Falando de liberdade

Rogério Miguez
19/02/2017
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No capítulo Consciência espírita, constante do livro Cartas e crônicas, (1) do Espírito Irmão X, o autor sabiamente adverte que a liberdade oferecida pela Doutrina aos seus seguidores deve ser observada com extremo cuidado, de modo que durante a vida o seu emprego não seja inapropriado, criando compromissos e resgates variados pelo mau uso deste apanágio das leis de Deus.

Segundo este mesmo texto, de que sugerimos a atenta leitura, tudo indica que a liberdade se torna um possível Calcanhar de Aquiles para todo espírita que acredita ser a liberdade, apregoada pela Doutrina, uma carta de alforria, para tudo ou nada fazer, tudo experimentar e, principalmente, tudo divulgar, sem considerar, nessa divulgação, se os livros, textos, mensagens, palestras e vídeos possuem teor efetivamente doutrinário, bastando que o conteúdo seja espiritualista para se justificar plenamente a disseminação.

É comum escutar adeptos defendendo o seu “direito” de tudo trazer para dentro dos nossos arraiais, afirmando categoricamente serem livres, podendo, portanto, agir na seara espírita da forma como melhor lhes convier. Doutrina Espírita é sinônimo de Liberdade, proclamam aos quatro grandes ventos, e se soubessem da existência dos ventos menores, certamente assim também se expressariam.

Mais ainda, alguns chegam mesmo ao disparate de divulgar pelos meios televisivos, entre outros, conversas ao vivo com supostos renomados Espíritos desencarnados, às vezes respondendo aos ouvintes perguntas de toda a ordem, equiparando-se a vulgares programas de auditório, banalizando o que deveria ser tratado com extrema responsabilidade, aumentando, desta forma, com a sua conduta irresponsável e com a prática descabida, suas faltas diante das Leis de Deus que, de modo algum, admitem impunidades.

Por outro lado, Chico Xavier, talvez o detentor da mais profícua mediunidade que existiu no século XX, quando indagado sobre possíveis consultas ou conversas ao vivo com Espíritos em futuros programas televisivos ou encontros espíritas, humildemente informava que ele estaria à disposição como médium, mas não poderia garantir que Espírito algum também comparecesse, oferecendo mensagens ou orientações. O sábio Chico tinha conhecimento de que ninguém comanda, tampouco obriga, Espíritos realmente esclarecidos e, portanto, ocupadíssimos com atividades sérias e relevantes no plano espiritual, a comparecer aqui ou ali, ainda mais em palcos frívolos, sob a supervisão de pseudoentendidos em Doutrina Espírita.

Veja-se que diferença de conduta, entre os primeiros e o segundo, agravada pelo fato de que a atitude daqueles está respaldada em falsos direitos. Estejamos sempre cientes de que não é possível praticar inconveniências e permanecer incólumes.

Liberdade para aqueles, pode ser resumida assim: sou um Espírito imortal, criado por Deus, tenho inteligência e livre arbítrio, sou senhor do meu destino, não devo explicações a ninguém, sou um livre-pensador, não tenho peias, nada me controla, sigo para onde desejo e quero, ao sabor único das minhas próprias inclinações e aspirações. Não percebem, todavia, que estão cativos da própria ignorância.

Há aqueles que chegam mesmo a criticar o livro Conduta espírita, de André Luiz, alegando: quem é este que fala em condutas e normas, quando o Espiritismo é Doutrina de absoluta liberdade? quem Quem é livre não segue condutas, traça o seu próprio caminho! – exclamam.

Diante de tantas aberrações, com pesar, só podemos nos expressar desta forma: Espiritismo, ainda um ilustre desconhecido!

A veneranda Joanna de Ângelis, a quem devemos imensa gratidão e respeito pela sua dedicação milenar à humanidade, escreveu em Leis morais da vida:(2)

Intrinsecamente livre, criado para a vida feliz, o homem traz, no entanto, ínsitos na própria consciência os limites da sua liberdade.

Observe-se que a consciência permanece livre, mas a liberdade de ação possui limites. Fato este confirmado anteriormente por Allan Kardec em O livro dos espíritos:(3)

 Haverá no homem alguma coisa que escape a todo constrangimento e pela qual goze ele de absoluta liberdade?

“No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe peias. Pode-se-lhe deter o voo, porém, não aniquilá-lo.”

Pela resposta conclui-se que apenas no pensamento pode existir a liberdade absoluta, visto que foi a única possibilidade elencada pelos Espíritos.

Mais adiante Joanna de Ângelis acrescenta: “Liberdade legítima decorre da legítima responsabilidade, não podendo aquela triunfar sem esta”,2 afirmando que liberdade e responsabilidade caminham lado a lado, e assevera:

A toda criatura é concedida a liberdade de pensar, falar e agir, desde que essa concessão subentenda o respeito aos direitos semelhantes do próximo.(2)

Neste trecho, elucida que o limite no exercício de nossa liberdade aparece quando se alcança o limiar do direito alheio. Consoante mais uma vez com Allan Kardec, quando registrou em O livro dos espíritos:(4)

Haverá no mundo posições em que o homem possa jactar-se de gozar de absoluta liberdade?
“Não, porque todos precisais uns dos outros, assim os pequenos como os grandes.”        

Como de modo geral não vivemos a condição de eremitas, só podemos concluir que estamos ainda prisioneiros das convenções, costumes e obrigações sociais.

E ao final Joanna oferta-nos esta pérola de ensino que é traço peculiar àqueles Espíritos que já entendem as diversas nuances da vida:
Livre o homem se tornará, somente, após romper as férreas algemas que o agrilhoam aos fortins das paixões.(2)

Estaria a Terra, liberta das paixões, ou estas ainda seriam características dominantes em nossa insipiente civilização?

As brumas do tempo ainda deverão rolar longamente, antes que possamos nos aventurar, afirmando que somos absolutamente livres, mas certo é que esta hora chegará, na razão direta dos nossos esforços em conhecer e praticar as Leis de Deus, como o deseja nosso Pai amantíssimo.

Enquanto aguardamos pacientemente esta tão esperada hora, mas trabalhando com afinco e empenho no limite de nossas forças, não deixemos que a falsa noção de liberdade, que nasce do nosso orgulho e vaidade, nos traia e determine, em futuro próximo, a chegada do tão indesejado choro e ranger de dentes em nossa existência.

Antes de tudo, sejamos honestos e exercitemos o bom senso, pois ainda somos prisioneiros: de muitas armadilhas criadas por nós mesmos; de nossas limitações de entendimento e ignorância espiritual, que ainda nos encarceram; de nossa visão obtusa do que seja ser espírita e que nos prende igualmente em muitos descaminhos.

Entretanto, nada nos impede de expressarmos esta nossa parcial liberdade sendo leais aos princípios que esposamos, quais sejam os princípios espíritas, agindo não do modo que nos apraz, satisfazendo assim plenamente o nosso desmedido ego, mas realizando o que se espera de nós como espíritas que aspiramos ser.

Do pouco que vimos, poderíamos concluir que:

  1. todos aqueles que se julgarem a margem da civilização, vivendo como eremitas urbanos, agindo desta maneira sem limites em suas ações;
  2. todos aqueles que se considerem absolutamente responsáveis;
  3. todos aqueles que tenham perfeito conhecimento dos direitos do próximo;
  4. todos aqueles que não sejam escravos de suas próprias paixões…

podem com certeza e inquestionável direito proclamar a todos os ventos: SOU LIVRE!

Rogério Miguez

Referências:
(1) XAVIER, Francisco Cândido. Cartas e Crônicas. Ditado pelo Espírito Irmão X. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1979. Cap. 7;
(2)FRANCO, Divaldo Pereira. Leis Morais da Vida. 2. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita “Alvorada” – Editora, 1977. cap. X. Mensagem 49;
(3) KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. cap. X, q.833; e
(4) ______, ______, cap. X. q. 825.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <http://www.staje.org/passover-whats-your-freedom/>. Acesso em: 19FEV2017.

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