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Honestos aos olhos de Deus

abril 6, 2017

Aprendemos com a Doutrina Espírita que ninguém regride a estágios inferiores de evolução. O princípio da metempsicose, segundo o qual o homem pode reencarnar como animal ou vegetal, é mera fantasia. Isso jamais acontece, embora devamos reconhecer que muita gente bem merecesse renascer, digamos, como urubu, gorila ou cascavel, por comportamento compatível.

Há quem conteste, mostrando vários exemplos que evidenciam um retrocesso evolutivo: o homem honesto que entra para a política e desanda a roubar, algo “raro” no Brasil; a mulher casada, virtuosa e dedicada aos filhos, que foge com o vizinho; o homem pacato e educado que, em face de um desentendimento, agride violentamente alguém que homenageou a senhora sua mãe, atribuindo-lhe aquela profissão pouco recomendável.

Na verdade, nesses casos não houve uma regressão. Foi apenas uma revelação. Revelaram todos que debaixo do verniz da virtude havia um Espírito imaturo, com indesejáveis tendências a superar.

Há um aspecto importante. Ninguém retrograda, ninguém engata marcha a ré, mas no atual estágio terrestre há multidões estacionárias, formadas por indivíduos literalmente parados no tempo, a marcar passo no caminho da evolução.

Isso ocorre principalmente depois dos sessenta anos, quando, com uma situação estável, subsistência garantida pela aposentadoria ou pelo patrimônio amoedado, o indivíduo acomoda-se. Desiste de aprender, de refletir, permitindo uma coexistência pacífica entre seus vícios e virtudes.

Por isso Deus nos dá uma existência biológica relativamente curta, de oitenta a cem anos, porquanto, acomodado, o Espírito encarnado poderia permanecer indefinidamente estacionário, ao longo de séculos. A morte é um tremendo choque de despertamento para os dorminhocos, reservando-lhes penosas surpresas.

A mitologia das religiões fala de infernos e purgatórios, locais de tormentos, onde estagiam as almas comprometidas com o erro, o crime, o vício…

O Espiritismo confirma essa realidade, mas nos fala, também, de algo que devemos ponderar. Há nessas regiões de tormentos muitos Espíritos que praticaram o mal na jornada humana, mas há, também, aqueles que fizeram muito mal a si mesmos, por entregarem-se ao acomodamento, sem cogitarem das finalidades da reencarnação.

Estiveram preocupados apenas com o imediatismo da vida terrestre, com a aquisição de bens materiais, cultivando prazeres, sem cogitar da responsabilidade de viver, sem se preparar para o retorno à vida espiritual.

Em reuniões mediúnicas, deparamo-nos amiúde com Espíritos em tal situação. Manifestam-se perturbados, aflitos, inconscientes de sua condição de desencarnados, já que todas as suas impressões, desejos e aspirações estão voltados para a vida material.

Em O Céu e o Inferno, Allan Kardec transcreve várias comunicações de entidades que sofrem no Além as consequências desse comportamento.

Há exemplar comunicação de um Espírito que, dirigindo-se à sua neta, disse que sofria por não ter empregado bem o tempo na Terra. A neta estranhou:

Como não o empregou? O senhor não viveu sempre honestamente?

A resposta e algumas de suas considerações deveriam estar inscritos num quadro para lermos todos os dias. Para não me alongar, transcrevo apenas sua observação inicial:

– Sim, no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus.

Honestidade perante os homens é pagar as contas em dia, não lesar ninguém, não emitir cheque sem fundos, cumprir as obrigações sociais, honrar compromissos profissionais.

Mas, para sermos honestos diante de Deus, é preciso muito mais: é imperioso cumprir os propósitos da existência humana, aproveitando as oportunidades de edificação com o empenho incessante de aprender sempre, aprimorando o cérebro a caminho da sabedoria, e trabalhar sempre o sentimento, aprimorando o coração, a caminho do amor.

Richard Simonetti

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em
< http://www.overcomebooks.com/2015/01/01/happy-new-year/>. Acesso em: 06ABR2017.

Richard Simonetti IN MEMORIAM
Richard Simonetti IN MEMORIAM

Richard Simonetti é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935 e Desencarnou em 03 de Outubro de 2018. De família espírita, participou do movimento desde os verdes anos, integrado no Centro Espírita Amor e Caridade, onde desenvolveu largo trabalho no campo doutrinário e filantrópico. Orador e Escritor espírita, teve mais de cinquenta obras publicadas.

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