A maior de todas as guerras

Márcio Costa
08/04/2017
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Joseph Midard era um soldado argelino que lutava a serviço do Exército Francês contra os austríacos durante a segunda guerra de independência da Itália, próximo à cidade de Magenta, em 04 de junho 1859.

Naquela época, as lutas ainda eram travadas por meio do corpo a corpo, no desfilar das espadas, ou ainda por meio do estrondoso e mortal emprego de armas de fogo.

Enquanto que lutava, “maltratando os cães” do exército inimigo, como ele mesmo descreve, Midard foi atingido por um tiro disparado contra ele e desencarna em meio ao combate.

Sem se dar conta do que havia ocorrido, o soldado continuou sua empreiteira contra os inimigos que estavam à sua frente, junto com outros espíritos que também continuavam em luta acreditando estar ainda encarnados.

Sentindo-se mais leve e atordoado, começou a perceber que não contava mais da fileira dos vivos. No entanto, a dinâmica do cenário à sua volta não lhe deixava acreditar que havia desencarnado.

Cerca de seis dias depois atendeu a uma evocação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas onde informou que se sentia muito bem em sua nova condição. Contudo, ainda se mantinha preso à lembrança da mãe doente e sofredora que ainda chorava por ele. Segundo Midard, em meio à batalha não pensava no que poderia ocorrer com ele. Mas sim, no que seria de sua mãe. (1)

 *     *     *

A guerra ainda é um dos piores flagelos destruidores dos quais o homem é o grande responsável.

Mudando o formato no decorrer dos séculos, conforme os recursos tecnológicos e estratégias meticulosamente elaboradas para matar, os combates ainda se mantêm em diversas partes do mundo, levando ao desencarne súbito uma multidão de espíritos.

Envolvidos no cenário de destruição, muitos nem percebem que cruzaram a fronteira da morte e ainda continuam suas lutas em prol de causas motivadas pelo orgulho e pelos valores materiais pelos quais ergueram seus punhos ainda em vida.

Deus, em toda sua infinita bondade, permite que tais mazelas ocorram objetivando a liberdade e o progresso dos povos. Embora muitos sofram em tais conflitos, durante este período expiatório a sensibilização pelo próximo contribui para a regeneração moral dos espíritos e o desencarne decorrente nos leva a subir mais um degrau na escala do aperfeiçoamento.

Para a grande maioria que permanece na paz de seus lares, de suas cidades, longe dos centros de conflito, a guerra parece distante, mesmo nos chocando com as suas dolorosas imagens beligerantes. Todavia ela está mais próxima do que imaginamos.

Se ainda há guerras é porque nosso plano terrestre de expiação e provas ainda não alcançou condições morais capazes de entender a justiça e praticar as leis Divinas do amor e da caridade.

Logo, faz-se necessário que busquemos finalizar a cada dia as guerras internas que temos em nossos mais íntimos pensamentos. Entre o amor que praticamos e o ódio que cultivamos; entre caridade que fazemos e o orgulho que ainda mantemos; entre o compartilhar e acolher o próximo contra a vaidade que nos isola.

Se cada um de nós vencermos neste campo de batalha, consolidando o Evangelho do Cristo em nossa prática diária, estaremos contribuindo para um mundo melhor em um amanhã sem guerras. (2)

Márcio Martins da Silva Costa

Referências:
(1) Kardec, Allan. Revista Espírita. “Conversas Familiares de Além-Túmulo”, julho de 1859;
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 541 a 548 e 737 a 745.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Zuavo>.
Acesso em: 28MAR2017.

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