Ainda que com dificuldades, a melhor opção é viver

Márcio Costa
26/05/2017
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Era manhã de sábado e diversos grupos foram distribuídos pelas ruas da cidade para realizarem mais uma campanha contra o aborto. Munidos com bandeiras, folhetos e sorrisos nos rostos, as equipes distribuíam mensagens esclarecedoras e orientavam aqueles que buscavam algum apoio sobre o tema.

Certo momento, um dos grupos foi surpreendido por uma senhora que começou a gritar e a gesticular ofensivamente ao se aproximar deles:

– Vocês estão defendendo a vida? Antes minha mãe tivesse me abortado ao invés de abandonar eu e meus irmãos em uma vida de misérias! Uma desgraça!

A idade avançada contrastava com a velocidade de seus passos. Passou rápida pelo grupo e parecia querer chegar até os demais o mais rápido possível. Félix, um dos trabalhadores que estavam naquela equipe, foi atrás dela:

– Por que tanta animosidade diante deste trabalho? Poderíamos conversar por alguns minutos? Gostaria muito de ouvir a senhora.

Sentindo-se acolhida por meio daquela intervenção e percebendo a sinceridade de alguém ao dizer que realmente queria ouvi-la, desatou a falar:

– Eu e meus irmãos fomos largados no mundo. Alguns viraram bandidos e eu sofro até hoje pela dor de ter sido abandonada pela minha mãe. Se eu tivesse sido abortada nada disso teria acontecido…

– A senhora é mãe? – perguntou Félix.

– Já sou até avó, meu filho! Graças a Deus, cuido de meus filhos e netos com muito amor e eles me trazem a alegria que eu nunca tive na infância.

A partir desta colocação, Félix buscou nas palavras dela todos os momentos felizes que viveu, todos os ensinamentos e aprendizados, todas as oportunidades que lhe trouxeram júbilo e conforto à alma.

Com os olhos perdidos no passado, ela começou a voltar no tempo e descrever cada um daqueles momentos. Ainda na mocidade conheceu um novo pai que lhe acolheu com amor e respeito. Estudou, formou-se e conheceu o seu falecido esposo, a quem guardava boas e saudosas lembranças. Anos depois teve filhas que lhe trouxeram maravilhosos netos. Tantas emoções em poucos minutos tornaram a exaltação e o ódio anterior em tranquilidade e paz. Não tardou a perceber que na balança da vida havia se esquecido de pesar as boas experiências em contrapartida as dores do abandono materno.

Félix e a senhora conversaram por vários minutos. E quando ela já havia decidido seguir a sua caminhada, lembrou-se comovida:

– Anos atrás eu vi uma moça morrer por conta de um aborto… Foi a pior coisa que eu passei na vida. Que ninguém passe por esta terrível experiência!

*     *     *

Quando Kardec pergunta aos Espíritos se é crime a provocação do aborto, a resposta é taxativa: há crime sempre que transgredis a lei de Deus. (1)

Abortar um bebê que já se forma no ventre é nulificar uma existência programada antes do berço para beneficiar a evolução do espírito.

Quando criança, grande parte de nós deseja adentrar na escola, receber novos instrumentos, os primeiros cadernos, os primeiros livros, conhecer novos amigos, aprender e brincar.

Assim também o é para os espíritos. Precisamos ingressar na escola da vida para evoluir, para conviver com os irmãos com os quais ainda precisamos aprender a compartilhar o amor e a caridade de forma a buscar a felicidade interior. O corpo é o instrumento que recebemos nesta escola, o qual nos faculta os recursos necessários para desempenhar as tarefas pelas quais nos comprometemos a realizar antes do berço.

Abortar, em outras palavras, é negar a oportunidade concedida por Deus a um irmão, com o qual possivelmente possuímos laços de outras encarnações, a estagiar nos planos da vida em prol da evolução de ambas as partes. Logo, a ideia de que somente o feto sofre as consequências é um ledo engano. Não existe o acaso nos planejamentos da Providência Divina.

A vida é o maior presente dado por Deus a todos nós. É a prova sublime da perfeição Divina interagindo conosco em todos os instantes com o objetivo de nos levar a perfeição. Que façamos jus a este amor imensurável, buscando aprender, praticando o amor para com próximo e defendendo o maravilhoso dom da vida.

Márcio Martins da Silva Costa.

 

Referência:
(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Cap VII, itens 344 a 360.

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em <http://www.newsparaiba.com.br/2017/05/campanha-em-defesa-da-vida-brasil-tem.html>. Acesso em: 26MAI2017.

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