positivismo-e-a-escola/;
(2) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 614;
(3) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 617;
(4) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 617 a;
(5) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 783;
(6) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 798;
(7) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 799;
(8) http://www.culturabrasil.org/heraclito_de_efeso_logos.htm.

Os grifos são do autor do ensaio.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <http://alchetron.com/Auguste-Comte-1121417-W>. Acesso em: 04JAN2017.

Antônio Carlos Navarro
Antônio Carlos Navarro

Estudioso e palestrante espírita. Trabalhador do Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto - SP

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